TITO GUARNIERE
E SE FOSSE TEMER A ANISTIAR JOESLEY BATISTA?
O procurador Rodrigo Janot deve ter levado bom tempo para
celebrar o acordo de delação premiada da JBS, o maior negócio da vida dos
Batistas. Maior até do que a conta corrente que mantinham no BNDES, com juros
de pai para filho, que nos anos de Lula e Dilma, tornou a empresa a maior do
planeta na produção de proteína animal. Os Batistas acertaram a vida. Se
delitos cometeram, receberam uma anistia ampla e geral. Se eram bandidos, agora
estão com a ficha limpa.
Claro, uma avença desse porte, de bilhões de reais, não
se faz de graça. O senhor Joesley teve de se tornar cúmplice de um plano
audacioso. O procurador Janot queria porque queria as cabeças de Michel Temer e
Aécio Neves. Janot agora está de saída e se dedica em tempo integral à única
tarefa que lhe acomete, a proposição de uma nova denúncia contra Temer.
A denúncia de Janot contra Temer poderia ter sido uma só,
diante dos fatos da JBS. Mas Janot "fatiou" os delitos supostos, pois
assim submete Temer a uma nova rodada de desgastes, no Congresso, na mídia, e
na opinião pública.
Tudo o mais já sabemos, inclusive os erros infantis
cometidos por Temer, supostamente raposa velha da política, e Aécio, que por
pouco não chegou ao cargo de presidente na eleição de 2014. A trama foi urdida
em tempo recorde, em velocidade de Fórmula 1, como nunca se viu, por exemplo,
contra Lula e Dilma.
O plano quase deu certo. Temer balançou mas não caiu.
Aécio, que era para ir para a cadeia, está solto e no exercício do mandato. O
presidente mostrou fôlego e força, resistindo ao massacre diuturno e impiedoso
das Organizações Globo e de outros atores menores. É que a tramoia tem muitos
furos, o maior deles certamente as benesses concedidas à JBS e aos réus
confessos. O acordo presidido por Janot e chancelado pelo ministro Edson
Fachin, do STF, desmoralizou a teoria de que o crime não compensa.
E se fosse Temer a celebrar o acordo, nos mesmos termos
daquele assinado por Janot? E se fosse Temer a conceder o perdão perpétuo ao
réu confesso de mais de 200 crimes Joesley Batista, e às bilionárias empresas
JBS? Bem, então as Organizações Globo, o site O Antagonista, boa parte da mídia
e dos colunistas políticos brasileiros, comeriam o fígado do presidente.
Alguém dirá que Temer não tem esse poder. Mas pode um
homem só (Janot), ou dois - o acordo com os Batistas foi chancelado pelo
ministro Fachin, em decisão monocrática - deterem em mãos tal poder?
O acordo que Janot celebrou e Fachin homologou
corresponde a sentença de absolvição de réus confessos de mais de 200 delitos.
Apenas dois funcionários da República, às escondidas, sem processo, sem
obedecer lei ou critério legal, sem audiência das partes delatadas, isto é, sem
ouvir aqueles para quem sobraram as acusações, concederam perdão aos
delinquentes. Os Batistas se tornaram cidadãos de bem.
Os delatados sofrem na carne as agruras do conluio. E
continuarão a sofrer até o desfecho dos processos, os quais, dada a
"agilidade" da Justiça brasileira, devem se arrastar pelos próximos
10 ou 15 anos.
titoguarniere@terra.com.br