"Acho que não tem a menor relação", diz youtuber que gravou vídeo com denúncia contra Zalewski

Coordenador da campanha de Sebastião Melo teria demonstrado incômodo com vídeo publicado por Arthur Moledo Do Val

Criador do canal no YouTube Mamaefalei, o paulista Arthur Moledo Do Val, 30 anos, tornou-se, indiretamente, personagem da tensa campanha eleitoral em Porto Alegre. É ele o autor do vídeo que, segundo amigos de Plínio Zalewski, vinha perturbando, nas últimas semanas, o coordenador da campanha de Sebastião Melo (PMDB), encontrado morto na segunda-feira.

Na gravação de pouco mais de quatro minutos, Do Val aparece questionando Melo sobre a suposta participação de Zalewski na campanha em horário de expediente na Assembleia Legislativa, onde o responsável pelo plano de governo do peemedebista era funcionário.

Em seguida, segue para o Legislativo à procura de Zalewski. Publicado em 29 de setembro, o vídeo soma quase 36 mil visualizações. No mesmo dia, Zalewski pediu exoneração do cargo em comissão na Assembleia.

Do Val considera-se um liberal e diz que trabalha unicamente por ideologia. Ele diz ter viajado a Porto Alegre para a produção de vídeos para o seu canal depois de um contato com o candidato a vereador Matheus Sperry (Partido Novo), intermediado pelo Movimento Brasil Livre (MBL).
Criado há cerca de um ano e meio, o Mamaefalei popularizou-se depois de vídeos gravados com militantes em manifestações de esquerda, ideologicamente contrários a sua visão. Do Val não acredita que o vídeo tenha relação com a morte de Zalewski, que, segundo a Polícia Civil, trata-se de um suicídio.

O que lhe mobilizou a viajar para Porto Alegre?

Quando comecei a fazer os vídeos, o pessoal do MBL entrou em contato e perguntou quais eram meus ideais. Disse que tenho ideais de liberdade, bem parecidos com os do MBL. Eles me chamaram para uma parceria, para divulgarem meus vídeos. Eles falaram: "Ó, a gente te passa onde vai ter manifestação, você vai lá, faz e a gente divulga pra você". Falei: "Beleza". Isso ajudou o meu canal a crescer bastante. Em Porto Alegre, foi justamente uma pauta dessas. Falaram que tinha um candidato a vereador no Sul chamado Matheus Sperry, que tem ideais liberais e que e o MBL está alinhado com as propostas liberais dele. Falaram que seria interessante se eu fosse para Porto Alegre porque conheceria o Sperry, e tem a PUC de Porto Alegre, que tem bastante pessoas de esquerda, e a Esquina Democrática, que tem bastante pessoas desse viés político de esquerda. Então, falei: "Vamos embora".


Quem pagou as suas despesas?

Paguei tudo. Saiu tudo do meu bolso.

Tudo por amor?

Tudo por ideologia, completamente ideologia. Paguei minha alimentação, tudo foi por minha conta. O pessoal pergunta porque faço isso se não ganho um centavo com o canal. Não ganho um centavo, meu canal não é grande o suficiente para me dar dinheiro. Faço 100% de maneira ideológica. O canal é 100% eu, não tem outra pessoa, não tem discussão política, o que decidir, faço. Decidi fazer isso, fui lá e fiz.

Mesmo que isso te despenda gasto com viagem e hospedagem, por exemplo.

Isso aí... Fazer o quê? Infelizmente, a gente acaba gastando com isso, né. Em vez de ganhar dinheiro, acaba gastando.

Você veio para Porto Alegre com pautas?

Não. Isso foi o bacana. Não fui com pauta nenhuma. Fui para conhecer o Sperry, conhecer as propostas dele, fazer um vídeo na Esquina Democrática, que nem conhecia, e acabei fazendo um vídeo na PUC. Fiz esse vídeo do Melo, coincidentemente, e foi isso.

Onde você encontrou o Melo?

Participei de uma entrevista com o Diego Casagrande (apresentador da Rádio Bandeirantes) e três convidados. Cheguei antes na Band, almocei, e, daí, passou o Melo. Uma oportunidade única. Não estava nem com câmera, nada. Peguei o celular. Em uma das perguntas, ele falou pra mim: "Você vai lá e protocola um pedido de esclarecimento, uma denúncia". Falei: "Tudo bem, vou fazer isso". Como cidadão tenho esse direito? Tenho. Então fui fazer isso.

No vídeo com o Melo, você cita a denúncia de que Plínio era funcionário da Assembleia e estava trabalhando na sua campanha. Como essa informação chegou até você, em São Paulo?

