A gestação inicial do referendo que culminou com a
vitória dos “Brexiters com 51.9% dos votos,contra 48.1% dos chamados
“Remainers” em 2016 iniciou ainda no Governo do ex-Primeiro Ministro David
Cameron, que teve sua vitória para formar um Governo no Reino Unido na época
patrocinada por velhos caciques do Partido Conservador Britânico, os chamados
“Tories”, que em contra-partida exigiram de Cameron que ele tivesse como
promessa de campanha um referendo popular para decidir sobre a permanência do
Reino Unido (UK) na União Européia(UE)da qual faz parte desde 1973! O próprio
PM David Cameron na época, sabedor da complexidade da matéria e de sua grave
implicação político-econômica,fez campanha aberta pela permanência da UK na UE!
A data de eleição do referendo foi marcada e a mesma
deu-se num dia que coincidiu com um extremo clima adverso com uma tempestade de
chuva e vento que atingiu a ilha do Reino Unido em 23/06/2016 (uma
quinta-feira-dia útil), mesmo sendo verão na época! Esse fenômeno,sabidamente
fez com que houvesse um baixíssimo comparecimento as urnas (cuja eleição aqui é
de comparecimento livre por parte do eleitor, não há obrigação de votar) do
público mais jovem e que representa a força de trabalho em curso no País! Ao
contrário destes, a população de idade mais avançada e
conservadora,principalmente do interior do País,compareceu em massa as urnas
para expressar seu desejo de saída da UE! Daí o resultado inesperado na época e
que contrariou as pesquisas eleitorais vigentes naquele momento!
Para o PM David Cameron não restou outro caminho que não
fosse o da sua renúncia no mesmo dia da apuração dos votos, formando-se um novo
governo com a atual PM Theresa May para completar o segundo mandato seguido
consignado pelos Tories!
Theresa May, embora saibamos ser uma “remainer” convicta,
assumiu com o propósito de levar adiante a vontade popular do referendo e
partiu para assinar o “Artigo 50” em Março de 2017,que é o instrumento legal e
formal para um País membro solicitar sua saída do bloco europeu, válido por 2
anos de negociações e cujo prazo final expira no próximo dia 29 de Março do
corrente ano!
Theresa May na época, por um ato “de pouca estratégia
política”, decidiu promover “Eleições Gerais” na UK e dissolveu o
Parlamento,numa medida,que se desse certo, a faria ser consagrada com ampla e
farta liderança na Câmara dos Comuns no Parlamento Britânico, para um novo
mandato de 5 anos e com uma liderança inquestionável para negociar o Brexit com
as autoridades européias na sede da UE em Bruxelas!
Ocorre, que este ato foi o que no jargão popular chamamos
de um tiro no pé, pois o resultado da eleição geral foi de uma quase derrota
dos conservadores para os trabalhistas,liderados por Jeremy Corbin! A PM só
conseguiu formar uma frágil maioria buscando apoio de um partido sem
representatividade chamado de DUP da Irlanda do Norte e assim está até o dia de
hoje!
Falando agora do Brexit em si e de sua complexa teia de
emaranhados políticos econômicos ressalto que os pilares que regem o mercado
comum europeu ou a União Européia são:
• Acesso
dos 27 países membros a um mercado comum livre de sobre-taxas comerciais nas
relações de troca, o chamado “single-market”!
• O
livre acesso ao setor de serviços bancários e/ou financeiros em geral entre os
países membros!
• O
livre trânsito de cidadãos da UE que podem residir e trabalhar em qualquer País
membro(restrição especial para a Suíça), o controverso “Free-Movement”!
Nestes últimos 2 anos de intensas e extenuantes
negociações,se tenta chegar a um acordo final entre o Reino Unido e a UE,de
garantia de um período de transição em que os pressupostos do mercado comum
europeu continuem a prevalecer mesmo após o Brexit, com exceção do
Free-Movement que valeria por menos tempo e com base num sistema de pontuação
acadêmico-curricular naqueles candidatos da UE que continuassem pretendendo vir
fixar residencia no Reino Unido!
Hoje a relação na escala de imigração é de 3.5 milhões de
europeus vivendo no Reino Unido contra 1.5 milhão de Britânicos vivendo no
continente europeu!
Esse arranjo de garantia de acesso aos mercados e
garantia dos chamados direitos humanos daqueles que já vivem no Reino Unido e
na Europa,regularmente a mais de 5 faz parte do acordo global sendo costurado
entre as partes!
Onde ocorre o maior e quase intransponível problema é no
que se chama aqui de “Backstop”, ou seja a questão futura envolvendo as
relações de troca de produtos entre a Irlanda(que faz parte da UE) e da Irlanda
do Norte (que faz parte do Reino Unido)! Hoje em dia,não há fronteira aduaneira
física alguma dividindo as duas Irlandas e esse é um ponto que atinge a
soberania do Reino Unido!
Vejamos, a UE não aceita em nenhuma hipótese de
que,quando o Reino Unido sair por completo da UE no futuro a ser definido,que
volte a haver controle alfandegário entre as duas Irlandas! Ora, se esse
controle não for estabelecido no futuro,imaginem um quado em que a Irlanda do
Norte fica transacionando livremente produtos e serviços com a Irlanda e que a
ilha britânica do Reino Unido que dista cerca de 1 hora de voo da Irlanda do
Norte.