OS TIRANOS TAMBÉM MORREM
Maria Lucia Victor Barbosa
30/11/2016
Em1959, ano em que Fidel Alejandro Castro Ruz e seus
barbudos derrubaram a ditadura corrupta de Fulgencio Batista, começou o grande
amor da esquerda latino-americana pelo líder revolucionário, paixão que
continua até hoje apesar de Castro ter se tornado, como bem definiu o
presidente norte-americano recém-eleito, Donald Trump, “um ditador brutal de
uma ilha totalitária”.
Inicialmente a retórica de Castro parecia ser a de um
democrata e no seu documento, A História me Absolverá (1953), o jornalista Ruy
Mesquita relatou não haver encontrado “nenhum traço de marxismo, de comunismo
ou de esquerdismo”.
Entretanto, Fidel declarou mais tarde que sempre fora
marxista-leninista e que a falsa imagem de democrata foi usada apenas para não
assustar. Condizente com sua verdadeira ideologia ao assumir o poder Castro
cancelou as eleições livres que prometera, suspendeu a Constituição de 1940 que
garantia direitos fundamentais aos cubanos e passou a governar por decreto. Em
1976, impôs sua Constituição baseada na da URSS e nela havia, entre outros
artigos, os que limitavam os direitos dos cidadãos de se associarem livremente.
Pela opressão, por suas próprias leis o tirano de Cuba governou despoticamente
durante 49 anos. Assassinou, prendeu, torturou, matou milhares de cubanos que
não concordavam com sua ditadura. E não é à toa que Cuba foi chamada de Ilha
Cárcere.
Algo a ser ainda esmiuçado através da História é a
ligação de Castro com a União Soviética. Possivelmente isso foi planejado antes dele derrotar Batista e selado através
de um pacto muito favorável para ambas as partes: Cuba seria sustentada pelo
império vermelho e Castro teria proteção com relação aos Estados Unidos. Os
soviéticos, através do caudilho puseram uma pedra no calcanhar dos
norte-americanos e reforçaram a cultura antiamericana que se tornou fortíssima
na América Latina. A pequena e insignificante Ilha produtora de charuto e rum
podia ser, na perspectiva das URSS, um posto avançado para disseminar o
comunismo em toda América Latina.
A morte aos 90 anos do último ícone da esquerda
latino-americana provocou muitos louvores dos adeptos do neosocialismo. Lula,
por exemplo, disse que Castro foi como seu irmão mais velho, o maior de todos
os latino-americanos. Dilma também não poupou elogios. Até o Papa Francisco se
disse triste com o passamento do ditador sanguinário.
Sua Santidade certamente perdoou o que Castro - na
juventude estudante em colégio jesuíta - fez com a Igreja. Em 1961, expulsou
131 padres, marginalizou instituições religiosas e, aos que expressavam sua fé
punia com a proibição de acesso à universidade e às carreiras administrativas.
Até a celebração do Natal foi proibida.
Não vi a opinião dos gays de esquerda, mas li no Livro
Negro do Comunismo que homossexuais eram tratados como “pessoas socialmente
desviadas” e que por isso eram presos, sofriam maus tratos, subalimentação,
isolamento. Na Universidade de Havana foram julgados em público e obrigados a
reconhecer seus “vícios” antes de serem demitidos e presos.
Não vi tampouco a opinião das feministas de esquerda ou
da deputada petista, Maria do Rosário. Mas na mesma obra consta que centenas de
mulheres foram presas em Cuba por motivos políticos. Eram espancadas,
humilhadas, entregues ao sadismo dos guardas e seus maridos eram obrigados a
assistir suas revistas íntimas. Horrores se passaram nas medonhas masmorras
cubanas para homens e mulheres e ainda passam, pois existem presos políticos em
Cuba.
Foi-se o mais importante símbolo esquerdista da América
Latina deixando como legados o fracasso econômico e o inferno social para seus
compatriotas. Seu irmão Raul, que governa desde que a doença abateu o tirano
caribenho, está com 85 anos. Quem sucederá na ditadura hereditária dos Castros
depois que Raul também se for? Chávez, o verdadeiro herdeiro de Castro na
América Latina partiu antes. Como Cuba, a Venezuela é a imagem do fracasso, da
brutalidade governamental, da ausência dos direitos humanos, que configuram o
Socialismo do Século 21. As figuras que remanescem no poder classificadas como
de esquerda são subprodutos de caudilhos. No Brasil afunda Lula e seu PT depois
de terem arrebentado o país.
Enquanto isso, transformações estão em curso no mundo:
Trump foi eleito presidente nos Estados Unidos e vários líderes europeus,
também de direita poderão se tornar presidentes de seus países em 2017.
Ao final desse pequeno artigo faço minhas as palavras do
editorial do Estadão de 29/11/2016: “O espetacular fiasco da experiência
socialista e castrista em Cuba deveria servir como prova definitiva da
inviabilidade desse modelo e da natureza irresponsável, despótica e corrupta do
regime de Fidel”.
Maria Lucia Victor Barbosa é professora, escritora,
socióloga, autora entre outros livros de O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto
– a Ética da Malandragem, Editora Zahar e América Latina – Em busca do Paraíso
Perdido, Editora Saraiva.