Bahadur vive isolado em algum lugar no interior de São Paulo em companhia de dois pequenos saguis que lhe servem de guias. Guias físicos para atravessar os acidentados caminhos da vida, e guias sensoriais – são eles que recebem as vibrações do porvir e as transmitem ao vidente, supostamente indiano.
Uma vez por ano a reclusão de Bahadur é quebrada para receber a visita de um veterano jornalista. Ele vem comemorar os acertos das previsões sobre ano que sai e recolher, segundo sua pauta, as previsões para o ano entrante. Assim, fiados e confiados na proverbial falta de memória da população, há dez anos brindam quedas e ascensão de ditadores, catástrofes naturais, fim de casamentos célebres e toda sorte de costumeiros haveres quotidianos.
Comemorações findas, hora das previsões. Ao ser informado que a pauta do ano deveria ser futebol, Bahadur trocou um improvável olhar com os saguis que - estranha reação, arrepiados, em transe, deitaram de barriga para o céu, pernas e braços abertos.
Depois, cabisbaixo, Bahadur começou a caminhar sem rumo. Ante o espanto do amigo repórter, declarou:
– Como os velhos elefantes na hora de sua morte, eu preciso voltar para casa. Não temos saída, não vai funcionar; sobre assuntos de futebol as pessoas tem memória.