“Intelequituais” contra a aritmética.
Me lembro do Ronald Golias no papel de Pacífico da Escolinha do Golias, grande sucesso do SBT dos anos 1990, respondendo ao professor Caliostro (Carlos Alberto da Nóbrega), que lhe pediu para recitar a tabuada do sete:
Tã tarantã, tã, tã tarantã, tã!
Repreendido pelo mestre, Golias respondeu que não lembrava da letra. Só da música.
A internet tem me provado que Golias não era somente um grande humorista. Era também um profeta.
O desconhecimento da aritmética nos dias atuais se tornou tão grande que senadores, artistas e blogueiros derrapam diante da insondável arte de somar e multiplicar.
Dou três exemplos:
Renan Calheiros, diante do difícil problema de calcular o preço de uma dose de vacina da Covaxin a partir dos seguintes dados, 300.000 frascos com 10 doses cada e com um custo de 45 milhões de dólares, concluiu que cada dose custava 150 dólares. Este foi um daqueles que só aprenderam a melodia da tabuada do 10.
No canto de protesto contra Bolsonaro, “Artistas e sociedade pelo impeachment”, no grupo de pseudo artistas, entre os quais alguns sempre admirei como o Aílton Graça, o Majestade de Carandiru, aparece a Julia Lemmertz nos dando mais uma demonstração da extrema incapacidade destes “intelequituais” em transitar no reino dos algarismos. Através de insondáveis cálculos aritméticos, Julia chegou à conclusão de que os mortos pela Covid-19, se enfileirados (imagino que ela os colocou deitados um com a cabeça nos pés do outro) formariam uma fila que daria para ir uma vez e meia até a lua. Julia dividiu 550 mil mortos por 384,4 mil quilômetros e chegou ao tamanho da espantosa coluna. Na imaginação da exímia matemática dos primeiros algarismos, cada pessoa mede um quilômetro de altura.
E, para não esquecer um blogueiro que eu sigo, o Cláudio Lessa, dividiu os seis bilhões do fundo eleitoral por 200 milhões de brasileiros e concluiu que o voto de cada um destes eleitores custaria 30 mil Reais. Milhões, bilhões, devem ter causado um pipoco na cabeça do Cláudio provocando um aumento de mil vezes o custo de cada voto.
Será tudo isso apenas distração ou se trata realmente de ignorância crassa?
Depois da adoção da metodologia pedagógica do Paulo Freire, na qual apontar o erro de um aluno se tornou discriminação, chego à conclusão que, realmente, se trata de dificuldade de adentrar no universo “tabuático”.
Aprender a cantarolar a melodia tã, tarantã, tã, sem decorar a letra da tabuada resulta nisto que deploravelmente vemos nos poucos exemplos acima.
E vou finalizar contando um segredo: tá cheio de gente que nem a melodia da tabuada apendeu a cantarolar.
Pobre Brasil. Deplorável.
Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial.