Uma vez que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) delatou
Dilma, Lula e companhia ilimitada, sinto-me liberado para contar o que ouvi
dele no primeiro semestre de 2006, a poucos meses da reeleição do então
presidente Lula.
Delcídio era o presidente da CPI dos Correios que
investigava o mensalão. Eu nunca havia conversado com ele antes. Jantamos no
Restaurante Alice, no Lago Norte. E, ali, ele me disse o que segue.
Algumas semanas antes, se reunira em Belo Horizonte com
Marcos Valério, o publicitário mineiro que operara o esquema do mensalão junto
ao tesoureiro do PT Delúbio Soares. Valério estava aflito e furioso. Tivera
dinheiro bloqueado por ordem judicial.
Precisava de ajuda para fazer face às suas despesas.
Ameaçava contar o que sabia sobre o pagamento de propinas a deputados e
senadores para que votassem no Congresso como mandava o governo.
Depois de ouvir o desabafo de Valério, disse-me Delcídio
que havia pedido uma audiência a Lula. Fora recebido por ele no gabinete
presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio transmitiu a
Lula o que ouvira de Valério. E a primeira reação de Lula foi se calar.
Por alguns segundos, narrou Delcídio, Lula olhou parte da
vegetação do cerrado que se descortinava a partir da janela envidraçada do seu
gabinete. Parecia tenso. Voltou-se então para Delcídio e perguntou: “Você já
procurou Okamotto?”
Delcídio respondeu que não. E Lula mais não disse e nem
lhe foi perguntado. Seria desnecessário, observou Delcídio entre uma taça e
outra de vinho chileno. Estava sóbrio, registre-se.
Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da
família Lula. Ganhara o emprego de presidente do Sebrae. Hoje, é presidente do
Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.
Delcídio procurou Okamotto. E logo depois foi procurado
por Antonio Palocci, ministro da Fazenda, que fora acionado para garantir o
silêncio de Valério.
Em sua delação, ainda não homologada, mas publicada pela
revista IstoÉ, Delcídio detalha o que me revelara antes de maneira mais
econômica. Valério não recebeu os R$ 220 milhões que pediu, só parte deles. O
suficiente para permanecer calado.
No dia seguinte ao encontro com Lula, Delcídio afirma que
recebeu uma ligação do então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. “Parece
que sua reunião com o Lula foi muito boa, né?”, perguntou o ministro.
A resposta de Delcídio foi a seguinte: “Não sei se foi
boa para ele”. Na sequência, Palocci ligou para Delcidio dizendo que Lula
estava “injuriado” com ele em razão do teor da conversa.
O que Palocci disse faz bem o estilo de Lula. O
ex-presidente, desde os seus tempos de líder sindical, sempre soube de tudo o
que acontecia ao seu redor. Tudo controlava. Mas se irritava quando ficava
claro que ele sabia.
Distribuía tarefas entre os seus seguidores. Esperava que
eles as cumprissem. Mas não queria saber do que pudesse comprometê-lo mais
tarde. Queria apenas resultados.
Os resultados estão aí. A casa caiu!
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