Depois de 5 anos de batalha judicial, editor é absolvido em caso de política nas escolas. O caso é do Marista Ipanema.

Os advogados do Scalzilli Althaus Advogados, Porto Alegre, passaram ao editor o inteiro teor da sentença pela qual o juiz Rogério Delatorre, titular da 15a. Vara Cível, absolveu o editor em processo movido em 24 de fevereiro de 2017 pela professora de matemática do Colégio Marista Ipanema, Letícia Sório Saraiva (CLIQUE AQUI para ler a petição inicial da professora). Na mesma ação, foram também atacados o jornalista Glauco Fonseca e o Facebook, ambos igualmente absolvidos. A professora, que defendeu a censura de textos publicados no blog do editor e no perfil existente no Facebook, além exigir retratação e uma indenização de R$ 30 mil, foi condenada a pagar custas judiciais e os advogados das partes, mas como pediu Assistência Judiciária Gratuita, o magistrado isentou-a dos ônus. Seus advogados João Milanez e João Carlos Azevedo, já tinham perdido, sucessivamente os pedidos de segredo de justiça, tutela antecipada, agravos e embargos, mesmo os protocolados junto a 17a. Câmara Civel, constituída pelos desembargadores Gelson Rolim Stocker, Liége Puricelli Pires e Giovanni Conti, menos a questão de censura das opiniões de leitores, que segundo o Marco Civil da Internet são de responsabilidade deles mesmos. Em cautelar anterior, o juiz Roberto José Ludwig já tinha negado tudo. O magistrado alegou que os pedidos "violavam a liberdade de expressão e de crítica, bem como o direito dos pais de acompanharem a educação dos filhos, ambos garantidos pelo estado democrático de direito". A professora chegou a bater às portas, também, do STJ, para modificar as decisões dos juízes singulares e do TJRS, mas a ministra Maria Isabel Galotti negou o recurso especial, tudo depois de agravo interno apresentado pelos advogados do editor deste blog.

A questão principal teve origem na publicação de texto de Glauco Fonseca, protestando contra a inclusão de temas políticos e sociais nas aulas de matemática da 9a.série, frequentadas por seu filho (CLIQUE AQUI para examinar a defesa). O pai reclamou na escola e foi repelido, tendo, então, retirado seu filho do Marista Ipanema. 

O editor é defendido pelos advogados Ingrid Nedel Scalzilli, Veronica Althaus, Marcela Joelsons, Gabriela Chimelo Pereira Randoni, Camila Teófilo e Rafael Meneghetti. CLIQUE AQUI para ler a sentença.

Musk: o que perderia ao sair do Brasil

 Mas qual a importância do país no balanço da empresa?


Desde a compra do Twitter, atual X, em abril de 2022, a companhia se tornou privada e não é obrigada a divulgar os balanços financeiros. Na época da compra, Musk adquiriu a plataforma por US$ 44 bilhões e, após fechar o negócio, demitiu Parag Agrawal (executivo-chefe); Ned Segal (diretor financeiro); Vijaya Gadde (diretora jurídica); e Sean Edgett (conselheiro). Depois disso, Musk trocou o nome do Twitter por X.


Mais de um ano depois da compra, o bilionário viu a empresa perder valor de mercado. Em janeiro deste ano, o valor da empresa caiu para 1/3 do valor que pagou durante a compra da rede. O "Statista" projetou um recuo sequencial da receita do antigo Twitter com publicidade, pelo menos até 2027, quando o resultado deve somar US$ 2,7 bilhões.


Mas, além do valor de mercado, o X vem sofrendo com a diminuição na quantidade de usuários da rede social ao redor do mundo, com trajetória de queda desde 2023 e com projeção seguindo até 2025.



"Isso porque o brasileiro passa, em média, mais de 9 horas por dia na internet. Essa é uma das maiores médias globais, fica atrás apenas da África do Sul. Então, atingir o usuário brasileiro é muito importante”, diz o especialista. De acordo com o relatório Digital 2024: Brasil, da Data Reportal, em janeiro de 2024 o Brasil tinha 144,0 milhões de usuários de mídias sociais, o que equivale a 66,3% da população total.


Em segundo lugar, existe a questão numérica, com muitos usuários na internet e que utilizam as plataformas de redes sociais. Em relação ao X, o Brasil está entre os países com mais usuários, segundo levantamento de janeiro deste ano feito pelo "Statista", ficando em sexto lugar, atrás apenas dos Estados Unidos, Japão, Índia, Inglaterra e Indonésia.


Segundo o "Statista", em janeiro de 2024, o Brasil tinha mais de 22 milhões na rede social. De acordo o relatório da "Data Reportal", no mesmo período do ano passado eram 24,30 milhões, mostrando uma queda no número de usuários no país.


Ainda de acordo com relatório da "Data Reportal", os dados publicados nas próprias ferramentas de planejamento de anúncios do Twitter mostram que o número de usuários que os profissionais de marketing poderiam alcançar com anúncios no Twitter no Brasil diminuiu 2 milhões (-8,4%) entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. Além disso, o alcance potencial do anúncio no país também recuou 2,2 milhões (-8,9%) entre o início do ano passado e o deste ano.

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Com uma possibilidade de saída no Brasil, Archegas ressalta que pode haver redução nos lucros. "Certamente sofrerá impactos negativos em termos de receita, não há dúvidas disso. Estaria perdendo usuários que são muito ativos, que compartilham dados pessoais a todo momento, que compram por meio da plataforma por meio de anúncios, que assinam pacotes”, finaliza.



