Lirio Parisotto é um dos homens mais ricos do mundo, segundo a Forbes
Por: Nilson Mariano & Simone Kafruni, RBS
Ele atravessa os oceanos num jato Gulfstream avaliado em
quase R$ 100 milhões, mas já andou no lombo de uma égua baixota carregando uma
saca de milho para moer no moinho colonial. Aprecia beber uma Dom Perignon de
R$ 800 a garrafa, mas gosta mesmo é da polenta brustolada preparada pela
mãe.
Priva com ex-presidentes da República, mas não esquece de
quando capinava roças de feijão com a enxada. Passeia em Nova York, mas o
umbigo está na bucólica Nova Bassano, na Serra gaúcha, de apenas 8,6 mil
moradores.
Assim é o estilo do gaúcho Lirio Albino Parisotto, 58
anos, o 601º homem mais rico do mundo segundo o ranking da Forbes, dono de uma
fortuna de US$ 2,4 bilhões. Empreendedor desde criança, quando vendia palha
para fechar cigarros de fumo crioulo, é um multiempresário de extremos. Tanto
pode calçar legítimos sapatos italianos quanto andar descalço numa plantação de
mandioca. Vai da boleia da carroça ao volante de um Porsche Cayenne com a mesma
naturalidade.
De tanto ousar entre extremos, Lirio Parisotto conquistou
o topo. Aos 18 anos, quando perdeu um Fusca ao apostar em ações, não se
desesperou. Mais tarde, já próspero, aplicou milhões na Bolsa, em lances que
fariam recuar o mais destemido dos empresários. Foi sem medo do fracasso que se
tornou um megainvestidor internacional.
Lirio volta regularmente ao ninho de Nova Bassano, talvez
para retemperar as energias, mas hoje cultiva hábitos chiques _ impensáveis
para quem já vestiu camisas feitas com tecido de saca de açúcar. Combina
jantares com o casal de atores globais e ecoativistas Bruna Lombardi e Carlos
Alberto Ricceli.
Degusta vinhos nobres com José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho, o Boni. Viaja, e muito, nos jatinhos de largas poltronas de couro.
Quando está no Brasil, acomoda-se no apartamento de quatro suítes que tem em
Manaus. Desfruta a vista do mar no Costão do Santinho, em Florianópolis. Tem
outro domicílio em São Paulo.
Mas como definir essa personalidade ao mesmo tempo
simples e sofisticada? Amiga de longa data, a psiquiatra Anne Marie o qualifica
de "expansivo e otimista", mas também irritável e impulsivo. Enfim,
alguém que se submete sempre ao clamor dos instintos.
— Ele é do tipo que entende o mundo de forma racional e
ordenada. Extremamente inteligente para conseguir os objetivos, é também
extremamente sedutor quando quer — avalia a doutora.
Como é a vida do bilionário
No pátio do hangar de voos executivos do Aeroporto de
Congonhas em São Paulo, os preparativos do jato Cessna Sovereign frustram um
dos três donos da aeronave, que em breve iria partir para Manaus levando o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e outras autoridades para o Fórum Amazonas
Sustentável. Não é para menos.
Lirio Albino Parisotto, 58 anos, o 601º homem mais rico
do mundo na lista da Revista Forbes, com uma fortuna avaliada em US$ 2,4
bilhões, esperava poder levar o ex-presidente no seu mais novo brinquedo. Um
recém-comprado jato Gulfstream, que custa mais de US$ 50 milhões, sem impostos,
tem autonomia para voos longos, acomoda 14 pessoas e viaja quase na velocidade
do som. Numa conversa com o comandante Wilson Caprio, que pilota para o
empresário há sete anos, Lirio ri.
— A Anac não liberou o avião novo — explica o
comandante, acostumado a levar passageiros como o ex-presidente dos Estados
Unidos Al Gore de carona nos jatos de Lirio Parisotto.
— Os passageiros são sempre de alto nível. Isso é uma
grande responsabilidade para mim. Mas é muito tranquilo pilotar para o senhor
Lirio. Ele é especial, muito amigo, muito família. Uma pessoa engraçada, sempre
de bem com a vida. E entende de aviões — conta.
Voar alto sempre foi o objetivo desse gaúcho, filho de
agricultores descendentes de italianos, que nasceu no dia 18 de novembro de
1953, a 10 quilômetros da cidade de Nova Bassano, próxima a Caxias do Sul, numa
casa sem luz elétrica, na qual a produção agrícola era basicamente de
subsistência para o casal e os 11 filhos.
— Ele sempre disse que queria ser alguma coisa na
vida. Desde pequeno batalhava muito. E saiu de casa cedo, aos 13 anos foi para
um seminário. Depois, foi expulso e não explica por quê. Estudou medicina, se
formou, abriu um negócio pequeno que hoje é uma grande empresa, na qual eu sou
gerente de engenharia — diz Eloi Parisotto, um dos 10 irmãos.
