Revista Voto reúne 250 executivos de SP para ouvir Arida, Gustavo Franco e Benevides Filho


A Revista VOTO chega a São Paulo em parceria com o Experience Club – uma das principais plataformas de networking coorporativo do Brasil. A estreia será em evento nacional nesta terça-feira (7), para 250 executivos, durante a Confraria de Economia, no Villagio JK. Sob a curadoria da publicação gaúcha, estarão os coordenadores econômicos de três presidenciáveis: Persio Arida (Geraldo Alckmin), Gustavo Franco (João Amoêdo) e Mauro Benevides Filho (Ciro Gomes). Eles debaterão futuro do Brasil mediados por Marcos Troyjo, colunista da VOTO.
      
A discussão estará focada em ideias e propostas para superar a crise da economia brasileira. Para anteceder o debate, o ex-ministro das Finanças do Chile (2006-2010) Andres Velasco fará uma palestra sobre macroeconomia internacional e seus reflexos na América Latina. Autor de diversos livros a respeito do tema, o economista é autoridade mundial em equilíbrio de contas públicas.   
       
Para a publisher da Revista VOTO, Karim Miskulin, o evento representa abertura de espaço na região Sudeste, sobretudo em São Paulo, o coração financeiro do país. “Unimos credibilidades de plataformas para permitir mais conhecimento, transformação e networking na relação governamental e coorporativa”, afirma. Para novembro, a aliança Experience Club e Revista VOTO analisará “A construção de uma nova cultura empresarial”, em perspectiva após as eleições.
       
Na ótica de Ricardo Natale, cofundador e CEO do Experience Club, a VOTO traz consigo expertise de importantes eventos e relações sólidas com as maiores lideranças da política brasileira. “Nossos associados e patrocinadores ganham um novo parceiro com reputação e prestígio para potencializar conexões entre os setores público e privado”, avalia. 

Especialista mundial em transplante de sangue de cordão umbilical fala pela primeira vez no RS


Especialista mundial em transplante de sangue de cordão umbilical fala pela primeira vez no RS

     Uma plateia atenta assistiu na manhã de sexta-feira, 3 de agosto, a palestra “Trinta anos de coleta e uso de sangue de cordão umbilical - O que evoluiu?”, ministrada por um dos maiores nomes mundiais no assunto, a Dra. Joanne Kurtzberg.
    
     A médica e pesquisadora americana, especialista em onco-hematologia pediátrica, transplante pediátrico de sangue e de medula óssea, armazenamento e transplante de sangue de cordão umbilical e em novas aplicações das células do cordão umbilical nos campos emergentes de terapias celulares e da medicina regenerativa, veio a Porto Alegre pela primeira vez. Ela participou do XXI Congresso Gaúcho de Ginecologia e Obstetrícia, que aconteceu no Plaza São Rafael.
    
     Durante a palestra, a médica falou sobre os avanços relacionados ao transplante de sangue de cordão umbilical nas últimas três décadas, apresentando, ao longo da explanação, diversos cases de sucesso em pacientes pediátricos com doenças hematológicas e doenças metabólicas.
    
     Na ocasião, a especialista abordou também os estudos que vem realizando nos Estados Unidos, sobre o uso do sangue de cordão em crianças com paralisia cerebral e autismo. A partir de vídeos e resultados da pesquisa, ela mostrou a melhora na qualidade de vida e a evolução em diferentes aspetos neurológicos e comportamentais nos pacientes tratados.
    
     As pesquisas da Dra. Kurtzberg estão evoluindo. Ela estima que em, aproximadamente, um ano possa apresentar resultados de estudos mais aprofundados que comprovarão ou não o benefício da terapia com sangue de cordão para autismo.
    
     De forma otimista, a médica acredita que dentro de dois a cinco anos o sangue de cordão poderá ter um papel importante em diversas terapias regenerativas, incluindo lesões neurológicas. A especialista atua junto à agência reguladora americana Food and Drug Administration – FDA para o desenvolvimento do estudo clínico fase 3 de paralisia cerebral.
    
     Considerado uma fonte viável de células-tronco hematopoiéticas e glóbulos brancos mais imaturos, o sangue de cordão é aprovado pela Anvisa no Brasil, e pela FDA nos EUA, para ser utilizado em transplantes de medula óssea, como parte do tratamento de aproximadamente 80 doenças, incluindo leucemias, linfomas, anemias graves, doenças metabólicas, imunodeficiências e tumores sólidos.
    
