Cirurgia Robótica aplicada na oncologia torácica é tema de simpósio no Hospital Moinhos de Vento


Evento realizado neste final de semana reuniu médicos das diversas especialidades envolvidas no tratamento do câncer de pulmão
     
O cenário atual, as inovações técnicas e as perspectivas futuras na utilização da cirurgia robótica para o tratamento do câncer de pulmão foram debatidas entre profissionais da saúde de todo o país, que se reuniram no Hospital Moinhos de Vento neste final de semana.
A programação do Simpósio de Cirurgia Robótica aplicada à Oncologia Torácica, organizado pelo Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica da instituição gaúcha, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, proporcionou apresentações de palestrantes nacionais e internacionais em Porto Alegre.
Na abertura do encontro, que ocorreu na manhã de sábado (28), o chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Moinhos, Dr. Marcelo Basso Gazzana, destacou que a iniciativa foi a primeira realizada na região Sul, com foco na divulgação das novas tecnologias que podem ser disponibilizadas aos pacientes. “O robô permite cirurgias mais complexas e precisas.  E especialmente no câncer de pulmão, que é uma doença respiratória potencialmente fatal, é sempre oportuno tornar cada vez mais conhecidos os novos avanços no tratamento”, frisou. 
Para o Superintendente Médico do Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi, o evento marcou a importância da instituição gaúcha no contexto nacional da cirurgia robótica. “É uma tendência mundial da cirurgia oncológica a busca da precisão e da técnica minimamente invasiva. A robótica não só traz essa possibilidade de maior precisão diagnóstica e terapêutica, como também consolida o Hospital Moinhos como um centro de referência no uso dessa tecnologia. E quanto mais um hospital se capacita, mais pacientes se beneficiarão. Os melhores resultados cirúrgicos sempre ocorrem em hospitais com maior volume de cirurgias de alta complexidade e com cirurgiões mais experientes”.
Professor da USP e secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, Dr. Ricardo Terra integrou a comissão organizadora do evento e também ressaltou que o promissor programa de cirurgia robótica do Hospital Moinhos de Vento facilitou a parceria. “Nossa Sociedade quer disseminar o conhecimento sobre novas tecnologias como a Robótica e decidimos fazê-lo através de eventos regionais. A escolha de Porto Alegre para sediar o primeiro evento foi devido a relevância nacional da cirurgia torácica gaúcha e por ser grande centro formador”.

Temas em debate
No sábado, as palestras foram divididas em cinco grandes temáticas: Avanços em oncologia Torácica, Princípios da Cirurgia Torácica Robótica, Ressecções Pulmonares, Ressecção Mediastinal e Complicações da Cirurgia Robótica Torácica. Os profissionais se atualizaram sobre os atuais pilares do tratamento, os desafios do diagnóstico e os benefícios da utilização do robô.  Também foram discutidos casos clínicos reais e complexos pela equipe multiprofissional, que incluiu cirurgiões torácicos, pneumologistas, oncologistas, radioterapeutas, radiologistas e patologistas.
Direto dos Estados Unidos, por videoconferência, o Dr. Stephen Yang, professor da Faculdade de Medicina da Johns Hopkins, ministrou uma aula com o tema “Future of robotic thoracic surgery: technology evolution and perspectives”. Yang fez um resgate histórico da tecnologia, falou sobre sua experiência e lembrou a constante necessidade de treinamento e atualização dos profissionais diante da agilidade na evolução das plataformas tecnológicas e descobertas cientificas.
Uma atividade prática – chamada de Hands On - foi a programação do domingo (28), que teve trabalhos em grupo no centro cirúrgico, discussão de casos, utilização do simulador, visitação do equipamento de robótica do Hospital Moinhos de Vento e acompanhamento de uma cirurgia em tempo real.

Artigo, Alon Feuerwerker - Quando o debate econômico vira culto religioso a favor, o maior risco é do próprio governo

A satisfação com produtos ou serviços pode ser medida pela equação S = En - Ex. Satisfação é entrega menos expectativa. Uma entrega bacana produz frustração se a expectativa veio hipertrofiada. Vendas brilhantes saem pela culatra se o entregue fica abaixo do prometido.

