Marcus Vinicius Gravina
Assisti o vídeo e depois li o discurso do gen. Tomás Ribeiro Paiva, novo comandante do Exército.
Falou diante da tropa, bem ao estilo de Benito Mussolini, com o bastão de comando em uma das mãos e gestos largos, bem encenados. Tive boa impressão cênica, se comparada com os raros do gen. Ernesto Geiser.
Destaquei para comentar:
“Nós vamos continuar íntegros, respeitosos, coesos e garantindo a nossa democracia. Porque democracia pressupõe liberdade, garantias individuais, políticas públicas e também é o regime do povo, alternância de poder. E, voto é quando a gente vota, tem de respeitar o resultado da urna”.
De todos estes atributos citados irei me deter e um deles, o que afirma a “coesão”. Pois esta expressão se apresenta, no caso a seguir, contraditória e ambígua.
Onde estava o novo comandante do Exército quando seu superior hierárquico atendeu o convite - faz de conta - do TSE para acompanhar ou examinar as urnas apontadas de violações ou fraudes, dentro e fora do país.
O presidente do TSE não contava com a aceitação, tampouco com o nível profissional e técnico dos militares. Surpreendeu o laudo que apresentou inconsistências de um grande lote de urnas.
Diante disso, foi dado prazo para que o TSE fornecesse o Código Fonte das urnas, o que teria evitado os males, de antes, durante e depois do dia 8 de janeiro, lamentados por todos: danos ao patrimônio, prisões, campo de concentração, multas, censuras à imprensa, condenados em recente pronunciamento patriótico do Presidente da OAB-RS.
O TSE virou as costas ao Comando do Exército, negou o atendimento formal e legal ao pedido, desafiando a sua tradição de instituição de Estado respeitada pelos brasileiros que recorreram a ela em busca de defesa contra a tirania e o direito de saber o que fizeram com seus votos.
O TSE está em falta com às FFAA, em especial com o Exército. Diante disso foi um ato equivocado do atual comandante que pregou ter de se respeitar o resultado das urnas, impedidas da auditoria requisitada pelo próprio Exército que passou ao seu comando.
Falar à tropa o que quer e impõe o presidente da República – chefe supremo das FFAA é confortável. Ouvir o que a tropa - que é a maioria - de capitães, tenentes, sargentos cabos e soldados que gostariam de dizer o que pensam, nada tem de democrático ou razoável.
Manda quem pode e obedece quem tem medo ou se acovarda.
Fui soldado em 1961, na chamada Legalidade, quando a minha unidade unidade militar de Caxias do Sul – 3 Grupo de Artilharia Anti-aérea foi proteger o Palácio Piratini de supostos ataques da FAB. Lá estava o governador Brizola, com o apoio do III Exército comandado pelo gen. José Machado Lopes, que rebelou-se contra o Comando Geral de Brasília. Várias reuniões aconteceram no quartel com tenentes, sargentos e cabos, que foram fundamentais à tomada de posição em favor da Legalidade, ou seja, posse de João Goulart na presidência da República. Resultado, houve a posse, sem disparos de armas.
Caxias do Sul, 23.01.2023