Conheça Marcos Zheng, detido no sábado, 11, sob suspeita de liderar quadrilha que furtou 15 mil testes de coronavírus e 2 milhões de equipamentos de proteção individual; siga o caminho da carga supostamente roubada até a Associação Shangai no Brasil
“Trata-se de um cidadão do bem e contribuiu de forma significativa para estabelecer o laço de amizade entre Brasil e China”. A declaração, em papel timbrado, é da Associação Chinesa do Brasil sobre seu vice-presidente, Zheng Xiao Yun, ou Marcos Zheng, que está preso sob a suspeita de liderar uma quadrilha flagrada e presa com 15 mil testes de coronavírus e dois milhões de equipamentos de prevenção roubados.
Ele já foi sequestrado, viu uma secretária morrer a tiros, e também se livrou de uma condenação por supostamente trazer relógios falsificados para o Brasil. De outro lado, intermediou encontros de banqueiros e empresários chineses no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo Paulista, e também com outros políticos. Diz ele ter feito a ligação entre a Saúde do governo João Doria (PSDB) com hospitais e médicos de Wuhan – cidade chinesa onde a pandemia se originou – para troca de informações sobre a covid-19.
Seus guarda-costas são um policial militar e um sargento da reserva do Exército Brasileiro. Fortemente armados. Com eles, foram encontrados um fuzil e uma carabina ponto quarenta. Ele diz que precisa de proteção, já que experimentou cinco dias em um cativeiro, foi roubado, e ainda escapou de uma emboscada a tiros.
Os milhares de testes, cujo lote bate com o de uma carga surrupiada no Aeroporto de Guarulhos, estavam em seu imóvel, onde também funciona a Associação de Xangai no Brasil. Presidida por ele, a entidade é seu cartão de visitas nos encontros que já promoveu entre empresários e políticos.
Alega Zheng nunca ter lidado com material de higiene, muito menos sem origem, e que seu negócio é com equipamentos de som. E, que por meio da entidade, já promoveu a venda de produtos brasileiros pelo governo Chinês, e também a remessa de itens de seu país de origem para ‘venda e doação no Brasil’ – tudo com nota fiscal.
A versão, dada à Polícia Civil, não convenceu, e ele foi preso em flagrante. Um dia depois, também não convenceu o Ministério Público e a Justiça, que decretou sua prisão por tempo indeterminado.
A juíza que decretou a prisão preventiva vê ‘audácia’ na atuação de Zheng e de outros 13 presos neste sábado, com a venda de equipamentos roubados, que abasteceriam hospitais em um país à beira da superlotação em seu sistema de Saúde, com 22.169 infectados pela pandemia que já matou 1.223 pessoas até este domingo, 13.
O Estado obteve acesso exclusivo à investigação que levou à cadeia o grupo supostamente liderado por Zheng, desde o sumiço dos testes rápidos até a prisão sem prazo para saída. Comparando os preço pago pela importadora, e o pedido inicial dos investigados pela carga, o lucro seria de 5.000% para o crime.
O roubo dos testes
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No dia 2, um voo da Qatar Airways chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, com 57 pacotes de testes rápidos de coronavírus importados da China por uma empresa contratada por hospitais para fornecer os itens.
Tudo ficou, como usual, armazenado no terminal de Cargas Internacionais, e os volumes foram retirados para o depósito de uma transportadora no bairro de Santana, na Zona Norte da Capital, quatro dias depois.
No dia 8, quando a carga passou por uma revisão, os funcionários descobriram que 15 caixas de papelão haviam sido esvaziadas, e encaixadas na parte externa de outras 15, com os testes – muito provavelmente, para encobrir o desvio.
Para cada caixa, mil testes de coronavírus eram armazenados. Ou seja, 15 mil sumiram. A empresa estipula que o valor do material surripiado seja de R$ 80 mil.
Já no início das investigações, a Polícia Civil recebeu a informação de que os testes não só já teriam caído no mercado negro, como também teria sido oferecida sua venda à própria importadora que teve sua carga roubada.
