O Supremo, supremamente legislando, como gosta de fazer –
tenho medo de quando decretarem o fim, talvez por inconstitucionalidade, da Lei
da Gravitação Universal, e nos ponhamos todos a flutuar pelos ares –, decretou
que a “homofobia” é crime, equiparando tal coisa ao racismo. Então, talvez
pelos cansados e doloridos ossos do ofício de quem vive a pensar esta nossa
complexa sociedade, pergunto eu o que são essas coisas todas ora
criminalizadas. Não digo o que a lei vá determinar que sejam, de acordo com os ventos
da moda e a cabeça dos juízes – de que, tal como de bumbum de neném, ninguém
sabe o que vem. Mas o que são, de verdade, essas coisas que vêm de ser
criminalizadas.
A primeira, que já estava na lei, é relativamente
simples: racismo é tratar de forma diferente as pessoas em função de variações
fenotípicas de aparência, como formato do olho, largura das narinas ou lábios,
cor de pele e outros critérios irrelevantes. Que estas tenham sido tomadas no
lugar de, sei lá, tamanho do pé, proporção na maior dimensão entre os ossos
calcâneo e tíbia, formato de orelha (utilíssimo para identificar elfos!) ou
qualquer outra besteira, é meramente questão cultural – japoneses são racistas
contra os coreanos, mas poucos brasileiros seriam capazes de saber qual é qual.
O tal racismo, todavia, ou antes o racismo pregado sob a
fantasia de combatê-lo pelos movimentos ditos “negros”, é mera importação de
uma imbecilidade americana (mais uma, meu Deus!, até quando?!). Lá eles usaram,
e usam ainda, esses elementos fenotípicos para manter separadas, na medida do
possível, as nações (culturalmente distintas ao ponto de terem música e
culinária próprias, sotaques diferentes etc.) descendentes dos norte-europeus,
até agora predominantes; descendentes de escravos africanos (até agora comendo
o pão que o Diabo amassou); e, nos últimos anos, os descendentes da maravilhosa
mestiçagem entre espanhóis e nativos (estes últimos viraram uma estranha raça
“hispânica” em que não entram os espanhóis). Lá, manter essa ficção de “raças”
é um modo de lidar com um problema que na verdade é um “problema das nações”,
em muito semelhante ao dos soviéticos, que também tinham de lidar com variações
nacionais num todo que se supunha uma nação única. Vejam bem: não é certo;
quando um americano refere-se a uma “raça”, ele na verdade está se referindo a
uma nação. Mas o que é um termo, quando o seu sentido é plena e perfeitamente
percebido, quando alguém pode ter a aparência duma “raça” e secretamente ser de
outra, como no caso de Rachel Dolezal e, antes dela, de inúmeros afro-americans
de pele clara que se passaram por whites, como George Herriman, quando era isso
o mais conveniente?
Já aqui, claro, a palhaçada não tem como ir mais longe.
Temos todos a mesma cultura, falamos com o mesmo sotaque e, principalmente,
temos todos ancestrais tanto europeus quanto ameríndios e africanos, com a
relativamente rara exceção de descendentes de gente que imigrou depois do fim
da escravidão e, portanto, não tem chongas a ver com supostas questões raciais
decorrentes da escravização de gente de pele muito escura por gente de pele de
todas as cores. Preta inclusive.
Em outras palavras, podemos, tranquilamente, dizer no
Brasil que “racismo” consiste naquilo que fazem os movimentos racialistas
importados da gringa: acreditar em supostas raças. Quem trata alguém melhor ou
pior por sei-lá-qual besteira fenotípica, além de tirar carteirinha de otário,
enquadra-se no tal racismo. É o triste caso de gente cujo cérebro foi tão bem
lavado a seco, enxugado e passado a ferro por movimentos racialistas que chega
ao triste ponto de sair pela rua com cartazes dizendo que “miscigenação é
genocídio”, e outras frases tão infelizes que causariam enorme alegria num
nazista. Há também um que outro idiota que, por alguma razão que seus dois neurônios
lhe insinuam, acha mais provável que gente com a pele assim ou assada seja
melhor ou pior nisso ou naquilo. Nos Estados Unidos, repito, há componentes
culturais nacionais que acentuam este ou aquele aspecto, e o que lá se chama de
“raça” é na verdade nação. Eu confiaria mais num alemão para cantar em coro que
num irlandês ou francês, por exemplo. Mas aqui, em que graças a Deus nos
misturamos todos desde antes de o bispo Sardinha virar ensopado de frutos do
mar, chega a ser engraçada tal ideia.