— O único caso de nepotismo na Videolar —
brinca Lirio, ao apresentar o irmão mais novo.
A empresa, hoje um conglomerado de quatro indústrias
petroquímicas que produzem CDs, DVDs, discos Blu-Ray e flash drives na zona
franca de Manaus, e que logo deve inaugurar uma nova unidade de Bopp (película
de polipropileno biorientada ou filmes plásticos de embalagem), com
investimento de R$ 500 milhões, além de uma unidade em São Paulo, começou como
uma pequena videolocadora em Caxias do Sul.
O mascate virou empresário
Ao deixar o seminário, por ser "anarquista",
como gosta de dizer, Lirio foi estudar medicina em Brasília. Fazia de tudo para
ganhar dinheiro naquela época, início dos anos 1970. Mascateava carros,
toca-fitas, relógios, fazia declarações de Imposto de Renda, tudo para pagar os
estudos e os livros. Quando um amigo, dono de uma instaladora de som em carros,
a Audiolar, passou por dificuldades financeiras, ofereceu a empresa a Lirio,
que tocou o negócio em Caxias do Sul, com um sócio. A empresa cresceu, virou
Videolar em 1988 e hoje fatura US$ 1,4 bilhão por ano e emprega dois mil
funcionários.
— Lirio é uma pessoa com bastante energia. Está sempre
bem informado, por isso cobra resultados. Como construiu tudo do nada, passa
para nós esse desafio constante — conta o diretor industrial da Videolar,
Silas Paulo Varone.
Ao passear pela fábrica, o empresário conversa com os
funcionários, brinca bastante e manda pintar as frases de efeito que ouve nas
paredes da empresa. Não se furta em comer no refeitório da indústria e ao
montar o prato revela suas origens: uma porção bem farta de arroz com feijão e
três pedaços de frango.
Quem o vê comendo assim não imagina que, pouco antes de
aterrissar em Manaus, Lirio estava servindo champanhe Dom Perignon aos seus
convidados ilustres, a bordo do Sovereign, onde foi o único a tirar os sapatos
italianos, confortável na posição de dono do luxuoso jatinho, com largas
poltronas de couro. Cada Dom Perignon custa cerca de R$ 800 e, na viagem em
companhia de Fernando Henrique Cardoso, seu filho Paulo Henrique Cardoso, o
ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho, o Boni, o ex-diretor do Banco Central Nelson Carvalho e o presidente
de honra da Rede Accor no Brasil Firmin Antonio, foram abertas quatro garrafas.
Ou "garafas", como pronuncia Lirio, ainda com o sotaque de colono
descendente de italianos.
— O mais curioso no Lirio é que, mesmo depois de
enriquecer e de se transformar um empresário poderoso e em um grande
investidor, ele nunca esqueceu as origens. Fala com o sotaque da roça, é muito
direto e objetivo. Um fofoqueiro de primeira — diz Furlan.
Obsessão por imóveis
Dono da corretora Geração Futuro, com fundos de ações
responsáveis pela maior parte do seu patrimônio avaliado em US$ 2,4 bilhões
(cerca de R$ 4,3 bilhões), Lirio não começou bem sua carreira como investidor
no mercado financeiro. Sua primeira tentativa foi um retumbante fracasso.
Com apenas 18 anos, recebeu um Fusca como prêmio em um
concurso de monografias organizado pelo Exército. Encantado com a alta das
ações, investiu na renda variável e perdeu tudo em pouco tempo.
— Saí com o dinheiro para uma refeição —
relembra.
Como empresário já estabelecido, voltou a aplicar na
Bolsa. O prejuízo foi ainda maior, de US$ 200 mil. Só no início dos anos 1990
teve o primeiro sucesso, quando investiu US$ 1 milhão. Multiplicou a fortuna
por quatro e conseguiu comprar a participação do sócio na Videolar.
Em 2008, o investidor também perdeu alguns milhões, mas,
desta vez, aproveitou a baixa para aumentar sua posição, atravessou a crise e
saiu dela ainda mais rico. Além do faturamento da Videolar e dos fundos de
ações (90% nos setores de siderurgia, mineração, bancos e companhias
elétricas), Lirio investe em imóveis.
Tem um apartamento com quatro suítes no Bairro Ponta
Negra, o mais nobre de Manaus, um no Costão do Santinho, em Florianópolis, e
outro em São Paulo, onde passa a maior parte do seu tempo. Na garagem um
Porsche Cayenne, que na versão mais simples custa quase R$ 400 mil e, de
reserva, para driblar o rodízio na capital paulista, um Mercedes. Em Manaus,
Lirio mantém um outro carro, que dirige ele próprio, com auxílio de um GPS.
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