Titular da 3ª Delegacia de Atendimento ao Turista, Luís Alberto Guerra, então, recebeu informações da inteligência da Polícia de que a carga possivelmente havia sido transferida para o bairro do Ipiranga.
Passando-se por um empresário nordestino, negociou com os criminosos. A pedida deles era de R$ 4 milhões. O valor acertado acabou ficando em R$ 3 milhões.
A primeira reunião, segundo ele, foi marcada em um bar na Rua Almirante Lobo, no Ipiranga, onde se encontrou com Antonio Ricardo dos Santos Lima, com quem negociou os testes. Ele foi acompanhado do delegado Rodrigo Baracat.
Ao chegarem ao ponto de encontro, os delegados dizem ter visto, ainda, outros cinco homens que se apresentaram como intermediários. Dois deles ‘indicaram o local onde estavam os kit’s’ e teriam os pedido para que acompanhassem até lá. “Ato contínuo, o condutor foi até o interior do prédio, sendo recebido por três seguranças, visualmente armados”.
Guerra afirma que, em ‘seguida subiu dois lances de escada e foi até uma ante sala, onde foram recebidos’ dois outros intermediários.
“Na sala posterior, fechada estavam as pessoas de Marcos Zheng e Fu Zhihong [empresário], tendo visualizado as caixas com os possíveis testes em poder de Fu, o qual inclusive lhe questionou se estava tudo certo com a negociação, perguntando se já iria levar o dinheiro, sendo que Zheng estava do outro lado da sala, em uma mesa falando ao telefone, nada participando da negociação”, narra, em depoimento.
Os delegados dizem ter sido orientados a trazer, então, o dinheiro, e que um ‘dos criminosos informou que o número, na Rua Cipriano Barata – Ipiranga – não era aparente pois foi retirado para dificultar a localização’.
Ao chegarem, os delegados ingressaram no interior da casa, onde ‘havia três pessoas claramente para fazer a contenção e segurança da entrada’, duas delas armadas. Foi então quando os policiais se identificaram e deram voz de prisão.
“Durante a abordagem um deles se identificou como sargento do Exército e apesar de recalcitrante, a testemunha Rodrigo conseguiu desarmá-la, colocando-o ao solo, dominando-o, enquanto que os policiais que vinham na cobertura, com uma viatura caracterizada da Polícia Civil, adentraram junto com a testemunha tentavam dominar o outro segurança que dizia ser policial e tentavam retirar a sua arma, sendo certo que este segurança começou a gritar e falar alto, impedindo para que fosse feita a revista, fazendo com que a testemunha Rodrigo fosse até o apoio, para poder conter aquele segurança que resistia a ser revistado na prisão”, narra Baracat.
Segundo o delegado, o homem que se identificou como PM ‘falava alto e chegava a gritar, causando alvoroço, nitidamente para impedir o ingresso rápido dos policiais, seja para alguém fugir ou descartar algum produto ilícito, visto que esta casa era contígua e com duas portas que dava acesso à lateral, que até então não se sabia que fazia parte do imóvel’.
De fato, um dos seguranças é policial militar. Cleber Marcelino da Silva, cabo afastado desde setembro de 2019 – a Secretaria de Segurança Pública não revela o motivo – alugou aquela casa da Câmara de Comércio China Brasil há menos de um mês, para acomodar máscaras de proteção.
Diz ele que estava sentado em frente às caixas quando chegaram os agentes gritando: “Polícia, Polícia!”. Eles mandaram-no deitar ao lado do portão. Afirma ele ter assumido que era dono das máscaras aos policias. Mas, nega saber que, além dos EPIs, havia lá testes de coronavírus.
A Corregedoria da PM abriu uma investigação sobre Silva, que está preso no Romão Gomes, destinado à detenção de policiais.
Já o sargento é Paulo Sérgio Perniciotti, do Exército. Ele alega ser motorista de Zheng, mas que Fu é o locador de parte do imóvel, e seu chefe só aparece lá para comandar a Associação de Shangai. “Acrescenta, ao ser indagado, que o senhor Fu possui liberdade em todo o imóvel e soube apenas hoje que este autorizou a guarda da mercadoria apreendida”, consta, na conclusão de seu depoimento à Polícia.