Racismo é idiotice, pura e simples. É separar o
inseparável, ontologizando um acidente irrelevante
Chegamos, então, a uma primeira conclusão: racismo é
idiotice, pura e simples. É separar o inseparável, ontologizando um acidente
irrelevante.
E a tal “homofobia”? Esta é bem mais complicada.
Primeiro, etimologicamente, o termo não faz lá muito sentido. “Homo” significa
“igual”, “o mesmo”, como em “homossexual” (que seria quem sente primordialmente
atração sexual por pessoas do mesmo sexo, de sexo igual). “Fobia”, por seu
lado, é “medo”. Assim, a “homofobia” seria o medo do igual. Tendo em mente o
uso vulgar, vulgaríssimo, do termo na política e nas lúgubres e tristonhas
redações de jornal, entretanto, daria até para requentar aquela noção,
parcialmente verdadeira, segundo a qual quem tem propensão a um determinado
pecado, mas que procura não cometê-lo, tem mais medo dele que quem não tem tal
propensão. Faz sentido. Um ladrão regenerado foge de oportunidades de furtar
algo; um alcoólatra sóbrio foge de bares; e alguém que sente desejo sexual por
pessoas do mesmo sexo, mas racionalmente não quer realizá-lo foge, tem medo, de
saunas gay, passeatas do orgulho idem, e por aí vai. Ele teria medo do igual,
no sentido de ver o igual como alguém que caiu num abismo que o atrai, que o
chama, e ele deseja desse abismo afastar-se o mais que puder.
Mas não. Infelizmente, o que querem criminalizar ao fazer
um crime da tal “homofobia” seria o desagrado com o comportamento sexualmente
ativo em relação ao mesmo sexo – coisa que, curiosamente, todas as religiões
com um tempinho mais de estrada (não estou falando de seitas abertas ontem à
tarde) unanimemente condenam. Como venho dizendo há anos, o que os movimentos
LGBT desejam não é a tolerância; esta, no Brasil, felizmente, eles já tinham.
Nunca houve aldeões com archotes esperando Cauby Peixoto à porta das casas de
espetáculo. Sempre se considerou perfeitamente normal que duas senhoras
morassem juntas, e a disposição das camas no apartamento nunca foi da conta de
ninguém. Mas não; a tolerância não lhes bastava. Queriam que o que todas as
religiões tradicionais – inclusive a que fez do Brasil o Brasil – condenam, ou
seja, a prática da homossexualidade, fosse mais que tolerada quando mantida
entre quatro paredes. Queriam que fosse igualada ao que a Igreja, que nos deu
nossa civilização, considera um sacramento, ou seja, uma realidade visível e
eficaz de uma realidade salvífica invisível: o matrimônio.
Ao seu modo, conseguiram. Não, claro, inventando um
sacramento gay, mas levando às últimas consequências o que já estava em semente
naquilo que Antônio Conselheiro, de santa memória, condenou como armadilha
diabólica: o “casamento” civil. Quando o matrimônio se transforma em mero
contrato, esse contrato pode primeiro ser abjurado e desfeito (o divórcio:
demorou, mas chegou), e em seguida pode ser aberto a todo tipo de sociedade:
daí o “casamento gay”, a poligamia ou poliandria (já há alguns casos
registrados), em breve quiçá o casamento consigo mesmo (por enquanto existente
apenas como farsa), com crianças, com bichos, com cadeiras, pianos ou telefones
celulares.
Note-se que isso nada tem a ver com o amor que tenham ou
não as pessoas. A questão é outra, totalmente outra. A sociedade reconhece o
casamento, que é uma instituição de direito natural, pelo fato simples e
evidente de que é nele que as próximas gerações são concebidas e criadas. É
mero reconhecimento de fato preexistente na natureza. É exatamente como a
menoridade penal, que visa reconhecer a diferença cognitiva e comportamental entre
uma criança e um adulto, e não é em absoluto criada pela lei, apenas
reconhecida por ela. Simples assim. Qualquer coisa que saia da união conjugal
fértil, monogâmica e indissolúvel já não seria, de modo algum, casamento. A
celebração do amor existente no presente entre as pessoas não é o que faz o
casamento.
