A volta dos militares
A
sociedade cansou-se do discurso de uma classe política que não mais a
representa Novidade histórica: os militares voltarão ao poder, pela via
democrática. Eis um cenário altamente provável, que foge totalmente do padrão
das últimas eleições. Estamos diante de um fato novo, que não se deixa mais
reduzir aos moldes de uma polarização hoje vencida entre PT e PSDB. É forçoso
reconhecer que o País mudou.
Essa provável volta contará com o apoio da sociedade e,
certamente, das Forças Armadas. Para a opinião pública, os militares
representam uma instituição da mais alta confiabilidade, que não foi tomada
pela onda da imoralidade pública. Eles se tornaram, para muitos, uma opção, uma
alternativa de poder. Seu prestígio só tem aumentado.
É bem verdade que todos os governos após a
redemocratização contribuíram amplamente para isso. A segurança pública foi
deixada em frangalhos, o crime assola a Nação, e tudo tem sido tratado com
leniência e ineficiência, se não com complacência e simpatia ideológica. Crime
não seria crime, mas uma forma de resposta social. Se os mortos falassem, eles
lhes dariam uma resposta adequada!
As pessoas estão aterrorizadas, nas ruas e em casa, e
ainda são obrigadas a ouvir o discurso ensurdecedor do politicamente correto.
Mais de 60 mil pessoas são mortas por ano e temos de ouvir as falas insensatas
sobre a manutenção do Estatuto do Desarmamento, como se esse fosse o maior
problema do País. Os cidadãos de bem tornam-se, graças ao legítimo direito à
autodefesa, os responsáveis pela criminalidade!
A candidatura Bolsonaro surge como uma resposta a esse
tipo de questão, por mais impreciso que seja ainda o seu discurso político e,
sobretudo, econômico. Soube escutar esse anseio da sociedade, ciente de que o
Estado não se pode sustentar sem o exercício da autoridade estatal.
O Estado, em negociações “democráticas”, virou refém de
corporações de funcionários e empresários que se apoderaram de uma fatia do
bolo público e são avessos a qualquer mudança. Se a tão necessária reforma da
Previdência não foi realizada, foi porque as corporações de privilegiados se
negaram a reduzir seus benefícios dos mais diferentes tipos.
A esquerda, seguindo sua degradação ideológica, ficou do
lado das corporações públicas, como se elas representassem os trabalhadores,
estes, sim reféns de baixos salários e do desemprego. As corporações do
Judiciário e do Ministério Público também se recusaram a aceitar a igualdade
básica dos cidadãos enquanto membros do Estado. Este se tornou presa de seus
estamentos, perdendo o sentido da moralidade e do bem coletivo.
Tachar o discurso do deputado Jair Bolsonaro de extrema
direita é o melhor atalho para refugiar-se na miopia ideológica. Só teria
sentido se se considerasse a defesa da vida e do patrimônio das pessoas uma
bandeira de extrema direita. Isso significaria, então, que a esquerda valoriza
o crime e a violência? Ou não se preocupa com a vida e o patrimônio dos
cidadãos?
A greve dos caminhoneiros mostrou com inusitada clareza
que os militares se tornaram uma opção para boa parte dos cidadãos. Os pedidos
de intervenção militar alastraram-se pelo País e foram muito maiores do que o
noticiado. A sociedade clama por moralidade pública e por segurança física e
patrimonial. Cansou-se do discurso de uma classe política que não mais a
representa. Partidos com forte estruturação ideológica, como PT e PSDB, ficaram
literalmente perdidos, tontos.
Evidentemente, tal saída seria uma ruptura institucional,
ferindo uma democracia cambaleante. E mais imprópria ainda por ter o atual
governo levado a cabo uma agenda reformista que está mudando o País, apesar de
seus percalços. Não seria esse o destino desejável.
Nas últimas décadas os militares têm tido um
comportamento exemplar, defendendo a democracia e a Constituição. Passaram por
momentos muito delicados, sendo objeto de acusações as mais diversas, com a
ameaça de revisão da Lei da Anistia pairando sobre eles. Souberam resistir no
estrito respeito às normas constitucionais, enquanto seus opositores pretendiam
jogá-las pelos ares.
Agora, todo um setor importante da sociedade brasileira
clama para que voltem ao poder, por intermédio da candidatura Bolsonaro. Ele não
representa apenas a si mesmo, mas responde a um apelo social, podendo contar
com o apoio dos militares, embora as Forças Armadas permaneçam, enquanto
instituição estatal, neutras e equidistantes em relação ao processo eleitoral.
É visível o empenho de militares da reserva em favorecer
essa via democrática de volta ao poder. Generais importantes estão empenhados
nesse processo, dando o seu aval a uma candidatura que, vitoriosa, poderá
contar com o apoio daqueles que querem restaurar a autoridade estatal.
Acontece que a Nação apresenta uma condição de anomia,
cada estamento puxando para o seu interesse particular, como se o Estado
pudesse ser esquartejado, perdendo-se até mesmo a própria noção do bem
coletivo. A desordem toma conta do espaço público, como amplamente demonstrado
na greve dos caminhoneiros, que conseguiu curvar o governo no atendimento de
suas demandas.
O caminho está aberto para que outras corporações sigam o
mesmo caminho. A greve contou com o apoio da sociedade, que, do ponto de vista
público, terminou prejudicada em todo esse episódio. O que contou, porém, foi a
expressão de uma insatisfação generalizada, que encontrou aí uma canalização
para o seu mal-estar.
E é esse mal-estar que está sendo a condição mesma do
apoio social à volta dos militares ao poder. Talvez os que defendam a ideia da
bolha da candidatura Bolsonaro, como se ela fosse logo explodir, não tenham
compreendido que a sociedade não mais aceita uma classe política que se
corrompeu e dela se distanciou.
Se há uma bolha, diria crescente, é a de uma sociedade
que deseja mudanças. E ela, sim, pode explodir!
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