Fuzil, pistolas, machado, dinheiro…
Quando invadiram o local, após render os seguranças, os policiais encontraram um arsenal de armas de grosso calibre. Em nome do PM e do sargento, duas pistolas de uso permitido a eles. Com Zheng, que estava no local, também uma pistola e 34 cartuchos, de uso permitido.
Já com outro segurança, foram achadas uma calibre 12, e um fuzil ponto quarenta. Somados, foram encontrados 90 cartuchos de munições para as armas.
Além disso, a Polícia também confiscou um machado e uma faca tática, R$ 25 mil em dinheiro vivo, US$ 800, e cinco yuans. Lá, também estavam os dois milhões de equipamentos de prevenção ao coronavírus, como máscaras, luvas e macacões, e também as 15 caixas de testes de coronavírus.
“O lote apreendido confere com aquele que foi roubado no Aeroporto de Guarulhos”, diria, mais tarde, naquele mesmo dia, o delegado Oswaldo Nico, do Departamento de Operações Estratégicas (Dope), ao Estado.
Zheng disse, em depoimento, ter motivos para usar armas, ‘porque já foi vítima de sequestro pertencendo por cinco dias no cativeiro e também vítima de roubos, e, inclusive os ladrões’.
Foto: Polícia Civil
Segundo apurou o Estado, além de um sequestro em razão da cobrança de dívidas, houve outro atentado. Dois chineses, um deles seu ex-sócio, respondem por ação de homicídio. Segundo a denúncia, eles teriam planejado a morte da esposa de Zheng, mas acabaram matando outra mulher por engano. O empresário conseguiu escapar.
O anfitrião
Na reunião com o ex-governador Alckmin, Zheng é o primeiro à esquerda.
No local, estava Marcos Zheng. Ele teria se apresentado aos policiais como presidente da Associação Shangai no Brasil. Por meio da associação, já intermediou relações empresariais e políticas em São Paulo.
Em 2017, chegou a ser recebido pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes, ao lado do presidente do Bank of China Brasil, Zhang Guanghua. Na ocasião, discutiram o apoio do banco para atrair investimentos a São Paulo, além de oportunidades de negócios no Estado.
“Queremos apoiar o Estado de São Paulo e estreitar os laços entre nossos povos em todos os âmbitos”, disse Zheng, à época, em evento que foi registrado somente pela assessoria do Palácio dos Bandeirantes, e até hoje permanece registrado no site do governo estadual.
Zheng também é vice-presidente da Associação Chinesa do Brasil, entidade fundada nos anos 1980, e que diz ser a ‘maior associação da comunidade chinesa no Brasil, representando também mais de 60 associações chinesas de diversas províncias e municípios’.
“Trata-se de um cidadão do bem e contribuiu de forma significativa para estabelecer o laço de amizade entre Brasil e China”, o atestado da Associação foi entregue pela defesa de Zheng à Justiça.
À altura de seus encontros com políticos e empresários, Zheng já tinha pendências com a Justiça. Ele foi condenado pela Justiça Federal de São Paulo por supostamente tentar entrar com relógios falsificados no Brasil, junto de sua esposa, Catarina, em 2003. Em razão da prescrição, o processo foi extinto pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. É que o crime tem pena de um ano, e, entre a denúncia, em fevereiro 2005, e a sentença, em 2009, passaram-se pouco mais de quatro anos, tempo de prescrição.
Em seu depoimento, o empresário disse residir há 25 anos no Brasil e ‘desde sua chegada sempre desenvolveu e intermediou a relação entre o Brasil e a China’. “Que, inclusive, sempre trouxe empresários chineses para realizar negócios neste país, bem como viajou com empresários brasileiros visando estabelecer relações comerciais com aquele país”.