Seria horrendo se o sexo não fosse de alguma maneira
regrado pela sociedade
É perfeitamente possível, aliás, que haja casamento sem
nenhum amor presente, como sempre foram os das famílias reais, por exemplo, em
que na melhor das hipóteses os noivos viam um retratinho (pintado por um pintor
muito generoso!) do futuro cônjuge. É o que ocorre também nos casamentos
arranjados, que provavelmente hoje ainda correspondem à maioria absoluta dos
casamentos no mundo, em grande parte devido aos indianos – há páginas de
casamenteiros virtuais em que se encontram classificados como “doutora em
Inteligência Artificial por Harvard, da casta tal, procura marido de casta e
formação acadêmica equivalentes”. Ou seja: amor, afeto e desejo sexuais
presentes são uma coisa, e casamento é outra, totalmente diferente. Mas divago.
Então, na ascensão das demandas do movimento organizado
gay (que – não tenho dados confiáveis, infelizmente – provavelmente não
correspondem às demandas reais dos que supostamente seriam representados por
ele), após a equiparação de qualquer contubérnio sexuado ao matrimônio, vem a
etapa seguinte.
A campanha é furiosa. É difícil ver uma página de
notícias na internet que não tenha manchetes trombeteando a bondade e beleza
intrínsecas da relação venérea com o mesmo sexo a cada poucas outras manchetes.
Na tevê – que graças a Deus não tenho, não assisto e em nada me atrai, muito
pelo contrário – dizem que a situação é ainda pior. Eu sei que os anúncios de
novas novelas já avisam que haverá drag queens, trans, casais gay, o diabo
aquático, como já dizia Vicente Matheus. E precisamente como com o tal do
racismo, pra variar, a campanha “anti-homofobia” (seja lá o que isso for) é
importação da Gringolândia. Lá eles chegaram ao ponto de processar até a
falência confeiteiros que não queriam fazer bolos para os tais casamentos gays,
entre outras medidas pesadas. Aqui eles contam com o STF para fazer o que
jamais seria feito por quem quer que tivesse de responder aos clamores
populares.
Mas o problema de base é outro, como venho insistindo à
margem de toda essa confusão. O problema é, primeiro, referente ao sexo. O que
é sexo? Ele pode ser percebido como uma pulsão, um anseio, em cujo caso ele
será sempre uma negação: o que eu desejo é aquilo que eu não tenho. Se desejo a
Fulana (ou o Fulano, ou "n" Fulanas, ou "n" Fulanos), só o
que isso significa é que eu não a tenho. Que há um buraco em meu ser na forma
destoutro ser que desejo. O/a Fulano/a, neste caso, será apenas um conduto para
o meu prazer (por mais que eu a/o ame, ou tenha me convencido disso).
A outra forma de ver o mesmo fenômeno humano é como o
processo que gera novos representantes da nossa espécie. Parece triste, é
verdade, reduzir algo tão cheio de sentidos diversos para o ser humano
(mormente o ser humano que ama) a algo tão básico e elementar, algo tão animal,
quanto isso. Qual é a diferença, neste modo de ver, entre o sexo conjugal e o
sapinho que espreme a sapinha para que ela solte óvulos sobre os quais
(perdoem-me, leitores mais delicados) ele ejaculará para fazer surgir a próxima
geração de girinos? Quase nenhuma.
Mas há uma diferença: o homem, por ser dotado de razão e
por viver em sociedade (somos, afinal, já dizia Aristóteles, um “animal
naturalmente social”), precisa lidar com isso de alguma maneira, como lida com
a necessidade de alimentar-se. Assim como seria péssimo se as pessoas, por
exemplo, comessem às escondidas, trancadas num cômodo fechado, tentando
deglutir o máximo no menor período de tempo, ou se nós simplesmente
agarrássemos a comida e a enfiássemos boca adentro em qualquer lugar (até
mesmo, horresco referens, andando rua afora, como fazem os gringos mais
selvagens), seria horrendo se o sexo não fosse de alguma maneira regrado pela
sociedade.
