Se formos considerar a concepção mais "pura" da ideologia, é verdade: O governo não é de direita. Mas foi utilizando deste mesmo purismo que o PSTU, por exemplo, dizia que o governo petista não era de esquerda. No mundo real, JAMAIS existirá um governo de "direita pura". Isso é utópico. Da mesma forma que nunca existirá um regime comunista. A ideologia Marxista "emperra" no socialismo e, ali, só se sustenta pela força de ditaduras.
Não estou dizendo que um governo não poderia ser MAIS À DIREITA do que é o governo Bolsonaro. Poderia! Mas isso também depende do contexto geral, do momento vivido, da condição da sociedade. Hoje, sinceramente, não enxergo possibilidade.
O Brasil NUNCA TEVE UM REGIME DE DIREITA. Nosso "liberalismo" sempre foi "pra inglês ver". O assistencialismo tupiniquim é tão antigo quanto o próprio país; já existia nos primeiros anos do período colonial. Para se ter ideia, a primeira "Casa de Misericórdia" do Brasil foi fundada em 1543, por especial recomendação da Coroa. A relação das Misericórdias com a Coroa, aliás, estimulada pela política metropolitana absolutista de concentração do poder, se estreitaria bastante durante todo o período colonial. No século XVII existiam Casas de Misericórdia em praticamente todas as capitanias e, após a política Pombalina, que expulsou os Jesuítas do país, a assistência em áreas urbanas ficou quase que restrita a estas instituições.
No campo, mesmo com a imensa ausência do Estado, os Senhores de Engenho, os mais próximos representantes da nobreza, cumpriam este papel, com um rudimentar sistema de "troca de favores". Suprindo os miseráveis com o "básico", afinal, garantiam -com dívida de gratidão- que não eclodissem revoltas populares.
No início do período imperial (que muitos conservadores, aliás, consideram o melhor da nossa história), o assistencialismo e intervenção do Estado só ampliou. Depois da França, o "berço" do iluminismo, Portugal foi o primeiro país europeu a adotar estes ideais e foi exatamente neste contexto que a Corte chegou ao país.
As primeiras faculdades do Brasil, por exemplo, a Faculdade de cirurgia da Bahia, instalada no antigo Hospital Real Militar de Salvador, e a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, instalada no Hospital Militar do Morro do Castelo, foram criadas por decretos de D. João, em 1808, estreitando o vínculo entre o Estado e a educação.
Logo no início do império, também se estreita a relação entre a Corte e as Casas de Misericórdia, que neste momento já tinham assistências muito além da saúde. Funcionavam também como orfanatos, casas de acolhimento para viúvas e mulheres abandonadas pelos maridos e até instituição de educação para moças de "famílias decentes".
Ainda durante a Regência de D. Pedro, na ocasião da criação da primeira Loteria Federal do Brasil, em maio de 1821, foi concedida à Misericórdia uma extração de 110:000$000, dos quais deveriam ser entregues 4:000$000 à Junta de Benfeitores do Seminário de São Joaquim e 1:400$000 ao Seminário Episcopal de São José; ficando o restante para despesas da instituição. Em dezembro deste mesmo ano o valor para a Misericórdia foi aumentado para 200:000$000, mantendo iguais ou outros repasses.
Após a Independência, alinhada ao discurso do "Soberano Bom e Justo", "Pai dos Necessitados", que unia seus cidadãos por um elo de "obediência", "justiça", "bondade" e "fidelidade", em 1824, nasceu a primeira Constituição Brasileira, que já previa, em seu dispositivo 8º, os "Socorros Públicos" -sem explicitar muito bem do que isso se tratava. Em 1828, a Lei dos Municípios determinava que as obras de caridade ficariam sob fiscalização das Câmaras Municipais, consolidando o casamento entre o Estado e o assistencialismo.
Se for enumerar, aqui, todas as intervenções do Império, este texto -que já está longo- vai virar uma tese. Se, então, for citar as interferências desde que nos tornamos República, vira um Livro que faria "Os Irmãos Karamazov" parecer um "pocket book".
Até o Período Militar, época que é quase consensual ser considerada "de direita", foi absolutamente intervencionista. Nele, foram criados inúmeros programas sociais -inclusive a Previdência Pública- e fortalecidas as Estatais. Um regime protecionista a ponto de proibir as importações para fomentar a indústria nacional. Foi neste período, aliás, que o Estado teve sua mais forte alavancagem. Assumiram um gigante e, na "redemocratização", entregaram um Titã burocrático.