Ainda ressaltou que em momento ‘algum participou de qualquer negociação envolvendo máscaras ou testes, nem direta, nem indiretamente, e que nas últimas semanas a associação tem se dedicado em colaborar com as autoridades brasileiras, já que contatou médicos chineses que combateram o covid, para que pudessem auxiliar o poder publico do Brasil’.
“Que, inclusive menciona que esteve por duas vezes na secretaria de Saúde de São Paulo, aonde estavam presentes secretários e presidentes de hospitais e quando o interrogando fez a conexão com os hospitais e médicos de Wuhan justamente para que houvessem troca de informações”, diz.
Em seu depoimento, ainda completa: “Auxiliou com a associação que preside a compra pelo governo chinês de produtos brasileiros e igualmente possuía projeto de remessa de produtos chineses para venda e doação no Brasil”. Procurados, o governo estadual e o ex-governador Geraldo Alckmin, até o momento, não comentaram.
Relatou também que, por isso, virou presidente da entidade, que funciona no seu imóvel comercial, agora locado ao seu amigo, Fu.
O amigo Fu
Zheng afirma desconhecer ‘completamente os negócios realizados por Fu, mas, em razão das suas funções perante a associação de uma a duas vezes comparecia ao imóvel e pode perceber que Fu estava comercializando produtos de higiene, mas, tudo de forma regular e com nota, pelo que ficou sabendo’.
“Informa que na data do dia 11 [data da prisão] compareceu ao escritório para resolver alguns assuntos da sua empresa e da associação quando Fu lhe disse que conhecidos de ambos pediram ao mesmo para guardar algumas coisas no imóvel, afirmando o interrogando que não lhe foi informado nem o que seria”, diz o seu termo de depoimento à Polícia.
Segundo Zheng, ‘quando estava ao telefone adentrou em sua sala, o delegado de polícia, que se dirigiu a Fu que ali se encontrava do outro lado da sala, não podendo escutar plenamente o teor do diálogo”. “Depois vários policiais entraram em seu imóvel e viu a apreensão de máscaras e de caixas, cujo conteúdo desconhecia”.
Depoimento de Fu
Segundo ele, em ‘momento algum participou de qualquer negociação envolvendo máscaras ou testes, nem direta, nem indiretamente, e que nas últimas semanas a associação tem se dedicado em colaborar com as autoridades brasileiras’.
O amigo citado é Fu Zihong, que alega ter somente levado as máscaras até o local, segundo ele, de procedência brasileira. Fu diz que o policial Marcelino é seu procurador na empresa, e que tudo tem documentação. Seu termo de depoimento sequer toca no assunto dos testes de coronavírus.
Respeitabilíssimo
Marcos Zheng, seu zelador Zhang Ruifeng e seu segurança, o sargento Paulo Sérgio Perniciotti, contrataram o mesmo advogado. Daniel Bialski, criminalista renomado, já defendeu até réus da Operação Lava Jato. Em São Paulo, o mais conhecido é Paulo Vieira de Souza, apontado como suposto operador de propinas do PSDB, que foi defendido até meados de 2018 por Bialski.
Nos autos, o advogado anexou fotos de Zheng em eventos do governo estadual, e até mesmo com cartolas do futebol. Sustentou que ‘é empresário respeitabilíssimo, sendo um dos maiores interlocutores das relações comerciais Brasil-China, conforme evidenciam as fotografias em grandes reuniões realizadas com autoridades brasileiras, inclusive, com o ex-governador Geraldo Alckimin agradecendo o intercâmbio de informações entre Brasil e China’.
“Implemente-se que o Suplicante atua em ramo de comercio difuso, sem qualquer relação com os produtos apreendidos, bem como jamais se envolveu com mercadorias sem origem, sendo que toda mercadoria que adquire é provida de nota ou guia de importação”, argumenta.
Sem data para sair
Acolhendo parecer do Ministério Público, a juíza Érika Fernandes Fortes impôs a prisão preventiva de Zheng e outros 13 investigados neste domingo, 12.