E é este regramento que a campanha ora em curso, que
espero em Deus tenha atingido seu ápice na derradeira barbaridade
pseudolegislativa do STF, põe em risco. A sociedade sempre reconheceu o segundo
modo de ver o sexo (como atividade reprodutiva) de forma a preservar o ambiente
conjugal em que ele ocorre, para o bem das próximas gerações. É coisa boa e
nobre que isso seja feito: assim toda criança tem preservado o seu direito a
ter um pai e uma mãe, por exemplo, e nos raros casos em que um deles ou ambos
se perdem ela pode ser adotada – dando-se-lhe pai e mãe formalmente, em geral
reconhecendo quem a cria materialmente. Mas basicamente, ao reconhecer esta
forma, continua entre quatro paredes a outra, que apontei em primeiro lugar. Os
carinhos conjugais têm seu lugar: no quarto do casal, ou, na pior das
hipóteses, na sala de estar quando não há visitas. Na rua, nunca foi de bom tom
que mesmo casais casados e com filhos entretivessem-se em longos beijos
luxuriosos, por exemplo, que dirá que se apresentassem ao outro com lingeries
sexy ou coisa do gênero.
Mas fez-se a mistura, ao decretar-se, num outro fiat
pseudolegislativo, que o casamento seria qualquer união sexuada. Foi já uma
medida péssima por excluir de uma ampliação indevida do termo outros
agrupamentos parafamiliares que teriam todo o direito a ver-se incluídos;
afinal, qual seria a diferença entre duas senhoras solteironas que dividem uma
casa e dão-se mutuamente prazer sexual ou outras duas senhoras, que igualmente
dividam uma casa, mas que não se entregam a práticas tríbades? Ora bolas, no
que a sociedade tem o seu pitaco a dar, absolutamente nenhuma! O que elas fazem
entre quatro paredes lhes compete e a Deus, e só. Mas, ao misturar um sentido
com o outro do sexo, uma visão com a outra do mesmo fenômeno, as segundas
solteironas viram-se ou bem obrigadas a mentir para o oficial de cartório sobre
seu uso dos aparelhos reprodutivo e digestivo (coisa que jamais deveria ser da
alçada dele!) ou bem a continuar sem amparo legal para o seu arranjo.
Agora, com o desejo sendo tratado como fonte da
identidade, a cama foi para a rua. Ou para cima do ponto de ônibus
Houve, e há, casos evidentes de injustiça na
impossibilidade legal anterior de reconhecer os arranjos domésticos outros que
não os conjugais. O herdeiro dos Guinle, por exemplo, era um artista
conceituado, mas sem muito juízo financeiro, que gastava o dinheiro à medida
que entrava. Juntou-se com outro rapaz, e este arranjou-lhe as finanças de tal
modo que, quando faleceu, era ele quem tinha mais dinheiro na falida família.
Esta, imediatamente, passou a tentar arrancar para si o dinheiro que por
justiça seria do companheiro do falecido. A injustiça é evidente, e merecia
remédio legal. Um remédio que assegurasse igualmente os direitos de irmãs
solteironas que vivem juntas, ou mesmo de arranjos domésticos como o meu atual,
em que, aleijado, sou cuidado por um filho só. Neste caso, é claro que meu
filho tem mais direitos que sua querida irmã, ainda que os dela sejam
inegáveis. Mas eu só poderia assegurar-lhe estes se passasse pela farsa de
fingir “casar-me” com ele, coisa que ironicamente continua impossível por terem
sido preservados na instituição do casamento civil os impedimentos do
matrimônio religioso.
Mas a inserção a fórceps de um reconhecimento do sexo
como forma de dar-se prazer pelo outro na legislação serviu como mera cunha
para a introdução de outro horror, formalizado por completo com a barbaridade
do STF a que ora me refiro. E esta é a invenção de uma categoria de cidadãos
definida pelo uso que fazem de seus aparelhos reprodutivos e digestivos. Ora,
sempre houve quem fizesse as coisas mais bizarras entre quatro paredes. A mente
humana, bem dizia minha sábia tia-avó Marina Ramalhete, “é um cipoal”. Uma
maçaroca entrelaçada de que não se tem como definir o começo e o fim de cada
parte, nem, muito menos, destrinchar, esticar, alinhar os componentes. Sempre
houve quem quisesse que o companheiro (seja ele o cônjuge ou não, seja ele do
mesmo ou de outro sexo) fizesse coisas estranhíssimas. O próprio presidente da
República, lamentavelmente, apresentou à nação a perversão sexual de urinar no
rosto do parceiro. Outros quererão outras coisas, com “bodes, anões besuntados
e carrinhos de mão”, como aventou o Verissimo (Filho, que o Pai não se daria a
tal facécia). E isso mesmo entre próceres da sociedade e casais
respeitabilíssimos no que diz respeito ao público. Um cipoal, repito. Mas
sempre, graças a Deus e à tão hoje mal-falada moral e bons costumes, esse tipo
de coisa se fez entre quatro paredes.
