A Odebrecht iniciou a reforma do sítio em outubro de 2010, quando Lula
ainda ocupava a Presidência, o que pode complicar a situação do ex-presidente
se a Justiça considerar que a reforma foi a retribuição a algum favor
A reportagem é de Wálter Nunes e Mário Cesar Carvalho, Folha:
Ex-executivo da Odebrecht mais próximo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, Alexandrino Alencar mudou a atitude em relação ao acordo
de delação que está negociando com a Lava Jato e passou a entregar informações
sobre a reforma do sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo petista e as viagens
que fez com ele para países da África e América Latina. Alencar prestou dois
depoimentos aos procuradores. No primeiro, em Curitiba, sua delação foi
rejeitada porque os investigadores consideraram que ele omitira fatos para
preservar Lula. Ele e seus advogados refizeram o roteiro a ser apresentado aos
investigadores. Na terça-feira (18) ele voltou a falar com a força-tarefa,
desta vez em Brasília. Com a apresentação de novas versões sobre o sítio e as
viagens, os procuradores já sinalizaram que vão aprovar os termos do acordo.
(…)
A Odebrecht iniciou a reforma do sítio em outubro de
2010, quando Lula ainda ocupava a Presidência, o que pode complicar a situação
do ex-presidente se a Justiça considerar que a reforma foi a retribuição a
algum favor que ele fez às empresas que cuidaram da obra. Dependendo da
interpretação judicial, a reforma poderá ser considerada crime de corrupção, já
que começou quando Lula ocupava um cargo público. Na sua proposta de delação,
porém, Alencar narra fatos sobre a reforma após a saída de Lula da Presidência.
O começo da obra será narrado por outro delator da Odebrecht, ainda de acordo
com apuração da Folha. A empresa bancou benfeitorias no sítio, como a
construção de um anexo com quatro suítes.
Outro lado
A defesa do ex-presidente Lula refuta que ele tenha
recebido recursos ilícitos da Odebrecht e atacou delações. Em nota, o Instituto
Lula diz que “a defesa do ex-presidente já entrou com pedido de investigação na
PGR [Procuradoria Geral da República] sobre mudança de versões em duas
tratativas de delação –as de Alexandrino Alencar e Léo Pinheiro [da OAS]– pelo
risco de coação pelos investigadores para obterem versões contrárias ao
ex-presidente, e pela perda do princípio da voluntariedade, o que tornaria tais
delações nulas”. Ainda segundo a nota, “se delações não são provas, apenas meio
de investigação, mais irrelevantes ainda são supostas delações”.
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