A partir de sexta-feira, o país será governado por um novo presidente, Michel Temer.
De acordo com suas declarações mais recentes, amplamente divulgadas pela mídia, Temer possui uma inclinação mais pró-mercado que Dilma.
Isso implica uma maior rejeição da intervenção do governo no setor privado, ampla agenda de concessões de infraestrutura, alianças comerciais com grandes centros como EUA, Europa e Ásia e um fortalecimento das agências reguladoras. O Estado passará a ter um papel de indutor do crescimento, e não mais planejar, organizar e determinar a alocação de recursos da economia.
Os principais objetivos do governo Temer estão elencados no documento intitulado "Ponte para o futuro", publicado pelo instituto Ulysses Guimarães. Destaque para um novo planejamento orçamentário, simplificação tributária, além de uma reforma profunda na previdência, principal fonte de déficits do setor público.
Os primeiros passos em relação aos novos ministros talvez tenham decepcionado um pouco alguns setores, mas no que diz respeito à economia, não há do que reclamar.
Henrique Meirelles compreende que um forte ajuste fiscal, que passa por uma maior flexibilização orçamentária, redução drástica dos gastos e um saneamento da previdência são condições necessárias, mas não suficientes, para o país voltar aos trilhos.
A capacidade de fazer bons diagnósticos não significa que estamos prestes a entrar em uma nova fase de ouro da economia brasileira. Os temas a serem debatidos na sociedade são muito delicados. Interesses de grupos bem organizados devem ser questionados e temos um pouco de ceticismo de um governo que inicia um trabalho em um ambiente político tão conturbado. Nos últimos anos, o Congresso deu demonstrações de que fisiologismo é o nome do jogo. Não há uma agenda de interesse nacional, há fatores a serem negociados. Com tamanha fragilidade política, uma agenda ambiciosa raramente tem um futuro promissor.
Dessa forma, acreditamos que o governo Temer conseguirá avançar em muitos tópicos que dependem menos do Congresso, como abertura da economia, alianças comerciais mais vantajosas, concessões de aeroportos, rodovias, portos, avaliações de custo-benefício mais criteriosas sobre os programas sociais. No que tange ao Congresso, alguns avanços são possíveis, como teto para a taxa de crescimento dos gastos públicos, limitado ao crescimento do PIB e autonomia do Banco Central. Seriam avanços inegáveis, mas insuficientes para arrumar a casa.
Em resumo, passamos por um forte furacão, nossa casa foi destruída. O governo Temer vai limpar a lama, fazer a faxina, mas dificilmente conseguirá reerguer os pilares que foram destruídos pelo vento. Portanto, posso dizer que meu sentimento é de um otimismo cauteloso. Se Michel Temer conseguir preparar o terreno para que um novo presidente, eleito pelo povo, politicamente forte, toque a agenda ideal, já estará marcado positivamente na nossa história.