Agora já não. Por se definir uma categoria de cidadãos a
partir de seus desejos sexuais e de suas práticas para a busca de prazer
venéreo, este tipo de coisa, esta faceta sempre presente do sexo, foi trazida à
luz. E foi para, de péssima maneira, protestar contra este fato inegável que
Bolsonaro fez a besteira imunda de transmitir para o país inteiro a degradante
cena que se operou – e era este o ponto dele, e é este o meu – sobre um abrigo
de ônibus, em público. O mesmo ocorre por todo lado nas ditas "passeatas
do orgulho gay", esta junção de dois pecados mortais, no carnaval e
sabe-se lá por onde mais.
Qual é o limite? Uma dupla de pessoas do mesmo sexo,
profundamente apaixonadas, andar de mãos dadas pelas ruas? Ou beijar-se como se
tentassem arrancar uma à outra as amígdalas com a língua? Ou urinar na cara do
outro sobre um ponto de ônibus?! A linha divisória entre o mau e o bom
comportamento foi borrada completamente quando se reconheceu legalmente a busca
de prazer venéreo como um bem objetivo, esquecendo-se do fato evidente de que
toda e qualquer sociedade sempre reconheceu o sexo apenas como modo de garantir
o ambiente conjugal para a perpetuação da sociedade e, claro, da espécie. Nunca
se quis que a sociedade entrasse no quarto conjugal; só se quis que daí
nascessem crianças, e que elas fossem bem educadas. Mas agora, com o desejo
sendo tratado como fonte da identidade, a cama foi para a rua. Ou para cima do
ponto de ônibus.
O objetivo disso tudo, dessa campanha toda, dessa
invenção maluca de modalidades identitárias fluidas, é fragilizar e violentar a
instituição conjugal
As pessoas não são o que elas desejam. Ao contrário, até:
o que desejamos, por o desejarmos, é provado como algo que nos falta, logo algo
que não somos. Se fôssemos cair num freudismo barato, poderíamos dizer que o
rapaz que procura outro rapaz para o prazer sexual sente-se atraído pelo outro
por ver nele a figura de seu pai ausente, ou mesmo do masculino ausente nele
mesmo por não ter tido uma figura paterna. Isto, aliás, explicaria às mil
maravilhas o triste e horrendo tipo de crime com que já tive o desprazer de me
deparar muitas vezes em minha carreira de perito criminal, em que um senhor
mais idoso contrata rapazes para ter relações e acaba sendo barbaramente
torturado e morto por eles após a relação. Ou seja: eles procuram nele algo,
excitam-se, são capazes de participar da orgia e, esta finda, revoltam-se
contra o próprio desejo, que veem encarnado naquele senhor idoso e exausto,
naquele triste modelo de pai putativo e, no mais antigo tipo de sacrifício, o
imolam, matando-o como se nele matassem ao mesmo tempo seu pai ausente e o
próprio desejo pelo mesmo sexo que esta ausência criaria. São sempre crimes
horrendos, com requintes de crueldade raros de encontrar em outros. Talvez
fosse isso a verdadeira “homofobia”, o verdadeiro medo do igual. Ou, pior, do
igual já passado do ponto; são sempre rapazolas fortuchinhos que chacinam um
senhor de cabeça branca.
Ao trazer para a via pública o que sempre ficou entre
quatro paredes, que é o sexo como busca do prazer venéreo apenas, o que se
traz, em última instância, são esses horrores, ainda piores que o uso do
próximo como penico. Pior, ao se afirmar a existência (pois não se pode
criminalizar o inexistente – é fato conhecido da antropologia que todo tabu
aponta para um desejo) de pessoas definidas apenas pela orientação geral de
seus desejos venéreos, sejam eles orientados para pessoas do mesmo sexo ou não,
criam-se identidades fluidas como fluido é o desejo.