Segundo a magistrada, Zheng estava ‘acompanhado de seus seguranças pessoais armados e dadas as circunstâncias acima elencadas, sua efetiva participação na empreitada ainda há de ser melhor investigada’. “Todavia, tratando-se de pessoa que possui informações privilegiadas, especialmente frente ao seu contato direto com alto escalão do governo estadual e empresas chinesas responsáveis pela negociação dos testes para exame do Covid 19, entendo que sua custódia neste momento é necessária”.
Segundo a magistrada, Zheng ‘é responsável por diversas negociações e intermediações de negócios entre a Secretaria Estadual de São Paulo, Governo Estadual, e a China, incluindo a conexão entre São Paulo e empresas de Wuhan, cidade chinesa onde o Corona vírus teve início’.
“Também estavam no local e foram presos empresários do ramo de equipamentos hospitalares e todos mencionaram que estavam ali exatamente para negociarem com o Sr. Fu mercadorias para o combate ao corona vírus, produtos estes que, segundo eles mesmos, “estão valendo mais que ouro”, anota a juíza, ao se referir a Fu Zhihong.
Com investigados presos, o Ministério Público tem 15 dias para oferecer uma denúncia, se entender que é o caso.
Artigo, O casuísmo que ameaça vir por aí
Governantes estão sempre prontos a justificar o próprio senso de oportunidade a partir da dita ética consequencial weberiana. Vendem a obsessão com o interesse deles mesmos embalada em preocupação com as consequências de seus atos para os governados.
Não se faz aqui juízo de valor, apenas uma constatação. Aliás, líderes que não se preocupam com a consequência de seus atos para os liderados costumam conduzir ao desastre. Se o próprio Max Weber tivesse vivido um tanto a mais veria a prova viva da precisão do conceito.
Voltando ao Brasil de 2020, políticos ensaiam tentar adiar para 2022 as eleições municipais do próximo outubro, marcadas para renovar as prefeituras e câmaras municipais. O pretexto é a falta de condições para realizá-las atendendo a normas que protejam a saúde do eleitor.
Será?
Convenções podem perfeitamente ser feitas, com vantagem, pelo Zoom, ou outros apps. E as votações dos convencionais, executadas online. E nossas convenções sempre se resumem a atos mecânicos para referendar decisões já tomadas pelos caciques da sigla.
E até em situação normal o grosso da campanha já seria por meios eletrônicos.
E basta impor o distanciamento para a votação presencial acontecer com bastante segurança.
E ir votar traz menos riscos que, por exemplo, ir ao mercado.
A Coreia do Sul acaba de ter eleições. Por que não fazer um benchmark, ver como resolveram o problema ali? Aliás, a pouca disposição para o benchmarking é sintomática da combinação de preguiça e arbitrariedade que parece conduzir nossos governantes nesta crise.
A Constituição brasileira determina rigidamente a duração dos mandatos e até a data das eleições. Teriam portanto de emendá-la. Isso não seria um problema maior para nossos deputados e senadores, em sua quase totalidade eleitos a partir das atuais bases municipais.
Ou seja, os deputados que precisarão renovar seus mandatos em 2022 iriam à luta naquele ano já contando com o apoio de vereadores e prefeitos que os ajudaram em 2018 e estariam devendo a eles os dois anos a mais de mandato recebidos grátis.
Melhor que isso, só dois disso.
Caso o Congresso aprove o casuísmo, a coisa ficaria dependendo do Supremo Tribunal Federal. O STF poderia eventualmente derrubar a decisão por inconstitucional, definindo que a duração dos mandatos é cláusula pétrea da Constituição.
Mesmo entre lideranças no Congresso há a semente da dúvida sobre abrir o precedente. Porque criaria as condições para, algum dia, no futuro, algum presidente da República especular com a extensão do próprio mandato a partir de uma votação no Legislativo.
Sem contar que se abriria também a possibilidade teórica de amputar mandatos.
Ou seja, prorrogar os atuais mandatos municipais seria mais uma pá de terra na colcha de retalhos da Constituição de 1988, a supostamente “cidadã”, tão celebrada quanto emendada e ignorada a pretexto de estar sendo modernizada.