O governo Bolsonaro nasceu da urna produzindo alta expectativa em dois campos: economia e segurança pública. Duas variáveis que vão definir o tanto de satisfação ou insatisfação do eleitorado quando o presidente se apresentar à reeleição, ou o bloco de poder dele aparecer em 2022 com outro nome.

São variáveis importantes também ao longo do mandato, especialmente numa política como a brasileira, cada vez mais habituada a surpresas.

Melhora econômica não produz automaticamente avanços na segurança. Uma prova foram os governos do PT. As regiões mais dinâmicas do período, no Nordeste, experimentaram piora expressiva na segurança. As exceções, como Pernambuco, só confirmavam a regra.

Mas melhora econômica, principalmente quando traz muito emprego, tem efeito indireto positivo sobre outras variáveis. Dinheiro no bolso ajuda a resolver, ou relativizar, desafios não estritamente econômicos. O contrário também é verdade: na casa em que falta pão todos brigam e ninguém tem razão.

Na segurança, até agora, o governo parece colocar as fichas em mudanças legais de endurecimento penal. Uma aposta arriscada, mas tem sua vantagem: ainda que os índices não melhorem, a violência legal -ou nem tanto- contra o crime é um anestésico coletivo poderoso. Mesmo que só até certo ponto.

E sempre será possível culpar os governadores. Ainda que a escolha do ministro da Justiça tenha trazido o tema para mais perto do presidente da República.

Vital mesmo é a economia. Nesta, a velocidade de criação de empregos. E a qualidade deles. Qual é a aposta do governo? Que a reforma da previdência melhore decisivamente a expectativa fiscal, e portanto reduza juros, e portanto desperte o otimismo do investidor e do consumidor.

Onde está a dúvida? Se vai funcionar do jeito prometido. Supondo que haja mesmo uma reforma da previdência, o dinheiro poupado vai ser usado para abater dívida? Ou o governo e o Congresso vão preferir engordar o caixa para investir, e assim melhorar o humor das bases eleitorais rumo a 2022?

Ajuda a austeridade o fato de que o resultado previsto no curto prazo pelo projeto de reforma é relativamente menor. A poupança será crescente com o tempo.

Mas um governo sem sustentação congressual própria fica mais vulnerável às demandas para gastar. E haverá pressão social por mais investimento e gasto público, para compensar menos dinheiro no bolso dos afetados pela reforma. Porque déficit público é sinônimo de superavit privado. Não custa lembrar.

Outro detalhe: a redução drástica do déficit depende também de o BNDES devolver uma dinheirama ao Tesouro. Mas isso implica menos dinheiro para o banco emprestar. Aí também a ideia é o capital privado interno e principalmente externo ocupar o espaço. No bottom line, tudo afinal depende disso.

Uma característica do debate econômico no Brasil é operar com dois motores estáveis: o efeito-manada e a interdição. A palavra de ordem do Plano Cruzado nos anos 80 volta de tempos em tempos. “Tem que dar certo (não deveria ser ‘tem de’?)”. E as (más) experiências pregressas nunca servem de lição.

As ideias econômicas oficiais entre nós nunca admitirem crítica, apenas autocrítica a posteriori. Os flancos fiscais abertos do Cruzado eram só nota de rodapé, até a coisa afundar. O mesmo problema foi subestimado no Plano Collor. O “populismo” cambial do Real era #mimimi, até o desabamento de 1999.

Esses exemplos tratam de tempos algo antigos, mas vale a pena lembrar. 

A interdição do debate e o efeito-manada vêm em doses ainda mais cavalares quando a base do governo é gelatinosa, e é o caso agora. O ministro da Economia tem o apoio unânime da opinião pública(da), então só se discute o custo de aprovar a coisa no Congresso. É o único ponto da pauta.

