Pela primeira vez na história, uma brasileira assume a
presidência da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Regina
Vanderlinde, professora de biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul, foi
eleita nesta sexta-feira (6/7), em Paris, capital francesa, para suceder a
alemã Monika Christmann pelos próximos três anos no comando da principal
entidade vitivinícola do mundo. Ela é a terceira mulher a presidir a OIV de
forma consecutiva.
A eleição aconteceu na Assembleia Geral Extraordinária da
OIV, com 36 dos 45 votos dos países membros favoráveis à candidata brasileira e
99,2 votos ponderados. “Agora o Brasil entra, definitivamente, no mapa
vitivinícola mundial. Todos vão querer saber por que e como uma brasileira
assumiu o comando da principal organização do vinho. É um atestado definitivo
da qualidade da produção dos vinhos brasileiros”, afirma o presidente da seção
gaúcha da Associação Brasileira de Sommelier (ABS-RS), Orestes de Andrade Jr.
Logo após sua eleição, Regina disse ao presidente da ABS-RS: “Eu espero ser uma
embaixadora, divulgando e promovendo o vinho brasileiro pelo mundo”.
A OIV é quem define os padrões internacionais para a
produção de vinhos e derivados da uva. A organização acompanha todos os
aspectos econômicos e comerciais do setor no mundo todo. “É uma honra e uma
grande conquista para o Brasil. Um reconhecimento à importância crescente da
nossa vitivinicultura”, comemora o presidente do Ibravin (Instituto Brasileiro
do Vinho), Oscar ló. O diretor-executivo do Ibravin acrescenta que a produção
brasileira de vinhos e derivados deve ganhar maior atenção e destaque no mundo
com a presidência da OIV. “É mais uma oportunidade que se abre para mostrarmos
nossos produtos em nível internacional”, observa.
Em contato com Orestes Jr., presidente da ABS-RS, Regina
também disse que o seu mandato será pautado por três ações fundamentais.
Primeiro, o desenvolvimento do setor vitivinícola em todos os níveis,
mobilizando todo o potencial científico e técnico para enfrentar os novos desafios
presentes e futuros. Segundo, contribuir para promover um modelo de comércio
internacional baseado na legalidade e na transparência das trocas comerciais.
E, por último, incentivar a ideia de que viticultura e desenvolvimento
territorial sustentável caminham juntos permitindo o turismo enológico. “Quero
exercer uma ação diplomática constante para integrar novos países à OIV, além
de trabalhar para que a organização seja reconhecida pelo Codex Alimentarius”,
disse Regina.
A candidatura de Regina Vanderlinde teve forte apoio do
governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura e do Ministério das
Relações Exteriores. Conforme nota do MRE, durante seu mandato, Regina
Vanderline buscará fortalecer o comércio e o turismo vitivinícola e a
sustentabilidade da produção, por meio do uso de tecnologia e práticas
inovadoras. Em nota, o MRE destaca que a eleição da brasileira coloca em
destaque a importância e o potencial de expansão do mercado vitivinícola
brasileiro. O consumo anual per capita de vinho no Brasil ainda é modesto (1,53
litros, contra 40 litros na França) e cerca de 80% do que é consumido provém de
importações, a despeito do reconhecimento internacional que os vinhos nacionais
vêm recebendo.
Professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Regina
Vanderlinde é natural de Braço do Norte (SC) e formada em farmácia bioquímica e
tecnologia de alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem
mestrado e doutorado em enologia pela Universidade de Bordeaux e trabalha na
OIV desde 2011. Em 2012, assumiu como secretária científica da Subcomissão de
Métodos de Análise de Vinhos da entidade, o primeiro posto permanente obtido
pelo Brasil na OIV. Regina ainda é gerente-geral do Laboratório de Referência
Enológica (Laren) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, mantido
em parceria com o Ibravin.