O que fazer, afinal, para salvar a indústria diante da
tendência à valorização do real (baixa do dólar) no câmbio interno?
Nem
mesmo a crise profunda em que se meteu a economia vem conseguindo eliminar a
propensão à baixa do dólar. Basta uma melhora na economia para que as cotações
deslizem. É uma situação que reduz a capacidade da indústria de competir com o
produto importado, traz insegurança e, assim, tende a provocar sua
desidratação.
Em boa parte, essa tendência à baixa do dólar é
consequência da nunca vista abundância de moeda estrangeira nos mercados,
situação que, mais cedo ou mais tarde, deve ser revertida pela atuação dos
grandes bancos centrais.
Para quem aceita a tese de que o problema central são as
receitas muito altas com matérias-primas (doença holandesa), como é o caso do
professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, a melhor maneira de devolver
competitividade à indústria seria instituir o confisco (Imposto de Exportação)
nas exportações de commodities e usar os recursos assim arrecadados para
programas de reequipamento do setor. Mas esta seria medida contraproducente por
várias razões: porque é altamente duvidoso o diagnóstico da doença holandesa,
como a Coluna dessa quinta-feiraargumentou; porque desestimularia a
produção agropecuária e a mineração; e porque não atacaria o problema
principal.
O problema principal é a baixíssima competitividade da
indústria. Não é a excessiva valorização do real que sabota, que tira o chão da
indústria; apenas acentua a situação. O setor enfrenta o elevado custo
Brasil, um conjunto de problemas estruturais graves: excessiva carga
tributária, infraestrutura ruim e cara, obsolescência de seu estoque de
máquinas e equipamentos, um sistema de leis trabalhistas confuso e
imprevisível, burocracia em excesso e a falta de acordos comerciais que
garantam preferência ao produto industrial brasileiro.
As condições adversas da indústria são tais que apenas um
câmbio fortemente desvalorizado seria capaz de lhe dar competitividade. Essa
hipótese é de probabilidade insustentável, porque o País não pode ter um câmbio
feito sob medida apenas para a indústria.
Ainda que tenda a atrair mais dólares, é a melhora dos
fundamentos da economia a principal condição para fortificar a indústria.
Contas públicas em ordem, contas externas equilibradas e inflação na meta são
fatores que garantem previsibilidade para os negócios e confiança em alta. É
canteiro propício para os investimentos no setor produtivo e aumento do
emprego. Para isso, não basta o bom trabalho de bombeiro; é preciso garantir
reformas estruturais: da Previdência, do sistema tributário, das leis
trabalhistas, das regras da política... e por aí vai.
É um grave equívoco achar que a indústria tem de ser
fortificada com aumento artificial do consumo interno, com desonerações
improvisadas, com créditos subsidiados seletivos, como os oferecidos pelo
BNDES, e pelas demais invenções proporcionadas pela Nova Matriz Macroeconômica
inventada pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega.
A melhor política industrial consiste em proporcionar
crescimento econômico sustentável e uma política comercial ativa que garanta
mercado externo para o produto brasileiro. Mas o governo Dilma não entende
assim.