O Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para iniciar
o segundo julgamento da Lava Jato na Corte a partir de terça-feira (19). Depois
de condenar por envolvimento no esquema de corrupção o deputado Nelson Meurer (PP-PR),
no fim de maio, agora a Segunda Turma do STF vai analisar o caso da senadora
Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Isto é o que escreve a Gazeta do Povo, hoje, em reportagem especial.
Leia tudo:
Ela, o ex-ministro Paulo Bernardo (marido de Gleisi) e o
empresário Ernesto Kugler são acusados de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o caso envolveu pagamento
de propina de R$ 1 milhão, que teria sido usado por Gleisi na sua campanha ao
Senado em 2010.
Segundo a PGR, dinheiro veio de empresas com contratos
pela Petrobras.
"No ano de 2010, os ora denunciados, agindo de modo
livre, consciente e voluntário, promoveram, em unidade de desígnios e em
conjugação de esforços , a solicitação e o recebimento de vantagem indevida, em
razão de funções públicas subjacentes", diz a denúncia apresentada ao STF.
No documento, a Procuradoria-Geral da República (PGR)
afirma que o dinheiro partiu de empresas que tinham contratos com a Petrobras,
que o valor teria sido arrecadado pelo então diretor de Abastecimento da
estatal Paulo Roberto Costa e repassado ao doleiro Alberto Youssef, a quem
coube fazer o repasse a Ernesto Kugler .
Paulo Bernardo, na época ministro das Comunicações do
governo Lula, teria pedido a propina a Paulo Roberto Costa. Segundo a PGR, o
empresário Ernesto Kugler, por sua vez, recebeu os valores em Curitiba para
custear a campanha de Gleisi.
Nas alegações finais, o MPF afirma: “[a propina] foi
repassada com a finalidade de manutenção de Paulo Roberto Costa no cargo, seja
com a não interferência nesta nomeação e tampouco no funcionamento do esquema
criminoso, seja com fornecimento de apoio político para sua sustentação, tanto
por Gleisi Helena Hoffmann – então forte candidata ao Senado e expoente do
Partido dos Trabalhadores –, como por seu cônjuge, Paulo Bernardo Silva, então
Ministro de Estado e quadro forte da mesma agremiação partidária, ambos
potenciais ocupantes de funções de relevo no Governo Federal".
O Ministério Público sustenta que Gleisi, Paulo Bernardo
e o empresário sabiam da atuação de Youssef no esquema. “Paulo Roberto Costa
afirmou que Paulo Bernardo era um dos poucos ministros que sabiam que Alberto
Youssef era seu operador, ou seja, que o dinheiro vinha de ilícitos da
Petrobras”, diz o documento.
Dinheiro teria sido entregue de forma parcelada e não foi
registrado nas contas de campanha
As investigações revelaram que o dinheiro foi entregue a
Gleisi e ao marido por Ernesto, em espécie, de forma parcelada, em quatro vezes
de R$ 250 mil, e não foi registrado na prestação de contas da candidata.
Para a PGR, a sistemática montada pelo grupo prova a
existência de dolo (intenção), ainda que eventual, por parte da então
candidata, que utilizou método considerado “mais caro e arriscado que qualquer
transferência bancária ou doação eleitoral lícita”.
A denúncia partiu dos depoimentos de delatores, mas a PGR
menciona registros de ligações telefônicas em sua sustentação. De acordo com a
acusação, entre setembro e outubro de 2010, Kugler realizou 116 ligações para o
diretório estadual do PT no Paraná. A procuradoria menciona ainda telefonemas
ao tesoureiro da campanha da petista naquele ano, Ronaldo da Silva Baltazar, à
própria candidata, e a empresas que doaram para a campanha de Gleisi.
Para a PGR, os registros de ligações corroboram os
depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e do advogado
Antônio Pieruccini, que teria sido o responsável pelo transporte dos valores da
propina.
O que dizem os acusados
Todos os envolvidos negam as acusações. As defesas
adotaram a postura de ataque à PGR e às delações. Os advogados, contudo, embora
contem com uma vitória na Segunda Turma, esperam um resultado apertado, por 3 a
2. A expectativa da defesa é de que o voto do relator, ministro Edson Fachin,
seja bastante duro.