E sempre estará à mão o uso malandro do velho Weber para justificar a coisa toda. Esquecendo que ele também falou em uma “ética da convicção”.
Não se faz aqui juízo de valor, apenas uma constatação. Aliás, líderes que não se preocupam com a consequência de seus atos para os liderados costumam conduzir ao desastre. Se o próprio Max Weber tivesse vivido um tanto a mais veria a prova viva da precisão do conceito.
Voltando ao Brasil de 2020, políticos ensaiam tentar adiar para 2022 as eleições municipais do próximo outubro, marcadas para renovar as prefeituras e câmaras municipais. O pretexto é a falta de condições para realizá-las atendendo a normas que protejam a saúde do eleitor.
Será?
Convenções podem perfeitamente ser feitas, com vantagem, pelo Zoom, ou outros apps. E as votações dos convencionais, executadas online. E nossas convenções sempre se resumem a atos mecânicos para referendar decisões já tomadas pelos caciques da sigla.
E até em situação normal o grosso da campanha já seria por meios eletrônicos.
E basta impor o distanciamento para a votação presencial acontecer com bastante segurança.
E ir votar traz menos riscos que, por exemplo, ir ao mercado.
A Coreia do Sul acaba de ter eleições. Por que não fazer um benchmark, ver como resolveram o problema ali? Aliás, a pouca disposição para o benchmarking é sintomática da combinação de preguiça e arbitrariedade que parece conduzir nossos governantes nesta crise.
A Constituição brasileira determina rigidamente a duração dos mandatos e até a data das eleições. Teriam portanto de emendá-la. Isso não seria um problema maior para nossos deputados e senadores, em sua quase totalidade eleitos a partir das atuais bases municipais.
Ou seja, os deputados que precisarão renovar seus mandatos em 2022 iriam à luta naquele ano já contando com o apoio de vereadores e prefeitos que os ajudaram em 2018 e estariam devendo a eles os dois anos a mais de mandato recebidos grátis.
Melhor que isso, só dois disso.
Caso o Congresso aprove o casuísmo, a coisa ficaria dependendo do Supremo Tribunal Federal. O STF poderia eventualmente derrubar a decisão por inconstitucional, definindo que a duração dos mandatos é cláusula pétrea da Constituição.
Mesmo entre lideranças no Congresso há a semente da dúvida sobre abrir o precedente. Porque criaria as condições para, algum dia, no futuro, algum presidente da República especular com a extensão do próprio mandato a partir de uma votação no Legislativo.
Sem contar que se abriria também a possibilidade teórica de amputar mandatos.
Ou seja, prorrogar os atuais mandatos municipais seria mais uma pá de terra na colcha de retalhos da Constituição de 1988, a supostamente “cidadã”, tão celebrada quanto emendada e ignorada a pretexto de estar sendo modernizada.
E sempre estará à mão o uso malandro do velho Weber para justificar a coisa toda. Esquecendo que ele também falou em uma “ética da convicção”.
O que diz a Fecomércio
A Fecomércio-RS (Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS) tirou nota para criticar o plano de distanciamento controlado que passará a vigorar na segunda-feira para todo o Estado. Na explicação sobre o novo decreto, mapa com as 20 regiões e faixas de cores das bandeiras (amarela, laranja, vermelha e preta) a Federação, que representa quase 600 mil empresas do Estado e 1,6 milhão de empregos formais, opõe-se a definição da bandeira vermelha como um impeditivo para a abertura do comércio e serviços e critica as restrições exageradas para as empresas sob bandeira amarela.
Eis o que disse Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio:
- Quem está calculando os empregos e as empresas que estão sendo dedstruídos ?
- Tivemos muitas conversas e reuniões com o governo do Estado em que defendemos a abertura reduzida quando a região estiver na cor vermelha. A medida manteria a segurança da população, mas preservaria a economia que no momento se encontra devastada.