Desde então, nas mãos dos "democratas" (e corruptos) políticos contemporâneos, o crescimento do assistencialismo -que garante fundos para corrupção, votos de cabresto e popularidade eleitoral- foi praticamente um compromisso de todos os governos. Dilma saiu da presidência deixando 1/4 dos brasileiros, 50 milhões de pessoas, dependentes de algum programa social.
Junte isso a um Estado absolutamente aparelhado, uma imprensa totalmente dependente do dinheiro público e décadas de educação completamente ideológica, que formou e posicionou militantes em todas as esferas.
Some também uma pandemia mundial, que quebrou o planeta todo e fez a inflação e desemprego dispararem inclusive nas maiores potências econômicas da Terra.
Lembre-se que, no Brasil, com o aval do STF (olha o Estado aparelhado aí), governadores e prefeitos usaram a crise sanitária de forma criminosa, agravando ainda mais suas consequências.
Faço, aqui, então, 3 perguntas:
1- EXISTE POSSIBILIDADE DE, NESTE CENÁRIO, SER MAIS À DIREITA?
2- AINDA QUE O GOVERNO FOSSE MAIS À DIREITA, TERÍAMOS ESSA PERCEPÇÃO?
3- O POVO DESEMPREGADO, EXPLORADO A VIDA TODA PELO ESTADO E SEM COMIDA NO PRATO, ESTÁ SE IMPORTANDO COM IDEOLOGIA E RESULTADOS A LONGO PRAZO?
Mesmo diante da maior crise do século, com os gastos Estatais estourando (e muito) o teto, o Governo Federal -ainda que timidamente- conseguiu reduzir alguns tributos, como o ICMS dos combustíveis. Mas este foi imediatamente aumentado pelos governadores e, no final, significou aumento no bolso do consumidor.
Mesmo diante da pressão internacional, o Governo Federal tentou -e ainda tenta- lutar pela liberdade do povo. Mas foi e é tolhido pelo Supremo Tribunal Federal, que determinou autonomia para governadores e prefeitos agirem inconstitucionalmente e, agora, tenta legislar sobre armamento civil e obrigatoriedade vacinal. O Senado, responsável pela "fiscalização" dos Supremos Juízes, permanece mudo.
Desde o primeiro dia, os mais importantes decretos e reformas propostos pelo Executivo foram boicotados pelos outros poderes. Até grande parte da "base aliada", eleita nas costas da popularidade de Bolsonaro, abandonou o Presidente e focou nos seus interesses pessoais.
Lógico que, para sustentar o governo (e garantir a importantíssima reeleição), foi necessário abrir as portas para o "Centrão". Lógico que, para minimizar o impacto do desastre na condução da pandemia, onde até portas de comércios foram soldadas, foi necessário adotar medidas populistas. Não importa que não foi o Presidente quem tomou as medidas imbecis.
Após 500 anos de Paternalismo Estatal, com a cultura do assistencialismo arraigada na alma dos brasileiros e o Estado aparelhado em todas as instâncias, nenhuma mudança será feita do dia para a noite. Tudo demanda TEMPO e APOIO.
Quer criticar o Presidente? Direito seu! Acha que, por fazer o POSSÍVEL, ele não merece novamente seu voto? Direito Seu!
Só lembre-se de algumas coisinhas:
1- Senão for Bolsonaro o eleito, será um criminoso, em liberdade graças à imoralidade do judiciário e à leniência da legislação, que assumirá o poder com "sangue no olho" para Venezuelar de vez com o Brasil.
2- Não adianta reeleger o Presidente e esquecer do Poder Legislativo. Se trocar Hasselmann por Giromini e Janones por Zé Trovão, toda e qualquer reforma continuará "empacada".
3- Se o Presidente se guiasse exclusivamente pela vontade dos "puristas" da direita, que tanto julgam e criticam cada uma das suas ações, hoje teríamos Moro no STF e Dellagnol na PGR.
De minha parte, digo que um homem com quase 3 décadas de Congresso, que só foi citado em investigações quando um corrupto foi grampeado dizendo que ele não se corrompia; que está há 3 anos no governo, com sua vida sendo esmiuçada em cada milímetro, sem que nenhum escândalo seja encontrado, merece confiança. Sabe, melhor que qualquer um de nós, como o sistema funciona e, diferente de alguns dos que o criticam, que falam de longe ou fogem na primeira ameaça, consegue manter-se de pé, mesmo sendo um incômodo inconteste ao stablishment.
É JAIR, OU JÁ ERA!