     A coleta do sangue e do tecido do cordão umbilical é realizada por profissionais capacitados dos bancos de cordão umbilical. O procedimento é feito logo após o nascimento do bebê, de forma segura, indolor e sem riscos para a mãe e para o recém-nascido. O material coletado é congelado, armazenado e fica disponível para uso imediato ou futuro, conforme a necessidade.
    
     Em três décadas, já foram realizados mais de 40 mil transplantes de sangue de cordão em todo o mundo, e mais de 4 milhões de unidades foram armazenadas em bancos de cordão umbilical. Até hoje, já foram utilizadas mais de 200 unidades de sangue de cordão provenientes de bancos públicos e privados brasileiros.
    

Informações importantes:

• Dra. Kurtzberg participou do primeiro transplante de sangue de cordão da história, em 1988, realizado em um paciente seu: o menino Matthew, diagnosticado com anemia de Fanconi e insuficiência da medula óssea. O sangue de cordão utilizado no transplante foi coletado no nascimento da irmã caçula e armazenado nos EUA. O transplante ocorreu no Hospital Saint-Louis, em Paris, sob coordenação da Dra. Eliane Gluckman, e Matthew foi efetivamente curado. Atualmente, ele leva uma vida normal e saudável.
    
• Desde 2010, ano em que criou o Programa Robertson de Terapia Celular Clínica e Translacional na Universidade Duke, a Dra. Kurtzberg se dedica ao estudo e desenvolvimento de novas terapias derivadas do sangue de cordão e do tecido de cordão, para o tratamento de doenças não-hematológicas.
    
• No Brasil, o primeiro transplante de sangue de cordão foi um transplante alogênico - quando o paciente recebe células de outra pessoa - realizado em 1997, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Dois anos depois, a mesma instituição foi pioneira ao realizar o primeiro transplante de sangue de cordão autólogo - quando o paciente recebe suas próprias células - do mundo. O tratamento foi realizado em uma menina de quatro anos com neuroblastoma, um tumor sólido originário do sistema nervoso.

• O transplante de sangue de cordão é seguro e oferece benefícios aos pacientes, incluindo igual ou maior probabilidade de sobrevivência após o procedimento e menores chances de rejeição e recaída da doença, em comparação ao transplante de medula óssea.

• Os resultados das pesquisas da Dra. Joanne Kurtzberg estão influenciando a agência reguladora americana FDA para a aprovação de novos tratamentos com o sangue de cordão dentro dos próximos anos.


Um pouco mais sobre a Dra Joanne Kurtzberg
No currículo, Joanne Kurtzberg também acumula experiências como presidente da Cord Blood Association (CBA) - a Associação de Sangue de Cordão, Diretora Médica-Científica do Programa Robertson de Terapia Celular Clínica e Translacional da Universidade Duke, Diretora do Programa Pediátrico de Transplante de Sangue de Cordão e de Medula Óssea da Universidade Duke, e Diretora do Banco de Sangue de Cordão Carolinas - banco público na Universidade Duke.


Livro conta história de Alaor Rocha

O advogado Thiago Rocha Moyses (foto) lança, nesta segunda-feira, a partir das 19 horas, na churrascaria Barranco, em Porto Alegre, o livro “O Catavento Voador – Biografia de Alaor Irani Rocha”, pela Farol 3 Editores. Nele, o autor, neto do retratado, descreve quem foi esse jornalista, radialista e político de Caxias do Sul. O prefácio é assinado pelo governador José Ivo Sartori, ao lado de quem Alaor militou por décadas no antigo MDB e de quem chegou a ser coordenador de uma de suas campanhas à prefeitura da cidade. Ele teve seu mandato de vereador suplente cassado, em 1964.

Com palavras generosas, Sartori assim o descreve: “Ele sabia de minha origem, e eu, a respeito dele, que tinha concorrido a vereador pela Aliança Republicana Socialista (ARS), junção do Partido Comunista Brasileiro e o Partido Republicano. A luta pela democracia, na época comum a vários setores da sociedade brasileira, talvez tenha sido um dos fatores responsáveis por nossa aproximação, esse encontro de afinidades e a consequente amizade que surgiu. Alaor tinha muito claro a percepção sobre os princípios democráticos, sabia conviver com todos, incluindo os adversários e aqueles de pensamento divergente”.