Musk: a escalada

Jornal VAlor, 09/04/2024

 A escalada do empresário americano Elon Musk, dono da rede social X, contra o Judiciário brasileiro deu-se em um contexto de insatisfação das “big techs” com as normas da Resolução 23.732, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições municipais deste ano. A resolução, publicada em 27 de fevereiro, determinou em seu artigo 9-E a responsabilidade solidária civil e administrativa das plataformas quando não removerem conteúdo nos “casos de risco”.


O dispositivo tornará as plataformas corresponsáveis, ao lado dos autores, dos conteúdos que venham a ser considerados ilícitos pela Justiça Eleitoral ao longo do processo das disputas municipais. O propósito da norma foi induzir os provedores a reforçarem a moderação das suas publicações. É exatamente o oposto do que Musk faz à frente do X. Desde que assumiu o comando da rede social Twitter, o empresário não apenas a rebatizou como afrouxou drasticamente a moderação da rede.


Para o professor de direito Ricardo Campos, da Universidade de Frankfurt, a resolução permitiu ao TSE suprir, mesmo que de forma precária, a falta da votação pelo Congresso Nacional de um novo marco regulador paras redes sociais. Um dos pontos do projeto de lei 2630, parado na Câmara dos Deputados, é o que permite a remoção de conteúdo sem a obrigação de ordem judicial.


“Este é o modelo que está em vigor desde o ano passado na União Europeia. Elon Musk chegou a anunciar que ia se retirar da Europa, mas não só não o fez como está cumprindo a legislação”, afirmou.


Musk evitou o confronto na Europa, mas o contexto de enfrentamento no Brasil é maior, desde que o presidente Jair Bolsonaro passou a buscar uma ruptura institucional atacando o sistema eleitoral, processo que culminou na declaração de sua inelegibilidade no ano passado e na sua inclusão em um inquérito sobre tentativa de um golpe de Estado. O X é um dos pilares da estratégia de comunicação do bolsonarismo. Musk encontrou-se com Bolsonaro durante a campanha e é um aberto admirador de outros líderes extremistas como o ex-presidente Donald Trump.


“Tem havido uma demanda da direita brasileira para que Musk intervenha no debate”, afirma o especialista em redes sociais Pablo Ortellado, para quem não está claro o motivo pelo qual o empresário de origem sul-africana chegou ao extremo de anunciar sua disposição de não cumprir decisões judiciais. “Ele é um falastrão que muitas vezes não leva a cabo suas ameaças”, diz. O que para Ortellado está claro é que é cada vez mais provável que o Judiciário brasileiro tome a decisão mais extrema que a legislação permite, que é o banimento da rede do país.


Esta possibilidade é prevista expressamente no Artigo 12 do Marco Civil da Internet, de 2014. Para Ortellado, a medida teria repercussão mundial e provocaria uma deterioração do quadro institucional brasileiro. “Aprofundaria o processo de polarização no país, com reforços na argumentação de que o Judiciário age de maneira autoritária e de que as redes sociais apostam na ruptura”.


Por outro lado, segundo o especialista, se Musk de fato descumprir decisões judiciais, acionaria “um alerta para o Judiciário do mundo inteiro, sobretudo o da Europa” sobre a falta de compromisso do empresário com a institucionalidade. “O que se sabia até agora é apenas que ele encara qualquer tipo de regulação como cerceamento à liberdade da expressão, mas não se estabeleceu uma relação direta”, afirmou ao Valor Ortellado.


Em publicação na própria rede social de Musk, Ortellado escreveu que a proibição de contas inteiras, a seu ver, caracteriza censura prévia. “É impedimento de alguém publicar porque a Justiça entende que ela pode vir a cometer ilícito”, afirmou.


Ortellado também criticou o Judiciário por falta de transparência. “Até o momento não temos uma lista das contas suspensas. Não sabemos se foram 10 ou 500, como bolsonaristas alegam. A maioria dos inquéritos corre sob sigilo”, diz, em uma referência às suspensões determinadas por Moraes no contexto das investigações no inquérito de atividades antidemocráticas.


Segundo Ortellado, “algum endurecimento da Justiça certamente foi necessário para conter as ações antidemocráticas. Porém o 8 de Janeiro aconteceu há mais de um ano e as suspensões de conta permanecem, sem boa justificativa”.


A disposição de quem quer que seja em cruzar a linha da desobediência judicial indica uma ameaça direta à democracia, segundo o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, que foi presidente do STF em 2012, ano em que se aposentou.


“A liberdade de expressão é absoluta nos moldes de sua razão de ser, que é o da preservação da democracia”, disse o ex-ministro, para quem “a plataforma social é passível de regulação do poder público, do contrário corremos o risco de o direito ser afastado como norma de conduta, o que leva à autocracia”.


Para Ayres Britto, “a democracia não pode ter um encontro marcado com o seu próprio funeral”. O ex-ministro participou da audiência pública conduzidas pela ministra Cármen Lúcia que instruiu a elaboração das resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições deste ano.


Na visão de Ayres Britto, o STF é guardião exclusivo da Constituição, que tem a democracia como “continente” e a liberdade de expressão como um dos conteúdos desse continente. “O Poder Judiciário está habilitado a dar a resposta a toda e qualquer ação que ameace a defesa do Estado e das instituições”, disse.


Ayres Britto reconhece, contudo, que “há uma zona de penumbra” na interpretação das normas. “O direito visto pela perspectiva dos seus princípios funciona como moldura semi-aberta. Cabe mais de uma interpretação”.