O boca a boca e o dedo a dedo eleitoral

No jornal Estado de SP (14), o analista José Roberto de Toledo comenta os novos números de pesquisas que mostram uma redução na proporção dos eleitores que afirmam que suas decisões políticas e eleitorais tomadas pelo contato direto com outras pessoas, o “boca a boca”, vem perdendo importância a favor do que ele chama de “dedo a dedo”, via internet.
                
2. Ele escreve: “Na política, o boca a boca está perdendo espaço para o dedo a dedo. Ao decidir o voto, pesa cada vez menos o bate-papo a viva-voz e, cada vez mais, chats digitados no celular. Segundo o Ibope, as conversas com amigos e parentes caíram à metade na hora de o eleitor escolher candidato, enquanto as interações digitais foram multiplicadas por seis. Essa revolução de comportamento terá impacto determinante nas eleições deste ano.”
             
3. “Em 2008, apenas duas eleições municipais atrás, 47% do eleitorado dizia ao instituto que o diálogo cara a cara com as pessoas do seu círculo familiar, de amizades e profissional era muito importante para coletar informações e alimentar seu processo decisório sobre em quem votar. Em dezembro de 2015, o Ibope descobriu que essa taxa caiu para apenas 22%. Em grande parte, essa perda de importância das conversas presenciais foi compensada pelo crescimento explosivo das consultas a sites de internet: subiu de 3% para 14% a fatia de brasileiros que cita esse meio de informação eleitoral.”
             
4. “Ao mesmo tempo, as redes sociais (Facebook, WhatsApp e Twitter), ignoradas em 2008, são lembradas hoje por 5%. Somando-se sites e redes, os meios digitais influenciam 19% do eleitorado. Ficam tecnicamente empatados com a propaganda eleitoral oficial (19% de citações como fonte de informação), com as conversas com amigos e parentes (22%) e com o rádio (18%). Só perdem para a TV, cujo prestígio segue aparentemente inabalado. Era citada por 48% em 2008, foi lembrada por 51% em 2015.  Os meios impressos (jornais e revistas) oscilaram de 12% para 10%.”
            
5. Não há nenhuma dúvida que o multiplicador do boca a boca cresceu enormemente com o boca a boca eletrônico que Toledo chama de dedo a dedo. Mas continua prevalecendo a lógica de Gabriel Tarde (As leis da Imitação, final do século XIX). É no contato pessoal direto que uma opinião individual se afirma e dá força para que o indivíduo repasse essa opinião com argumentos.
                
6. Uma vez nas redes e confirmados pessoalmente, o multiplicador cresce e ganha velocidade. Se antes (Gabriel Tarde) a opinião pública se formava por estes fluxos de opinamento pessoais e individuais e era multiplicada ou acelerada primeiro pelos panfletos e pichações, depois pelo telefone, depois pelo rádio e finalmente de forma explosiva pela TV, agora as redes sociais passam a cumprir a função dos meios de comunicação tradicionais.
                
7. Por um lado -via redes- ganham velocidade e alcance, mas, por outro lado, pela característica desierarquizada, individualizada e pulverizada das redes, esse multiplicador das redes tem um grau muito grande de dispersão. De certa forma ocorrendo o que Tarde entende como fluxos de opinamento, nos pontos onde surgem convergências, as redes aceleram a formação de opinião enormemente.
                
8. Tarde destaca os indivíduos iniciadores de fluxos (que chama de “loucos”). Nas redes, com certeza o número e a proporção de “loucos” é muito maior que no boca a boca pessoal. E a quantidade de fluxos de opinamento aumenta nesta proporção. A TV e os jornais sabem tanto disso. Depois de resistirem entrar neste jogo, hoje são parte integrante e importante dele

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