Vem se
tornando um hábito para Lideranças do PT, desde a presidente Dilma, passando por
Lula, pelo presidente do partido Rui Falcãoe por lideranças sindicais, fazer ameaças
aos adversários -cada vez mais vistos como inimigos e a dinâmica politica que
os separa cada vez mais vista como “guerra”.
Por inimigos entendam-se então aqueles que defendem o
impeachment da presidente, ou que se oponham à corrupção que grassa no governo
ou ainda, quem defenda e apoie a operação Lava Jato e apoie o juiz Sérgio Moro
que, embora não se saiba ainda se joga futebol (reserva inesgotável de heróis
brasileiros), é o único herói que esta histórica crise revelou.
Lula deu o
start desse modismo despropositado, irrealista e irresponsável. Por certo está
inconformado com o fato de que pessoas que vestem verde e amarelo,nas
manifestações das capitais dos estados e das cidades do interior, no “sul
maravilha” como no norte e nordeste, ocupam as ruas em números muito acima do
que aquelas que o PT convoca para suas manifestações.
Inconformado
também deve estar com seus resultados nas pesquisas de opinião e nas “pesquisas
feitas pelo político”: a reação nas ruas à sua presença, e a de seus companheiros.
Na
impossibilidade de reconhecer a realidade e o significado dos números, Lula e
seus subordinados atacam, ridicularizam e ameaçam os eleitores (muitos dos
quais votaram nele e em Dilma) como ‘coxinhas’, ‘golpistas’, ‘reacionários’,
‘militaristas’, e classe média (que, até vir para a rua protestar, era o objeto
de desejo dos programas do governo petista).
A dinâmica
entrópica da perda da aceitação do PT e seus líderes pelo povo que estavam
acostumados de manipular, imediatamente visível após a eleição de 2014,
estimulou um sentimento misto de ressentimento com os “mal agradecidos”; de
direito de exigir deles a contrapartida do que veem como “favores” concedidos;
e a disposição de recorrer a formas mais arriscadas e radicais de reação.
Passado o
momento de negociar cargos com o PMDB, equiparar a imagem negativa de Eduardo
Cunha com o impeachment, e com as denúncias de Delcídio, a gravação de
Mercadante, tornava-se necessário um lance mais poderoso.
O episódio da condução coercitiva de Lula pela operação
Lava Jato, do seu pedido de prisão por parte do Ministério Público de São Paulo
e a decisão do Supremo sobre o processo de impeachment impôs a presença de Lula
no Palácio e no poder, uma solução que parecia ser mutuamente vantajosa para
ele e para o governo.
Na medida em
que a grande jogada estratégica (nomeação de Lula para ministro) “engasgou”,
provocou reações hostis inesperadas e que o impeachment da presidente começou a
andar, o desespero parece ter aconselhado avançar mais um grau no conflito: o
recurso ao expediente das ameaças.
Neste momento
o que toma vulto não é mais a considerável habilidade política de Lula para
negociar. O próprio Lula parece ter reconhecido esta situação quando inaugurou
a fase de “ganhar no grito”.
Ao convocar
para a guerra suas tropas e ao gritar na Paulista deboches e impropérios ao
povo, que enchera aquela mesma avenida menos de uma semana atrás, o próprio
Lula dá a entender que desistiu de conquistar o povo para falar para os
devotos, os militantes, os que permanecem empregados em meio a um mar de
desempregos.
Mas no grito não vai não.
O país está
lidando com esta que é a mais grave crise que tivemos com suas instituições
(mesmo sabendo de suas falhas, defeitos, vícios e imperfeições); as
manifestações são pacíficas e não se transformam em surtos de ação direta;
mesmo as que reúnem milhões de pessoas saem das ruas sem quebrar uma lâmpada;as
forças armadas, sujeitas à constituição, com a serenidade e legitimidade que o
respeito popular lhes confere pelas pesquisas, mantêm-se distantes das divisões
políticas do país; o mercado passa sinais claros para a sociedade na medida em
que os fatos políticos se sucedem; eas decisões que deverão dar uma resposta à
crise provirão das principais instituições políticas do legislativo e do
judiciário.
O povo brasileiro está demonstrando possuir um senso de
equilíbrio, paciência e tolerância que talvez venha a antecipar um importante
traço de maturidade política que não se supunha que possuíssemos.