Daí a importância no processo da teoria de gênero, que
procura justamente afirmar esta fluidez identitária, em que ora se é homem, ora
se é mulher, e ora se é dragão – caso real: o senhor Richard Hernandez, 55
anos, americano, após “virar mulher”, mandou cortar fora as orelhas e o nariz,
além de bifurcar a língua e submeter-se a diversos outros procedimentos, na
crença de assim tornar-se um dragão. Ficou foi feio, tadinho.
E, se fôssemos usar a teoria de gênero para outro desejo
extremamente semelhante, que é o gustativo? Afinal, ambos – comer e
reproduzir-se – são pulsões oriundas da mesma necessidade vital básica de
persistir, enquanto indivíduo e enquanto espécie. Eu mesmo, hoje, teria passado
por vários “gêneros” diversos, na medida em que já ingeri coisas tão díspares
quanto cerveja e café. Se não as houvesse desejado, não as teria consumido. E a
diferença entre a bebida ou comida e o sexo é apenas de tempo, na medida em que
foi o meu desejo sexual pela minha esposa que veio a fazer nascer meus lindos
filhotinhos, hoje adultos, e foi o meu desejo gustativo que me fez ingerir chá,
cerveja, iogurte, o que seja. Comemos mais frequentemente algo que, com perdão
da grosseria, alguém. Por menos que o queiram as colunas dos jornais, sexo não
é algo nem tão frequente nem tão frenético quanto se quer fazer crer, para a
imensa maioria das pessoas. Temos de desejar alguém para que a espécie perdure,
e temos de desejar a comida para que o indivíduo perdure. Mas do desejo ao
nascimento tem-se no mínimo nove meses, e depois ainda há todo o tempo de
criação da pessoinha que surgiu daquele desejo. Assim, tem-se tempo para
definir. Já a comida e a bebida, que temos que desejar várias vezes ao dia, faz
com que a fluidez do nosso gosto seja aparente: agora quero chá, depois quero
cerveja, depois quero uma maçã ou um lombo de porco assado. Imaginemos o que
seria definir nossa identidade a partir desses desejos gustativos! Mas é bem
isso, porém em câmera lenta, que se faz quando, seguindo a ideologia de gênero,
inventa-se de se definir a identidade de alguém pelo que a pessoa deseja.
E, voltando à vaca fria, se a sociedade abraça este
absurdo, fazendo do desejo (logo, da afirmação da ausência) fator preponderante
na definição da identidade, arromba-se a parede do quarto para a rua, o que faz
com que ganhem vida os fantasmas mais horrendos que possam sair deste nosso
cipoal mental. O que se cria, então, é uma sociedade em que não há um argumento
definitivo contra quem deseja urinar em público no rosto do parceiro, desde que
a relação seja consensual. E a necrofilia, em que não há possibilidade de
consensualidade, mas tampouco há de negação? E a pedofilia, em que sempre é
possível afirmar a presença de algum tipo de desejo e consenso por parte da
vítima, na mesmíssima medida em que se o afirma, por exemplo, quando se oferece
à sociedade como algo bom um menino de 10 anos de idade travestido de drag
queen, rebolando num palco para basbaques de meia-idade?
Pois isto já há. De drag queens de 10 anos de idade, ou
de drag queens com ficha na polícia por abuso sexual fazendo shows para
crianças em bibliotecas públicas americanas, à Xuxa declarando que agora é “bem
comida”, o que sempre havia sido (felizmente) mantido entre quatro paredes pulou
à rua. O sexo como desejo venéreo, graças às canetadas imbecis de quem crê
criar realidade com leis humanas, tornou-se coisa pública e celebrada, como
antes era a procriação no âmbito conjugal. A criação das novas gerações, a
aposta no futuro, foi substituída pela celebração do orgasmo presente. As
bodas, pelas bacanais carnavalescas ou das inúmeras paradas do orgulho gay
mundo afora.
E com isso sofre justamente aquilo que a sociedade
deveria procurar manter, e sempre manteve, como algo a proteger pelo bem das
próximas gerações: a família de verdade, a família geradora de vida, em que um
homem e uma mulher, juntos, têm filhos e os criam e, ao longo de toda a vida e
especialmente na velhice, amparam-se mutuamente. Tanto pela confusão entre
casamento e contubérnio sexuado, quanto pelos horrores que leva à imaginação de
crianças e adultos essa, por assim dizer, projeção cinematográfica do mais
decadente e mais perverso que possa haver no inconsciente sexual, quanto,
finalmente, pela proteção extra dada às demonstrações de desejo sexual pelo
mesmo sexo, em detrimento do desejo matrimonial.
