Glauco Fonseca
Há muito se sabe que empresas estatais precisam ser privatizadas. O tempo de ter um armário cheio delas chegou ao fim e os motivos são abundantes, desde o risco enorme de má gestão, passando por butins e saques e chegando ao limiar da mais incrível inapetência pela competição interna e externa. Organizações estatais são pesadas, lerdas, modorrentas, antiquadas e, acima de tudo, caríssimas. Mesmo a melhor delas poderia ser muito melhor gerida se não fosse a iminência de ser comandada por um amigo de Lula, um compadre de Geddel ou um parente de Aécio.
A diferença cultural é também aberrante. A dinâmica de uma empresa estatal de telefonia é contrastante ‘per si’ com a dinâmica do setor. Se algo precisa de altos investimentos e insana inovação e tecnologia, a condição sine qua non é que ela não pertença ou não possua qualquer franja de conexão com o mundo do setor público. Eis algo que sequer precisa ser comprovado, eis que já fartamente o foi até o início dos anos 2000. O mesmo vale para bancos, energia e combustíveis, correios e mídia. Enfim, tudo que tenha cheiro e cor de iniciativa privada, a ela pertence e não adianta.
Mesmo as estatais que hoje são lucrativas, dariam muito mais resultados e teriam custos muito menores a seus tomadores de serviços não fossem elas mono ou oligopólios do setor público. A simples verificação de que os resultados de estatais são positivos não é suficiente para que ela seja mantida como empresa governamental, no todo ou em parte. A empresa pode permanecer décadas gerando resultados positivos e, ao mesmo tempo, prestar um serviço precário, antigo, ruim. Lembrou dos Correios? Lembrou da Petrobras? Pois eu também.
As aves que aqui gorjeiam, como diria Manoel Bandeira, precisam migrar todas para o setor privado. Ainda há outro grande problema das estatais brasileiras, que são os fornecedores e parceiros das estatais de Pasárgada: Os famosos Amigos do Rei. O rei, por sua vez, costumava possuir amigos demais, interessados nas burras das estatais. Esta gigantesca e faminta horda de Amigos do Rei, ainda que momentaneamente distantes dos potes de ouro, possui despachantes luxuosos do outro lado da rua, no suntuoso Congresso Nacional, ali mesmo na Praça dos Três Poderes. Lá, e nos prédios adjacentes, existem magotes de amigos do rei. Há também os amigos dos amigos de papai e muitos outros perfis amigos derivados.
A Caixa, coitada, foi estuprada durante os governos petistas. Sua sobrinha, Funcef, também foi abusada e maltratada pela mesma turma. Semana passada, no entanto, sem que se falasse no desvio de um centavo sequer, o presidente da instituição teve de pedir demissão por causa de diálogos que, segundo alguns, comprovaria “assédio moral” do presidente para com os funcionários da estatal. A escuta dos tais áudios somente pode levar a uma e única conclusão: De que a Caixa tem de ser a PRIMEIRA a ser privatizada. Todas as sílabas constantes naquelas gravações, que seriam triviais em qualquer reunião de diretoria de qualquer empresa PRIVADA no país, foram utilizadas para expor o presidente como alguém cruel e moralmente abusivo, o que todos sabem que ele não é.
Portanto, a lição das gravações e o afastamento do presidente da Caixa é o epílogo de uma história que precisa ser encerrada de vez. A conclusão é que TODAS as estatais dão prejuízo, TODAS são ultrapassadas e TODAS são deletérias para a economia e para o cidadão pagador de impostos. TODAS são prejudiciais, mesmo dando lucro. Todas são deletérias e substituíveis por organizações mais leves, funcionais e rentáveis.
Pedro saiu da Caixa e, ainda que tenha sido traído, nos deixou o legado da CERTEZA de que todas as estatais devem desaparecer. TODAS, sem exceção