Que a internet é o fenômeno essencial do nosso tempo,
ninguém discute. Mas nem tudo reluz nos blogs, sites, redes sociais. A internet
é um espaço privilegiado, de fácil e pronto acesso a informações preciosas e
necessárias, opiniões abalizadas e de textos lúcidos que facilitam e melhoram a
nossa vida. Mas ao mesmo tempo é espaço das "fake-news", dos
militantes de causas exóticas, de cretinos operosos, das teorias conspiratórias
mais improváveis, e onde hordas de ignorantes deitam e rolam com suas
diatribes, bobagens e xingamentos.
A internet é um refúgio de pessoas (nem todas, graças a
Deus!) que se julgam injustiçadas, preteridas, enganadas, de pessoas
complexadas ou que simplesmente não têm nada para fazer. A rede é o território
onde elas reinam e governam, quase sozinhas, e no qual o teclado cumpre todas
suas vontades e ordens, e onde elas podem distribuir palpites no que entendem,
e mais ainda no que não entendem.
Em cima, está exposto o artigo do jornalista, do
comentarista, do autor especializado, em geral respeitando o vernáculo, a
gramática, os acentos gráficos, com (alguma) base e fundamento, ainda que não
se concorde com ele. Cá embaixo, em número assustador, no espaço do leitor, os
comentários vulgares, os clichês surrados, as rotulagens fáceis, a desqualificação
do autor. Dá para notar que o texto comentado não foi lido inteiro, ou se lido,
não foi entendido. O internauta típico, um sujeito comumente de maus bofes,
critica até autores e textos com os quais ele está de acordo.
Atenção, aqueles que queiram se aventurar a escrever na
internet: evite a ironia. A massa dos internautas não sabe o que é ironia e
toma o texto ao pé da letra. Quando usarem, anotem explicitamente que é ironia,
mesmo sabendo que, então, não será mais ironia.
É rara uma observação pertinente sobre o texto, os
argumentos do autor. Os comentários variam de simples a simplórios,
descosturados, descontextualizados, aleatórios, às vezes. Quando respondem a um
texto, são respostas simples e erradas. Querem ter direito à opinião e também
aos fatos. Nas suas argumentações ignoram e distorcem as mais solares
evidências.
É o tempo sombrio das "narrativas". Não importa
o que está rolando, será sempre preciso enquadrar o fato na narrativa. A
narrativa não é mais construída pelos fatos, suas causas e efeitos: os fatos é
que devem ser construídos segundo a narrativa pré-existente.
O filósofo e matemático inglês Bertrand Russel já dizia
na década de 50 que "o problema do mundo de hoje é que as pessoas
inteligentes estão cheias de dúvidas, e as idiotas estão cheias de
certeza". O número de idiotas é hoje muito maior e eles ainda podem ecoar
as suas mensagens no mundo, através da internet. Pessoas que mal leram um
livro, um artigo de fundo, um rodapé, deitam falação sobre temas que exigem um semestre
inteiro de estudo.
Cuidado com as redes sociais: elas afetam a nossa
sanidade. Winston Churchill, que sabia das coisas, disse uma vez que "o
melhor argumento contra a democracia é a conversa de cinco minutos com um
eleitor comum". Atenção: isto é uma ironia do primeiro-ministro britânico
na II Guerra.
titoguarniere@terra.com.br