A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes
das Instituições Federais de Ensino Superior) divulgou nota na qual lamenta o
suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luis
Carlos Cancellier Olivo, de 60 anos, nesta segunda-feira e critica, como
fatores que teriam levado à morte do docente, a “atuação desmedida do aparato
estatal”, as “práticas de um estado policial” e a destruição da honra das
pessoas “em nome de um moralismo espetacular”.
Olivo, que estava no cargo desde maio de 2016, foi preso
pela Polícia Federalcom outros professores e funcionários da UFSC no dia
14 de setembro – e solto um dia depois -, dentro da Operação Ouvidos
Moucos, que apura um esquema de corrupção que teria desviado bolsas e
verbas no valor total de 80 milhões de reais nos recursos para cursos de
educação a distância (EaD) do Programa Universidade Aberta (UAB). O reitor nega
qualquer irregularidade.
Ele foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira
após, segundo a polícia, ter se atirado do vão central do Beiramar
Shopping, um dos principais de Florianópolis. Quatro dias antes, ele havia
publicado um artigo no jornal O Globono qual dizia que “a humilhação e o
vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da
instituição”.
“No mesmo período em que fomos presos, levados ao
complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente
a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta
melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários
cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia
Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas
e nossa honra associada a uma ‘quadrilha’, acusada de desviar R$ 80 milhões. E
impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade”, escreveu.
Na nota, a Andifes afirma que “é inaceitável que
pessoas investidas de responsabilidades públicas de enorme repercussão social
tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato
estatal”. E completa: “É inadmissível que o país continue tolerando práticas de
um estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são
postos de lado em nome de um moralismo espetacular”.
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Os reitores também expressam na carta “absoluta
indignação e inconformismo “com o modo como ele foi tratado por autoridades
públicas ante um processo que ainda estava em andamento. O reitor teve
ordem de prisão temporária e afastamento decretada no dia 25 de agosto pela 1°
Vara Federal de Florianópolis e desde então não poderia mais frequentar o
campus da universidade.
Veja a íntegra da nota da Andifes:
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (Andifes), profundamente consternada, comunica o
trágico falecimento do Prof. Dr. Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade
Federal de Santa Catarina, ocorrido na manhã desta segunda-feira.
O sentimento de pesar compartilhado por todos os reitores
das universidades públicas federais, neste momento, é acompanhado de absoluta
indignação e inconformismo com o modo como o reitor Cancellier foi tratado por
autoridades públicas ante a um processo de apuração de atos administrativos,
ainda em andamento e sem juízo formado.
É inaceitável que pessoas investidas de responsabilidades
públicas de enorme repercussão social tenham a sua honra destroçada em razão da
atuação desmedida do aparato estatal.
É inadmissível que o país continue tolerando práticas de
um estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são
postos de lado em nome de um moralismo espetacular.
É igualmente intolerável a campanha que os adversários
das universidades públicas brasileiras hoje travam, desqualificando suas
realizações e seus gestores, como justificativa para suprimir o direito dos
cidadãos à educação pública e gratuita.
Infelizmente, todos esses fatos se juntam na tragédia que
hoje temos que enfrentar com a perda de um dirigente que, por muitos anos,
serviu à causa pública. A Andifes manifesta a sua solidariedade aos familiares,
à comunidade universitária da UFSC e aos amigos do reitor Cancellier.
Continuaremos lutando pelo respeito devido às universidades públicas federais,
patrimônio de toda a sociedade brasileira.