Artigo, Marcelo Aiquel - Quem ganhou e quem perdeu ?

                Nesta discussão acalorada, surgida durante a “greve” (que alguns insistem em chamar de paralisação) dos caminhoneiros, ficou a questão: quem realmente ganhou?
                No “frigir dos ovos”, o que se soube foi que a, inicialmente simpática e necessária reclamação da classe transportadora rodoviária (pelo menos enquanto não feria direitos dos outros), deixou de sê-la no momento em que se escancarou a politização das lideranças.
                A hipocrisia da “liberação” dos caminhões carregados com alimentos perecíveis e medicamentos foi fantástica. Digam, com sinceridade, de que adianta “liberar” (num gesto altamente demagógico) a passagem de veículos que simplesmente não tinham como, ou onde, abastecer.
                A “brincadeira” dos motoristas (ou seria dos patrões e dirigentes patronais com viés esquerdista) resultou num prejuízo estrondoso de norte a sul do Brasil. Que só não atingiu ás reinvindicações dos grevistas. Isto que a própria população – incluídos os “sabidos” caminhoneiros – é quem vai pagar a conta.
                Seja através dos impostos que – com certeza – serão criados; seja em razão da natural elevação de preço causado pelo desabastecimento dos alimentos e outros bens. 
                A conclusão é única e óbvia: enquanto uns “patinhos” aplaudiam um movimento que fez da maioria dos caminhoneiros verdadeiras buchas de canhão, todo o Brasil (eu disse TODO) perdeu o que não podia perder.
                E, quem achou que ganhou, é um iludido!
                Marcelo Aiquel – advogado (29/05/2018)

A soma de todos os erros


Astor Wartchow
Advogado
Estudos e denúncias acerca das incoerências e injustiças patrocinadas por nossa estrutura tributária são antigos, persistentes e (quase) unânimes. A desproporção entre a arrecadação de tributos e a qualidade da prestação de serviços públicos tem alimentado um ambiente de crescente insatisfação.
Logo, compreende-se o surgimento e crescimento do presente movimento dos camioneiros e o respectivo apoio público.  Apoio que não se restringe a respectiva classe profissional e suas reivindicações, mas revela a profundeza e latência da inconformidade social.
Mas (sempre há um “mas”) não justifica o desdobramento e irracionalidade do movimento. Apenas um quarto da frota nacional é de camioneiros autônomos, carentes de mais cargas e comprometidos com sua sobrevivência imediata. Ou seja, incapazes de organizar e liderar um ato desta dimensão.
Não se trata de desqualificar as discussões e reivindicações. Mas esta é uma paralisação liderada por empresas transportadoras. Uma ação patronal. Estamos diante de um gravíssimo e desumano crime contra a sociedade e a economia nacional. Desabastecimento é crime lesa-pátria. Uma conta amarga que será paga por toda a população!
Em defesa dos autores, admita-se apenas a hipótese de descontrole e surpresa quanto ao tamanho, intensidade e confusão que a paralisação alcançou e realizou.
Pior: agora a paralisação e agitação persistem à conta dos oportunistas. Para hoje está prometida a paralisação nacional por três dias dos petroleiros, subordinados a CUT.
Pergunto: não estão “satisfeitos” com o cenário de destruição social e econômica? Aliás, o que pensavam e faziam enquanto a Petrobrás era assaltada sistêmica e grotescamente e com seus preços e administração manipulados política e partidariamente?  
Não há conseqüência sem causa. E não há conseqüências sem efeitos colaterais. Não surpreende que entre os camioneiros (e a população) haja expressivo apoio ao candidato presidencial Bolsonaro, de vertente conservadora e militar. 
E nem adianta reclamar de Temer ou recordar os erros de Dilma. Que não renunciou por orgulho e arrogância. Tivesse renunciado teria poupado a nação do processo de impeachment  e precipitado as necessárias mudanças na política econômica e adaptações orçamentárias (da Petrobrás, por exemplo).
E Temer, conseqüentemente, diante das circunstâncias, prazos e desdobramentos do processo de impeachment, jamais alcançou a popularidade e credibilidade minimamente necessários para o exercício da presidência da república. E também não renunciará. Por outros motivos. Seria preso no dia seguinte. Mas será preso em janeiro de 2019!