- Artigo publicado na revista Istoé de hoje.
Os idiotas têm muitas certezas. Já os sábios têm dúvidas
e confiança na necessidade de buscar respostas. No Brasil, os idiotas fazem
mais barulho do que os homens comuns e os sábios
Duas coisas fundamentais para o viver: a dúvida e a
confiança. O mundo gira em torno desses dois sentimentos. Tanto a dúvida quanto
a confiança nos impulsionam. Ambos, porém, estão em falta no Brasil.
Ainda que possa parecer paradoxal, os idiotas têm muitas
certezas. Já os sábios têm dúvidas e confiança na necessidade de buscar
respostas. No Brasil, os idiotas fazem mais barulho do que os homens comuns e
os sábios. A certeza é outro componente da questão central da dúvida e da
confiança. Mas é uma vulgata, já que a certeza foi vulgarizada pela sua
banalização.
Sem dúvidas e desconfiando de tudo, os adoradores do “não
é possível que” utilizam essa expressão como abertura dos trabalhos mentais
para, adiante, concluí-los com um “com certeza”. Em especial, nas respostas prontas
a perguntas que visam respostas ratificadoras ao que é perguntado. Do tipo
entrevista de rua sobre o BBB.
Nesse caso, perguntado e perguntador são hamsters que
dividem a roda onde correm para ficar no mesmo lugar. É o prazer de atender à
expectativa de quem pergunta e encaixar a sua previsível resposta em um
quebra-cabeça de e para debiloides.Hoje, no mundo, existe uma conspiração
contra os especialistas. Ironicamente, o tema é tratado por alguns
especialistas e não é revanchismo. Milhares de subcelebridades e celebridades
falam sobre tudo com aparente propriedade e são validados pela mídia.
Muitas vezes a mídia opera para transportar o que a
mediocridade majoritária quer ouvir e/ou manipular os sentimentos de acordo com
as suas expectativas. Ignorantes são indagados e respondem o que serve para
validar o que se quer mostrar ao público.
Atualmente, sabemos mais em volume de informação do que
sabia Michel de Montaigne em 1580 . Contudo, o que ele sabia vale muito mais do
que o que sabemos hoje em termos de filosofia. Na roda do hamster, quanto mais
sabemos menos sabemos.
O que fazer? Pela ordem: duvidar de tudo; desejar e
esperar o melhor, mas estar preparado para o pior. Saber ao certo em quem
confiar e não ser capturado pelo “não é possível que”, que leva, “com certeza”,
a conclusões preconcebidas e rasteiras.