O
jornal diz que Nathana, de 23 anos, morava só (em casa própria), tinha um
cachorro e trabalhava numa corretora de seguros. Seu vínculo de família era a
madrinha: não teve irmãos e os pais faleceram há tempos.
Na
madrugada de 18/11/19, a jovem caminhava no bairro Cidade Baixa com duas
amigas, quando um bandido apontou um revólver e exigiu os celulares das moças,
que tentaram fugir. Nesse ponto, a reportagem é imprecisa. Parece que Nathana
voltou para ajudar uma das amigas, que ficara para trás. E foi morta com um
tiro na cabeça.
Assim está a cidade de Porto Alegre. É a soberania do crime. Já não há bairro
nem praça, rua não há em que se possa viver em liberdade. Só a mão do crime faz
o que quer, onde quer e como quer.
Como se chegou a isso? Óbvio, não há efeito sem causa! Também óbvio, a
violência é um fenômeno multifatorial. Agora, um dos fatores causais do drama
porto-alegrense é o silêncio omisso de uns quantos combinado com um ruidoso
discurso de legitimação do crime, cuja síntese vai aqui.
"Sou a favor do assalto", diz a gaúcha Marcia Tiburi. E justifica:
"Tem uma lógica no assalto. Eu não tenho uma coisa que eu preciso, fui
contaminada pelo capitalismo... (...) Tem muitas coisas que são muito absurdas,
que se você vai olhar a lógica interna do processo (...)". E acrescenta
sua ideia conclusiva: "Sabe que isso seria justo dentro de um contexto tão
injusto?"
Se
o postulado de Tiburi justifica todo e qualquer assalto, como, de fato, o faz,
então absolve o assassino de Nathana. Aliás, seguindo a sua lógica, a conclusão
é a de que Nathana não é vítima; quem sabe, culpada. Nathana não trabalhava
numa corretora de seguros? E tem coisa mais capitalista que uma corretora de
seguros?
Devota do marxismo e ideóloga do PT, Marcia Tiburi acha que todo e qualquer
capitalista - do pequeno empreendedor ao banqueiro - merece o pior dos
castigos, ao passo que assaltantes, como o que matou Nathana, merecem
absolvição por serem "vítimas do sistema".
Mas não é só um discurso, porque, por trás, há todo um ideário, que se articula
com metástases nas mais diversas instituições: educação, cultura, imprensa,
sindicatos e até instituições religiosas.
É
o ideário de um esquerdismo confessional, organizado, com estratégia e nenhum
escrúpulo para "construir hegemonia" (poder total), que, nas últimas
três décadas, teve participação ativa na degradação da cidade.
Ora no governo, ora na oposição, buscando sempre e por todos os meios implantar
uma ditadura socialista, os artífices dessa ideologia trabalharam
incansavelmente na destruição dos valores da juventude e no trancamento das
ações de combate ao crime, causando uma generalizada sensação de impunidade e a
amplificação das condutas transgressoras.
Daí, por exemplo, o tráfico e o consumo de entorpecentes (duas faces da mesma
moeda) cresceram e parecem fora de controle. Entende-se hoje que a maioria dos
celulares roubados (coisa corriqueira) destina-se ao custeio do consumo de
crack.
Quer dizer, chafurdam na mesma lama de imoralidade o traficante que chefia a
facção, o zumbi que consome crack, o ricaço que desce à planície para comprar
drogas e o ativista ideológico que, com sua "religião" sem Deus,
prega o relativismo moral.
Não há, pois, como atribuir apenas a uma ideologia, por mais amoral e
autoritária que seja, toda a responsabilidade pela degradação social. Com
efeito, sem a covarde omissão dos que dizem não avalizar essa mentalidade, não
estaríamos em tão dramática situação.
A
propósito, a quem vier com aquele argumento pré-fabricado, "isso é teoria
da conspiração", pede-se que tenha a fineza de ler a macabra doutrina de
Antonio Gramsci, pois verá, se tiver honestidade, que o aqui descrito é a
aplicação de seus postulados diabólicos.
Quem matou Nathana? Não foi só o desvario de um bandido sem compaixão, mas a
maldade ativa de uns, favorecida pela perniciosa covardia de outros. Quem
ceifou a vida de uma jovem de 23 anos foi a Porto Alegre que nós deixamos
criar-se. E que mata outros tantos todos os dias.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail: mailto:sentinela.rs@uol.com.br