Natural de São Francisco de Paula, foi em Caxias do Sul que Alaor desenvolveu sua trajetória sólida e marcante, merecendo, em 2000, ter seu nome em um logradouro da cidade serrana. Posteriormente, em 2013, a Câmara Municipal anulou o requerimento aprovado na 15ª sessão ordinária da 5ª Legislatura, em 20 de abril de 1964, cassando titulares e suplentes da ARS, eleitos em novembro de 1963 para exercerem mandatos no período de 1964 a 1967, dentre os quais Alaor se incluía.

Artigo, Denis Lerrer Rosenfield - Percepção do novo

              O novo é percebido de diversas maneiras. Não há um sentido unívoco que seja compreendido pela opinião pública e pelos diferentes atores políticos. Cada um veicula a sua própria noção ao sabor das conveniências e das circunstâncias.
                Nos últimos anos e, sobretudo, nos últimos meses fomos tomados pela ideia de que a sociedade brasileira estaria em busca do “novo” na política, sem que haja uma maior precisão a respeito. O que disto mais se aproxima é o desejo generalizado pela moralidade pública. É como se a vida do país se reduzisse à luta contra a corrupção, relegando a segundo plano as questões relativas às reformas que o Brasil tanto precisa.
                Até recentemente, o “novo” foi também identificado à entrada de outsiders na política, como se estivéssemos diante de uma novidade que poderia alterar o rumo das coisas. Alguns saíram, inclusive, com uma boa popularidade inicial em pesquisas de opinião, porém logo abandonaram a seara pública. A política possui agruras, violências e obstáculos que fazem que mesmo os mais bem intencionados não resistam ao seu teste inicial.
                A questão reside em que medida o anseio social pelo novo se traduz por intenções de voto. Uma coisa é o desejo generalizado por mudanças, outra muito distinta é a sua concretização em escolhas propriamente eleitorais.
                Haveria um descompasso entre a demanda de renovação política, assumida teoricamente pela sociedade, e as escolhas que se apresentam do ponto de vista político-partidário. A Lava Jato tornou-se um símbolo por encarnar a luta contra a corrupção, mas as intenções de voto, em boa parte, estão dirigidas à perpetuação de personagens políticos e partidos que são símbolos desta mesma corrupção.
A política é percebida por um setor importante da opinião pública como um lugar de tráfico de influências e de negociatas dos mais diferentes tipos, relegando o bem comum a uma posição subalterna. Identifica-se a velha política à atual classe dirigente, responsável por desvios e apropriação privada de recursos públicos. Portanto, a nova política deveria ser uma espécie de redenção da velha, salientando-se os aspectos de moralidade pública como sendo os mais relevantes.
Acontece, contudo, que os problemas nacionais não se reduzem a uma visão que se esgotaria no combate pela moralidade pública, mas colocam na ordem do dia a urgência de reformas, cuja ausência pode conduzir o país a uma situação de insolvência. Entretanto, a necessidade de reformas não é percebida por um setor importante da sociedade como sendo algo indispensável. Ela mais bem representaria uma forma da “velha política” e não da “nova”.
