Marcus Vinicius Gravina
OAB-RS 4.949
É a conclusão que se pode ter das declarações em vídeos, que teriam vazado de uma reunião de militares do comando do Sudeste atribuídas ao atual Comandante-geral do Exército. Circulou há poucos dias e foram comentadas no Menu Globo/Política, Band Jornalismo e CNN Brasil (04.03.23), que motivaram este artigo.
De vários tópicos, considerei da maior importância o que abordou a suposta fraude nas eleições de outubro de 2022.
Foi precisa a afirmação do general, de que não houve fraude. No entanto deixou dúvidas que serão destacadas. Falando consigo mesmo, como se estivesse diante de um espelho disse:
“Ah! Mas tinha coisa que a gente não pode ver? Sim. Tinha coisa por exemplo ... o código fonte era possível? Não. Por quê não era possível? Porque levaria uma montanha de tempo. Agora esse mesmo processo eleitoral que elegeu o atual presidente e que não elegeu o ex-presidente, ele foi o mesmo processo que elegeu majoritariamente um congresso conservador”.
Em outro vídeo, prossegue: “Ele (Bolsonaro) teve mais votos nesta eleição do que teve na outra. Então, a diferença nunca foi tão pequena. Foi mínima. E aí o cara fala assim - pô general, mas não teve fraude? Nós participamos de toda a fiscalização, fizemos relatórios, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade. Infelizmente foi resultado que para a maioria de nós foi indesejado, mas aconteceu”.
A ambiguidade neste texto está presente nele. No início o general foi categórico: não houve fraude. Mais adiante, reabriu a dúvida ao declarar: “não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade”.
Os relatórios da fiscalização do Exército revelaram esta incerteza, até o ponto que chegaram os trabalhos das FFAA, representada pelos técnicos do Exército. Foi quando, para elucidar e concluir a auditoria ou fiscalização de urnas suspeitas, consideraram indispensável e requisitaram o código fonte ao TSE, o que foi negado por seu presidente.
Tentando justificar a interrupção das investigações, que esperaram em vão pela entrega do código fonte da apuração de urnas não auditáveis, de outra forma, fez questão de dizer que de 1º a 8 de janeiro deste ano, dia das invasões na praça dos três poderes, o Presidente da República/Comandante Supremo das Forças Armadas era outro. Se não disse ficou implícito, que na qualidade de superior hierárquico das FFAA, o presidente não teria permitido ou não admitiria a continuidade da auditoria que poderia lhe custar a perda do mandato.
Este foi o impasse que congelou a apuração dos fatos, que correm o mundo perplexo com os estridentes acontecimentos políticos em nosso território.
Quanto à maioria conservadora eleita para o Congresso no mesmo pleito evidencia-se mais um indicativo da incoerência ou distorção do resultado da eleição para presidente, tratando-se de eleitos pela mesma ala política do candidato derrotado.
O foco da questão, se houve alguma manipulação, foi na apuração dos votos presidências. Sem o código fonte, a verdade é uma só: as FFAA, (Exército) não concluíram a missão fiscalizadora, que contou para isto com todo o apoio e expectativa da sociedade brasileira.
A lógica da fala do Comandante do Exército leva a considerar o “dito por não dito”.
Não houve feridos em batalhas, mas muitas chagas foram abertas no âmago dos cidadãos brasileiros, que foram e continuam obrigados a votar, sem garantia de correção do uso de urnas não auditáveis.
Assim, como cidadão, exerço meu direito de opinião. Não é momento de se omitir.
Caxias do Sul, 03.03.2023