O dirigente também destaca negativamente as já restritas regras para as empresas que se encontram na bandeira amarela. “Iniciamos restrição sobre o emprego, o que é uma pena, uma vez que os empresários que estavam segurando os trabalhadores até este momento vão acabar demitindo. Na faixa amarela temos setores que poderão trabalhar somente com 25%, 50% e 75% de suas equipes, ou seja, já temos restrição, quando entendemos que nesta bandeira deveria ser permitida a totalidade dos trabalhadores, com cuidado no fluxo de clientes”, contesta Bohn. Nas faixas amarela e laranja há restrição de uma pessoa a cada quatro metros quadrados, isso, no entendimento da Fecomércio-RS, já coloca um teto o volume de pessoas em todas as situações.
Para a Fecomércio-RS, mesmo a bandeira preta deveria permitir a abertura com redução no número de funcionários. “Quem está calculando os empregos que serão destruídos? Não me parece que ninguém está tendo essa preocupação, já que mesmo na faixa de cor inicial estamos muito restritos. Desde a bandeira inicial o governo já entende que 75% da força de trabalho de algumas atividades pode ser dispensada”, volta a reforçar Bohn.
A maior novidade do protocolo de cores estabelecido pelo Poder Executivo foi a saída de Passo Fundo da faixa de restrições da bandeira vermelha, passando a figurar, ao menos até o próximo sábado, na faixa laranja. Em todo o Estado, nenhuma região ficou classificada na bandeira preta e somente Lajeado é ainda a região de bandeira vermelha.
Para Bohn, é adequada a estratégia de utilizar estudos e dados sobre o avanço do novo coronavírus no Estado para modular a resposta e evitar que se mantenha o fechamento indiscriminado do comércio e serviços do Rio Grande do Sul. Agora, espera-se que os prefeitos municipais tenham agilidade para permitir a retomada da atividade econômica, prerrogativa que os municípios do interior do estado têm desde o dia 16 de abril.
Eis o que disse Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio:
- Quem está calculando os empregos e as empresas que estão sendo dedstruídos ?
- Tivemos muitas conversas e reuniões com o governo do Estado em que defendemos a abertura reduzida quando a região estiver na cor vermelha. A medida manteria a segurança da população, mas preservaria a economia que no momento se encontra devastada.
O dirigente também destaca negativamente as já restritas regras para as empresas que se encontram na bandeira amarela. “Iniciamos restrição sobre o emprego, o que é uma pena, uma vez que os empresários que estavam segurando os trabalhadores até este momento vão acabar demitindo. Na faixa amarela temos setores que poderão trabalhar somente com 25%, 50% e 75% de suas equipes, ou seja, já temos restrição, quando entendemos que nesta bandeira deveria ser permitida a totalidade dos trabalhadores, com cuidado no fluxo de clientes”, contesta Bohn. Nas faixas amarela e laranja há restrição de uma pessoa a cada quatro metros quadrados, isso, no entendimento da Fecomércio-RS, já coloca um teto o volume de pessoas em todas as situações.
Para a Fecomércio-RS, mesmo a bandeira preta deveria permitir a abertura com redução no número de funcionários. “Quem está calculando os empregos que serão destruídos? Não me parece que ninguém está tendo essa preocupação, já que mesmo na faixa de cor inicial estamos muito restritos. Desde a bandeira inicial o governo já entende que 75% da força de trabalho de algumas atividades pode ser dispensada”, volta a reforçar Bohn.
A maior novidade do protocolo de cores estabelecido pelo Poder Executivo foi a saída de Passo Fundo da faixa de restrições da bandeira vermelha, passando a figurar, ao menos até o próximo sábado, na faixa laranja. Em todo o Estado, nenhuma região ficou classificada na bandeira preta e somente Lajeado é ainda a região de bandeira vermelha.
Para Bohn, é adequada a estratégia de utilizar estudos e dados sobre o avanço do novo coronavírus no Estado para modular a resposta e evitar que se mantenha o fechamento indiscriminado do comércio e serviços do Rio Grande do Sul. Agora, espera-se que os prefeitos municipais tenham agilidade para permitir a retomada da atividade econômica, prerrogativa que os municípios do interior do estado têm desde o dia 16 de abril.