Vejamos sucintamente como se articulam estas relações entre a percepção do “novo” e do “velho” nas intenções de voto para a Presidência da República em algumas das candidaturas com maiores chances eleitorais.
O deputado Jair Bolsonaro está sendo o desaguadouro de boa parte da insatisfação da sociedade, por encarnar o “novo” na luta contra a corrupção e contra a atual classe política. Não importa, para este efeito, que ele não seja um outsider, mas alguém com uma longa trajetória parlamentar. Ele conseguiu consolidar a imagem de que não guarda nenhuma relação com a atual classe política, recusando-se a qualquer aliança política que possa denegrir esta percepção. Seja dito a seu favor que o seu passado parlamentar é limpo do ponto de vista de atos de corrupção. Encarna, neste sentido, na perspectiva da moralidade pública, o “novo” e o descompromisso com a atual classe política. Ademais, no contexto de descalabro nacional da segurança pública, sua luta contra a criminalidade aparece também como algo “novo”, tendo em vista a desatenção a este problema por todos os governos desde a redemocratização. Do ponto de vista econômico, não tem apresentado o seu programa de governo, embora venha sinalizando pela escolha de seu ministro da Fazenda, caso eleito, para posições de tipo liberal. Estaria, hoje, mais para o governo Castelo Branco do que para o governo Geisel.
O poste de Lula, seja quem for o(a) ungido(a), tem boas chances de estar presente no segundo turno, dada a forma empregada pelo PT para instrumentalizar as orientações do ex-presidente. Ocorre aqui um fenômeno particularmente interessante, pois são Lula, Dilma e o PT os principais responsáveis do descalabro fiscal, dos graves problemas econômicos e sociais do país, além de serem os principais atores dos crimes de corrupção. Isto é, a escolha pelo preposto de Lula seria uma opção pela “velha política”, apesar de ser apresentada como ideologicamente palatável graças a uma suposta luta por “direitos sociais”. Do ponto de vista econômico, o PT posicionou-se contra qualquer agenda reformista, contentando-se com a repetição dos velhos chavões de outrora.
O candidato tucano está, por sua vez, atravessado por contradições importantes. Para ganhar tempo de televisão, optou por uma composição partidária que em tudo reproduz à do atual governo, cuja impopularidade em boa parte reside nestas mesmas alianças. Geraldo Alckmin teria, então, feito uma escolha pela “velha política”, distanciando-se de um eleitorado que clama pela “nova política”. Aliás, foi este mesmo o discurso utilizado pelos tucanos para distanciarem-se do atual governo. Perdeu, neste sentido, o discurso da “nova política”, além de ter em seu partido vários ex-dirigentes envolvidos em investigações e condenações. Do ponto de vista econômico, sua agenda apresenta-se como reformista. Ocorre, porém, que os tucanos nos últimos meses posicionaram-se frequentemente contra a agenda reformista do atual governo, vindo, inclusive, em vários momentos a torpedeá-la. E o fizeram dizendo que não aceitavam os métodos utilizados, isto é, os mesmos que estão sendo escolhidos atualmente nas novas alianças partidárias.
                Qual é, então, o sentido das mudanças exigidas pela sociedade? Vão para “algo novo” ou visam ao restabelecimento do “velho”?

