Thiago Bonzatto - Veja
O mensalinho de Lula
A Odebrecht confirma que pagou a reforma do sítio de
Atibaia, patrocinou o filho mais novo do ex-presidente e deu mesada em dinheiro
a um dos irmãos do petista.
O ex-presidente Lula prestou na semana passada o seu
primeiro depoimento à Justiça na condição de réu. Ao longo 50 minutos, o
petista se defendeu da acusação de ter tentado atrapalhar as investigações da
Operação Lava Jato, contou piadas e, como já fizera outras vezes, desafiou:
"Duvido que tenha empresário ou politico com coragem de dizer que me
deu 10 reais ou que o Lula pediu 5
centavos a ele".
Essa declaração
deverá se esfacelar nos próximos dias, quando vier à tona a íntegra da
delação dos executivos da Odebrecht.
Companheiro de longa data de Lula, desde a época das
greves sindicais, o ex-diretor de relações institucionais da empreiteira,
Alexandrino Alencar, produziu um capítulo letal sobre o ex-presidente no enredo
do petrolão.
Alencar revelou que, por mais de uma década, a empreiteira pagou uma mesada a José
Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do ex-presidente. A ajuda financeira se
estendeu durante os dois mandatos de Lula e só foi cortadas quando os
empreiteiros foram presos.
A revelação do ex-diretor da Odebrecht será anexada aos
processos que já apuram o envolvimento financeiro do ex-presidente com a
construtora.
O Ministério Público denunciou Lula pelos crimes de
corrupção passiva e tráfico de influência, entre outros.
Uma das acusações trata exatamente de uma suposta troca
de favores entre a construtora e a família de Lula.
Segundo os procuradores, o vidraceiro Taiguara Rodrigues,
sobrinho do petista, recebeu 20 milhões de reais da Odebrecht como pagamento
por uma obra que ele nunca realizou. Parte desse dinheiro, já
se sabia, foi
usada para pagar algumas despesas pessoais de Frei Chico.
Alencar, porém, revelou que a ajuda era maior. Além do
dinheiro que entrou na conta do vidraceiro, a empreiteira pagava, em média,
5000 reais por mês ao irmão do ex-presidente.
E o mais importante, tudo feito a pedido do próprio Lula.
Frei Beto e Taiguara não foram os únicos a receber
subsídios da Odebrecht. Alencar contou que a ex-primeira-dama Marísia Letícia,
morta em fevereiro passado, pediu pessoalmente ajuda na reforma do sítio de
Atibaia, em São Paulo, usado pela família de Lula.
Segundo um laudo da policia, a obra de melhoria no imóvel
- que também contou com auxílio de engenheiros da OAS - custou 1,2 milhão de
reais.
O depoimento reforça as evidências coletadas de que o
ex-presidente é o verdadeiro dono do sítio, o que ele sempre negou.
Um diretor da Odebrecht cuidava do bem-estar da família
de Lula
Ao mesmo tempo em que negociava no governo, Alencar
exercia o papel de mantenedor da família.
Ele contou que a empreiteira patrocinou a carreira de
Luís Cláudio Lula da Silva, o filho mais novo do ex-presidente, ajudando a
transformar o então professor de educação física num bem-sucedido empresário do
ramo esportivo.
Alencar entregou aos procuradores um diagrama no qual
estão registrados a relação dos pagamentos e mais dois fatos que agravam a
situação do ex-presidente.
Segundo o ex-diretor, , a empreiteira comprou um terreno
para construir a sede do Instituto Lula em São Paulo. O imóvel, no entanto, não
foi utilizado.
Além disso, Alencar confirma que Lula recebeu mais de 3
milhões de reais para realizar palestras e defender os interesses comerciais da
Odebrecht no exterior entre 2011 e 2014.
"O ex-presidente jamais fez solicitação dessa
natureza a ninguém", diz o criminalista José Roberto Batochio, advogado de
Lula.