Lobista diz que estaleiro de Cingapura barganhou valor de
propina que abasteceu PT
O lobista Zwi Skornicki confessou ao juiz federal Sérgio
Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, nesta sexta-feira, 3,
que a propina de contratos de plataformas da Petrobrás que serviu para pagar
dívida de campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010, com o
marqueteiro João Santana foi barganhada diretamente por ele com executivos de
estaleiro Keppel Fels, em Cingapura.
Skornicki foi ouvido nesta sexta por Moro, em ação penal
em que o ex-ministro Antonio Palocci e o marqueteiro do PT João Santana são
réus, por corrupção e lavagem de dinheiro de propinas de contratos de
plataformas da Petrobrás e da empresa Sete Brasil – criada entre 2010 e 2011
pela estatal, em parceria com bancos e com dinheiro de fundos de pensão
federal.
Delator da Lava Jato, Skornicki confessou ao juiz que
acertou o repasse de US$ 5 milhões para João Santana, a pedido do ex-tesoureiro
do PT João Vaccari Neto, para zerar uma “conta corrente” de propinas que a
Keppel Fels tinha, por meio dele.
A força-tarefa da Lava Jato acusa Palocci de ser o
responsável por acertar com empreiteiras e grandes empresas propinas por
contratos no governo federal, em especial, na Petrobrás.
Os procuradores associam os pagamentos feitos a Santana a
repasses acertados por intermédio do ex-ministro da Fazenda, do governo Luiz
Inácio Lula da Silva, e Casa Civil, no governo Dilma Rousseff.
Nesta quinta-feira, 2, o juiz Sérgio Moro condenou João
Santana e a mulher, Mônica Moura, pela lavagem do dinheiro recebido de Zwi
desses contratos da Keppel Fels. O lobista também foi condenado.
Conta corrente. Na ação penal de Palocci, em que
Skornicki foi ouvido como testemunha de acusação, nesta sexta, a acusação é
sobre o repasse da Odebrecht para Santana, dentro dessa “conta” do ex-ministro.
Skornicki contou em juízo que foi representante da Keppel
Fels, um dos mais estaleiro do mundo, por mais de 10 anos no Brasil. Segundo
ele, em seis contratos que fechou na Petrobrás pagou propinas para a Diretoria
de Serviços.
A Lava Jato aponta que PT, PMDB e PP dividiam diretorias
estratégicas da Petrobrás para, em conluio com um cartel de empreiteiras,
desvia de 1% a 3% em contratos da estatal, que eram propinas que abasteceram
agentes públicos, políticos e campanhas das legendas.
As propinas teria sido negociadas, segundo ele, com o
ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco. Subordinado ao diretor de
Serviços Renato Duque, ele era espécie de contador da propina que entrava na
área, responsável por fazer as concorrências para contratos e acompanhar a
execução dos contratos. Controlada pelo PT, a diretoria era estratégica porque
por meio dela era arrecado propinas em todas as outras áreas.
Cingapura. O lobista disse que a propina cobrada envolveu
contratos da Keppel Fels nas plataformas: P-51, P-52, P-53, P-56, P-58 e P-61.
Os pagamentos envolveriam uma espécie de “conta corrente” que a multinacional
tinha, por intermédio do lobista, com os agentes públicos e políticos do
esquema.
Skornicki também afirmou que inicialmente Barusco cobrou
2% de propina nos contratos, mas o valor foi rejeitado por executivos da Keppel
Fels, em Cingapura.
“Foi negociado diretamente com Barusco, ainda ele
primeiro pediu um ponto dois porcento, eu levei isso aos chefes da Keppels, em
Cingapura, eles não aceitaram e queriam fechar em 0,9%. Levei isso de volta ao
Barusco”, contou Skornicki.
“Aí o Barusco disse: ‘Ó, eu aceito 0,9%, desde que sejam
feitas todas as divisões, entre o senhor
João Vaccari, o senhor Duque e a minha pessoa. E quero mais 0,1% por fora, como
eu trabalhei por todos eles, quero, sem eles saberem, que você me desse mais
0,1% por fora.”
O lobista contou que os valores eram pagos conforme os
recebimentos do estaleiro. Com isso, foi criada uma espécie de “conta corrente”
informal entre as partes.
“A medida que a Keppel ia recebendo dinheiro da
Petrobrás, parte ela repassava dentro da minha comissão e mais a parte que era
devida à propina”, explico Skornicki. “E isso foi se acumulando até o momento
que o Barusco já tinha saído da Petrobrás e estava na Sete Brasil, saindo da
Sete. Ele veio ao meu escritório e fez o acerto (final).”
Segundo o delator, Barusco indicou que o saldo na “conta
corrente” deveria ser divido da seguinte forma: “US$ 5 milhões de dólares para
Vaccari, US$ 12 milhões para Duque e o restante para ele”. “Isso zerava a conta
corrente”.
O lobista disse que no contrato da P-56 o grupo Keppel
Fels fez doações oficiais.
“As outras foram se acumulando e quando chegou a esses
US$ 5 milhões, ele (Vaccari) veio ao meu escritório e disse que tinha acerto
com a senhora Mônica Moura e disse para acertar com ela, que ela vinha me
procurar”, contou Skornicki. “O valor foi zerado.”
O dinheiro repassado para a conta Shellbill Finance, que
Santana e a mulher tinha na Suíça. Nela, o lobista da Keppel repassou US$ 4,5
milhões. O casal diz que os valores eram dívidas que tinha a receber do PT e
desconhecia a origem criminosa dos valores.
A ação contra Palocci e executivos da Odebrecht acusa
pagamento de propinas para Santana na mesma conta Shellbill, por intermédio de
duas offshores controladas pela empreiteira – a Innovation e a Researsch.