Entrevista, Marcos Troyjo - O mundo está dando uma nova chance ao Brasil


Entrevista, Marcos Troyjo - O mundo está dando uma nova chance ao Brasil

- Marcos Troyjo é economista e cientista políico.

A entrevista foi concedida aos repórteres Marco Ankosque e Germano Oliveira

O economista e cientista político Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, avalia que o Brasil já teve inúmeras oportunidades para desenvolver sua economia e obter papel de destaque no comércio internacional, mas desperdiçou a maioria delas, sobretudo por não realizar reformas estruturais que tornassem o País mais atraente aos investidores estrangeiros, que hoje dispõem de enormes recursos para aplicar em países emergentes. Uma dessas oportunidades perdidas, segundo ele, aconteceu no governo Lula, período no qual as commodities agrícolas viveram um momento amplamente favorável, mas o petista preferiu adotar políticas populistas e protecionistas que afastaram grandes investimentos. Agora, contudo, de acordo com Troyjo, o mundo está dando “uma nova chance ao Brasil”, mas adverte:“o País não pode eleger um presidente que defenda o nacional-desenvolvimentismo como alternativa, como é o caso do PT, PCdoB, PSol e, às vezes, Ciro Gomes”. Especialista em política externa, Troyjo está finalizando o livro “Choque de Globalizações: o Brasil em Busca da Grande Estratégia”, que chega às livrarias em outubro.
O senhor diz no seu livro que a globalização vem perdendo força, sobretudo por causa do crescimento do populismo e da intolerância no mundo. Como isso está se dando?
Quando acabou a guerra fria, a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, o mundo foi tomado de um grande entusiasmo no início da década de 90, com a vitória do Ocidente, dos países mais democráticos, com economias abertas, prevalecendo o livre mercado. Desse período até a grande crise do Lehman Brothers em 2008, vivemos um processo de globalização profunda. De 2008 para cá, os sinais se inverteram. O clima de livre comércio foi substituído por sinais do protecionismo e pelo mundo do cada um por si, devido ao populismo e intolerância. Eu chamo esse período dos últimos dez anos de desglobalização. O comércio internacional, por exemplo, começou a cair. A livre circulação de bens e de serviços, também começaram a cair. E ao mesmo tempo aumentaram as restrições no intercâmbio de universidades, no mercado de trabalho.
O que a desglobalização está provocando de malefícios para a humanidade?
Estamos tendo uma perda de eficiência da economia muito grande. Num momento em que uma empresa como a Starbucks tem que comprar o papel que envolve os canudinhos de uma fábrica em Ohio, em vez de comprá-los em uma fábrica na Tailândia, por uma fração do preço que paga nos Estados Unidos, isso gera desemprego no local onde anteriormente a empresa tinha sua operação. E isso onera a plataforma de custos das empresas, afetando seu balanço patrimonial. Na última sexta-feira 27, quando se anunciou o PIB americano, de 4,1% de expansão no trimestre, todo mundo ficou de olho arregalado, mas as bolsas caíram. E não foi só por causa do efeito das ações do Facebook e Twitter. Mas também porque há a idéia de que haverá uma adequação do PIB americano por conta da guerra comercial desenvolvida por Trump e essa é uma das facetas da desglobalização. Com a guerra comercial que vem por aí, quem perde mais são os países que tem grandes empresas transnacionais e nenhum país tem tantas empresas transnacionais como os EUA.
O senhor diz ainda no seu livro que o Brasil também teve um grande um ciclo populista e protecionista. Como foi esse processo?
Tivemos um ciclo populista e protecionista de 2003 a 2016, durante os governos do PT. E por que esse período foi lamentável? Em primeiro lugar, porque o mundo esteve muito bom para o Brasil e não se aproveitou as chances que nos foram dadas. Se levarmos em consideração o grande ciclo favorável das commodities, os grandes estoques de liquidez disponíveis no mundo para serem aplicados em países com pouca poupança, como era o caso do Brasil, e também as vantagens comparativas que temos em produtos como a soja, poderíamos ter aproveitado esse vento de cauda para ter feito as reformas estruturais e nós não as fizemos. E não fizemos por quê? Porque o governo teve a sensação de que os bons tempos iriam perdurar para sempre. E isso fez com que os governos petistas não mexessem em problemas cruciais, como a Previdência e as questões trabalhistas, o que nos deixou em continuado atraso, vivendo esse grande ciclo populista.
E o ciclo protecionista?
Também durante os governos petistas vivemos o renascimento das antigas teses de substituição de importações, com a idéia de desenvolver uma cadeia de produção vertical em todo o território nacional e que, para isso, deveríamos dar incentivos aos chamados campeões nacionais. O Brasil voltou a adotar uma estratégia econômica parecida com a que foi adotada nos anos 40 ou 50, ou mesmo no período nacional-desenvolvimentista do regime militar. É muito parecida a filosofia econômica do PT com a adotada pelo governo militar. E um dos legados disso foi ver como o Brasil diminuiu sua participação no fluxo do comércio internacional. Tudo o que o Brasil exporta e importa — e que chegou ser de 2,5% do comércio mundial — agora é de 1%. Se fizermos uma radiografia do nosso comércio, vamos perceber que tudo o que o Brasil importa, somado ao que exporta, dá 22% do nosso PIB. Das 15 maiores economias do mundo, é o menor contingente em relação ao PIB.
