Análise, Cesar Felício, Valor - Ao falar em Ku Klux Klan, Lula faz jogada de altíssimo risco

Manifestação contraria uma regra de manual de marketing político e outros candidatos a presidente que fizeram isso antes se deram muito mal.

Não se critica o eleitor, se critica o candidato. A fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira (08) de noite em Nova Iguaçu, comparando os atos bolsonarista de 7 de Setembro com uma manifestação da Ku Klux Klan, contraria uma regra de manual de marketing político. Outros candidatos a presidente que fizeram isso antes se deram muito mal.

Em 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, ao comentar as manifestações getulistas, disse não precisar do voto "daquela malta". A declaração foi devidamente distorcida pela campanha do adversário Eurico Dutra e produziu enorme desgaste político ao candidato da UDN.

Bolsonaro teve perto de 50 milhões de votos em 2018. Dificilmente Lula ganhará as eleições se não conseguir cativar pelo menos uma franja desses eleitores. Se todos os bolsonaristas em 2018 votarem de novo no presidente, é bem provável que Bolsonaro vença. Lula até certo ponto depende, portanto, de um eleitor que em algum momento da vida considerou Bolsonaro a melhor opção para o Brasil.

Tome-se por exemplo São Paulo: há quatro anos Fernando Haddad, do PT, teve três vezes menos voto do que Bolsonaro no Estado. Hoje, Lula e Bolsonaro estão empatados no Estado, tomando por base a pesquisa mais amigável ao presidente. São Paulo é 22% do eleitorado nacional. É o Sudeste que está definindo a eleição de 2022 e, dentro do Sudeste, o conservadorismo. Ofender os eleitores bolsonaristas é dizer que não precisa deles. Uma tática muito arriscada.

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