Tudo facilitado pela demonização do papel do Estado. Ainda que nunca tenha havido ciclo econômico benigno no Brasil sem participação decisiva estatal. E dos presidentes eleitos após a redemocratização o único que acabou bem foi Lula. Os demais? Ou não acabaram ou acabaram mal.

Quando o debate econômico vira culto religioso, 
a favor, o próprio governo se torna o mais vulnerável ao risco. 

Ainda que no começo ele não perceba isso.
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Alon Feuerwerker (+55 61 9 8161-9394)
alon.feuerwerker@fsb.com.br

Artigo, Percival Puggina - STF, da crítica à autocrítica


O fato é que me antecipei, em vários dias, ao diagnóstico pronunciado pelo ministro Luís Roberto Barroso sobre as causas do desprestígio do STF junto à opinião pública. Em artigo do dia 19 deste mês, com o título “As redes sociais e o poder do indivíduo”, escrevi:
 “Não é a crítica que gera o descrédito, mas o descrédito que a motiva.”
 Em outras palavras, na minha crítica, ministros efetivamente preocupados com preservar a imagem do Poder deveriam estar mais atentos a si mesmos do que às reações da sociedade.
Uma semana mais tarde, coube ao ministro Barroso, falando em evento na Universidade de Columbia, fazer a autocrítica e dizer que o “descrédito da sociedade” é fruto de decisões da própria Corte. Não bastasse isso, conforme matéria do Estadão (25/04), Barroso proferiu uma série de vigorosas afirmações, segundo as quais:
• na percepção da sociedade, os ministros, por vezes, protegem uma “elite corrupta”;
• há um problema se a Corte, de modo repetido e prolongado toma decisões com as quais a sociedade não concorda e não entende (referia-se, presumo, ao tal papel contramajoritário que o STF vem atribuindo a si mesmo);
• uma grande parte da sociedade e da imprensa percebem a Suprema Corte como um obstáculo à luta contra corrupção no Brasil;
• a sociedade tem a percepção de que “alguns ministros demonstram mais raiva dos promotores e juízes que estão fazendo um bom trabalho do que dos criminosos que saquearam o país”;
• somente no Rio de Janeiro, “mais de 40 pessoas presas por acusações de corrupção foram soltas por habeas corpus concedidos na 2ª Turma”.
E arrematou: “Tudo o que a Corte (STF) poderia remover da Justiça Criminal de Curitiba, cuja persecução de corrupção estava indo bem, foi feito (sic)”.
São palavras de um membro do “pretório excelso”. Não é opinião de um simples cidadão que, acompanhando a vida do tribunal, se escandaliza com as mensagens que alguns de seus membros, de modo reiterado, passam à sociedade. Note-se que tais recados, captados pelo ministro Barroso, são transmitidos numa época em que as luzes da ribalta se acendem sobre aquele plenário, seja pelo exagerado protagonismo de alguns, seja por ações que partidos minoritários levam à Corte atraídos pela tal vocação “contra majoritária”.
A propósito destes últimos acenderei minha lanterna sobre o que vejo acontecer. De uns anos para cá, partidos minúsculos, sem voto nas urnas e, por consequência, nos plenários, sobem no banquinho de seu pequeno significado para se autoproclamarem os únicos representantes das aspirações populares. Há um ditado segundo o qual “quanto menor a tribo, mais emplumado o cacique”. Assim, impressionados consigo mesmos, derrotados nas deliberações de plenário, a toda hora esses pequenos partidos correm e recorrem ao STF em busca da simpatia de seis ministros para sua causa. Claro! É mais fácil conseguir meia dúzia de votos entre 11 do que maioria entre 513. Apelar ao STF virou uma gambiarra para partidos nanicos, que passam a contar com isso até mesmo para suas manobras de obstrução.
P.S. – Especialmente minoritários, mais do que isso elitistas e refinados, são os serviços de fornecimento de refeições institucionais licitados pelo STF e divulgados pelo Estadão no dia 26 de abril. Lagostas e vinhos premiados integram um cardápio digno dos deuses do Olimpo, que vai ao pregão eletrônico pelo custo módico de R$ 1,1 milhão.

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.