O período petista representou, então, um retrocesso?
Foi uma oportunidade desperdiçada. Deveríamos ter feito as reformas internas e, sobretudo, a reforma na nossa inserção internacional. Reforma que levasse nosso comércio ao patamar de 35% a 40% do PIB, com a adoção de uma política voltada para a ampliação das exportações e importações, assinando novos acordos comerciais.
Dos candidatos a presidente que estão aí, quem ameaça o nosso melhor desempenho internacional?
Quem continua defendendo o nacional-desenvolvimentismo como alternativa é o PT, PCdoB, PSol e às vezes Ciro Gomes, que tem um discurso um pouco pendular. A não ser que ele esteja utilizando a estratégia do violino: pega com a esquerda, mas toca com a direita. Já o Meirelles, o Alckmin e o Bolsonaro/Paulo Guedes, têm adotado uma retórica mais liberal de inserção internacional. Eles entendem melhor as necessidades do dinamismo do nosso comércio.
O senhor afirma que, além dos Estados Unidos na era Trump, também a Europa tem se tornado mais protecionista. De que forma isso está acontecendo?
O protecionismo da Europa é mais sofisticado. As tarifas na União Européia até estão caindo, mas eles têm muitas barreiras fitossanitárias e barreiras técnicas, que acabam funcionando como protecionistas. Vou dar um exemplo. Exportação de carne de gado. Eles exigem a rastreabilidade, desde o momento do nascimento do animal, com chip subcutâneo, para o acompanhamento em real-time da sua saúde. Fazem exigências enormes. Ou então eles dão subsídios para seus produtores e isso torna os produtos dos concorrentes quase que inviáveis.
Nos próximos dois anos e meio, essa guerra travada por Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil
O senhor avalia que a tendência é da China se tornar a maior economia do mundo, superando os EUA. Então o Brasil deveria se aproximar ainda mais da China?
Já estamos muito próximos da China. É o nosso principal parceiro comercial e provavelmente vamos fechar 2018 com exportações para a China que representam quase o dobro das nossas exportações para os EUA. Para a China, vendemos muita soja, minério de ferro, petróleo. Mas é importante perguntar para os candidatos a presidente que estão aí qual é sua política para a China? Além de parceiro comercial, a China cada vez mais é fonte de investimento estrangeiro direto. Nesses processos de fusões e aquisições, os chineses estão comprando muita coisa no Brasil. Ainda é um dos poucos países do mundo que podem atuar como fonte de empréstimo governo a governo, porque isso quase não existe mais no mundo. Existia nos anos 70 e 80, quando o governo americano e o governo japonês faziam empréstimos-ponte. Isso só os chineses fazem hoje. E como os chineses precisam ter garantias para seu processo alimentar, é natural que seus investimentos também venham mais para o Brasil. Os candidatos a presidente precisam saber lidar com a China.
Nessa guerra comercial que os EUA começam a fazer, o Brasil pode sair como perdedor?
Pelo contrário. Nos próximos dois anos e meio, a guerra comercial travada pelo Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil. Trará benefícios porque hoje os chineses compram R$ 14 bilhões por ano em soja dos EUA. E se os chineses retaliarem os americanos na soja, o produto tem que ir de algum lugar. E pode ser do Brasil e da Argentina.
Então os cenários são favoráveis ao Brasil?
Um dos legados da política nacionalista dos governos do PT foi ver que a participação do Brasil no comércio mundial caiu de 2,5% para os atuais 1%
O mundo não está ruim para o Brasil. Há uma demanda aquecida por commoditeis e há um grande estoque de dinheiro no mundo sedento por aplicações em mercados emergentes. Os grandes centros internacionais de liquidez, como China, Japão e países Árabes, querem diversificar seus investimentos. Temos espaço agora para correr atrás na atração desses capitais. Provavelmente, teremos que intensificar nosso processo de privatizações e de projetos de parcerias-público-privadas. Uma das características umbilicais desse nocivo processo de desenvolvimento nacionalista do governo petista entre 2003 e 2016 foi a de cultivar a idéia de que poderíamos fazer tudo por meio da liderança do Estado.
O que o novo presidente pode fazer para melhorar a inserção do Brasil no comércio internacional?
É indispensável uma maior promoção do Brasil no exterior. Nossa presença física em vários mercados é inadiável. Ter agências de promoção de negócios em Cingapura, Xangai, Londres. Poderíamos aproveitar melhor nosso patrimônio no exterior. O Brasil tem um imóvel gigantesco em Nova York, na rua 79. E para o que serve aquilo? Para o embaixador dormir. A embaixada deveria ser uma agência de promoção do Brasil.
E não podemos repetir erros do passado, certo?
O mundo está, mais uma vez, dando uma chance para o Brasil. O que poderia ser negativo, como a guerra comercial, nos dará oportunidades para novos negócios. Eu não digo que estamos entrando num dia de sol perfeito, mas estamos com boas chances de crescer no comércio internacional e alavancar nossa economia. Já tivemos várias oportunidades e perdemos quase todas. Vamos perder mais uma chance ou vamos aproveitar que nossas commodities serão valorizadas e que há um grande volume de recursos para investir nos países emergentes? Não podemos perder essa nova chance.