Em outras palavras: se a “homofobia” é proibida, o dono
de bar terá de traçar uma linha ele mesmo do que será permitido em seu
estabelecimento: entre o dar-se as mãos e o uso da boca do parceiro como
urinol, onde ele a traçará? E mais, onde será que o juiz que o julgar a
traçará?! Já para o rapaz e a moça que se gostam, que esticam os olhos um para
o outro, o que se tem é o contrário: se não se entregarem aos prazeres da carne
imediatamente, como se não houvesse amanhã (literalmente, pois o amor conjugal
existe em função do amanhã: o matrimônio, repito sempre, é uma aposta no
futuro, não uma celebração do presente), ai deles! Serão ridicularizados,
espezinhados, mal-tratados. Se a Xuxa, do auge de seus sei-lá-quantos anos de
idade, é “bem comida”, que palhaçada é essa da Mariazinha de querer esperar até
o casamento? E seu futuro marido, então, terá até mesmo a própria masculinidade
negada!
Reitero o conselho que faz já umas boas décadas dou aos
amigos atraídos por gente do mesmo sexo: armem-se. Aprendam uma arte marcial
Na verdade, o objetivo disso tudo, dessa campanha toda,
dessa invenção maluca de modalidades identitárias fluidas, é justamente este:
fragilizar e violentar a instituição conjugal. O que se quer é dissolver ao
máximo a célula primeira da sociedade, que é a família, para que a atomização
da sociedade em indivíduos torne mais fácil levá-los a depender em tudo do
Estado e de grandes corporações. Hoje já se depende mais do banco, da tevê, da
escola, do Facebook, do WhatsApp, do Tinder, e do próprio governo que da
família e dos amigos, mais que em qualquer tempo anterior. Na Europa, onde essa
atomização da sociedade já foi ainda mais longe, uma amiga que lá não tinha
família foi comentar com uma sua amiga do trabalho algo sobre o comportamento
do filho, e recebeu logo uma cortada: “a prefeitura tem psicólogos de graça!” A
ideia é essa; que as crianças – na impossibilidade de serem geradas em
chocadeiras, como no Admirável Mundo Novo – sejam filhas de mãe solteira e pai
ausente, educadas pela escola e pela tevê, e assim se tornem mais consumidores
que cidadãos, mais súditos que atores políticos. Para isso a sexualidade de um
pequeno porcentual da população está sendo usada como bucha de canhão, como
cunha para arrombar algo muito maior que ela, sem que os fautores do processo
se interessem pelo que venha a acontecer com os que eles ora usam.
O STF deu um passo enorme neste sentido, e é isso que
acontece já e acontecerá ainda mais, a não ser que de algum modo a sociedade
tome em mãos as rédeas e freie a disparada deste cavalo cego e louco que ela
monta e galopa célere rumo ao abismo. A imensíssima maioria do povo não gosta
disso e não quer isso, e uma reação começa a se levantar, como a própria
eleição de Bolsonaro aqui e Trump lá mostram. Uma pesquisa recente nos Estados
Unidos mostrou que aumentou o porcentual de pessoas a quem desagradaria que o
filho aprendesse “História LGBT+” na escola, ou mesmo que tivessem professores
com atração sexual pelo mesmo sexo. Este último dado é muito perigoso. Não por
demonstrar “homofobia”, mas por demonstrar a internalização dessa horrenda
visão das pessoas como definidas por seus desejos, algo que (taí, al roviescio,
um acerto do STF) é tão absurdo quanto defini-las pela cor da pele. Nunca
ninguém, repito, atacou Cauby.
Já o excesso de campanhas de afirmação pública do que
sempre se manteve entre quatro paredes, de beijos gay em novelas a coisas
repulsivas como urinar na cara de alguém em público, e tudo o mais que vem
dessa maluquice inicial de definir quem se é pelo que se busca, logo não se tem
nem se é, estão fazendo com que aumente a violência desordenada que se
pretenderia em tese combater. Isso precisa acabar, e logo.
Enquanto isso, reitero o conselho que faz já umas boas
décadas dou aos amigos atraídos por gente do mesmo sexo: armem-se. Aprendam uma
arte marcial. Ser usado como bucha de canhão – e é isso que se está fazendo com
os supostos “LGBT+” – é coisa muito perigosa. Buchas de canhão são
descartáveis."