Quando vou fazer uma entrevista com alguém, não que seja repórter profissional, mas pesquiso, justamente para perguntar o que o cara não quer responder. Se você dá um Google no Melo, ver o que tem do Melo e ele não gosta... Daí achei esse trecho. Achei bacana perguntar isso.

Mas você disse que, quando chegou na Band, nem sabia que o Melo estava lá.

Não, não sabia. Foi uma coincidência. Mas, assim, quando fui para Porto Alegre, já sabia quem eram os candidatos. Na verdade, achava que a Luciana Genro iria para o 2º turno e fui preparado para procurar ela. Acabou que ela não foi, as pesquisas, nem sei, mostraram o Marchezan e o Melo no 2º turno. Então acabei indo mais para o Melo mesmo. Foi uma coisa, assim, uma coincidência de sorte, mesmo. Cruzei com o cara bem na saída da Band. Daí, pensei: "É a minha chance". Mas já estava com o gatilho armado, por dizer assim.

Então você já estava preparado caso encontrasse ele.

Com certeza. Porque saí de São Paulo para ir até Porto Alegre. Se encontrasse, por exemplo, o Melo, a Luciana Genro, ou o candidato do PT, como meu canal é pequeno, para mim é algo expressivo. Então, vou preparado para o que acontecer.

De onde você tirou a denúncia sobre o Plínio? Alguém lhe soprou?

Como essa história veio à tona, agora ficou muito fácil de achar. Mas, se você entrar na internet e procurar, vê inclusive prints do que estava acontecendo. Ele foi numa rádio numa hora que não podia. Vou ser sincero para você, não tenho esse conhecimento técnico para analisar as horas que o Plínio deveria ou não trabalhar. Fui para fazer perguntas. Se o Melo respondesse: "O Plínio não estava em horário de trabalho", eu diria: "Tá bom". Não ia ter mais combustível para queimar. Entendeu? Mas ele levantou a bola. Ele disse: "Faz o seguinte, pede um esclarecimento". Pensei, opa, essa resposta está muito política. Nem sabia que, como cidadão, tinha esse poder de protocolar um pedido. Ia finalizar o vídeo, editar e postar o Melo. Estava com preguiça de fazer o resto. Mas pensei: "Estou aqui em Porto Alegre, cara, não vou perder por preguiça a continuação". Então resolvi fazer o resto. Mas jamais ia imaginar que acarretaria nisso. Inclusive, se puder dar a minha opinião pessoal, e isso não conta, acho que essa história está muito mal contada. Mesmo porque, no dia em que fui fazer o vídeo, antes de editar e pôr no ar, ele mesmo (Zalewski) tinha feito um ataque a minha página no Facebook. Está muito estranho isso. Tem uma pessoa que faleceu. Não sei qual o histórico de campanha em Porto Alegre, mas acredito que... Nossa, fiquei chocado quando fiquei sabendo. Que coisa estranha, olha o nível que chegou.

Mas como você chegou ao nome do Plínio, especificamente?

Agora ficaria fácil, porque é só dar um Google e aparecem milhares de coisas dele, mas é uma pesquisa. Esse foi o tiro que acertei, vamos dizer assim. Teve outros que errei e que não usei. Por exemplo, se encontrasse com a Luciana Genro, tenho folhas e folhas da Luciana Genro. Assim, a gente vai com uma bagagem, senão, perco a viagem. Daria muito mais sorte se tivesse encontrado a Luciana Genro, seria muito bom para mim, porque ela é um símbolo da esquerda. Mas encontrei o Melo e foi o Melo. Esse negócio do Plínio, vou ser sincero para você, achei que era nada, uma azeitona, e, depois do vídeo, recebi várias mensagens falando que era verdade, que ele era assessor da Assembleia Legislativa e realmente não aparecia para trabalhar. Mas a maior prova que tive foi o próprio Melo. Na hora que falei para o Melo e ele me deu aquela resposta, falei: "Nossa". Achei que ele fosse tirar de letra, que fosse uma coisa irrelevante, que ele fosse falar: "Garoto, quem é você, você não sabe nada". Quando ele me deu aquela resposta, pensei: "Aqui tem coisa".

Tem se dito que haviam invadido o Facebook do Plínio e desferido ataques contra ele e a sua família.

Querendo ou não, o Facebook tem uma credibilidade absurda... A empresa do Mark Zuckerberg, muito do que eles cuidam é da proteção de dados. Se realmente tivesse acontecido, quem sou eu para falar, mas acho que seria um assunto inclusive internacional, não regional, de Porto Alegre. Se alguém tivesse invadido uma conta de Facebook de uma pessoa, então, realmente, estamos falando de hackers internacionais.

Você em momento algum desferiu ataques ou o perseguiu?

De jeito nenhum.

O vídeo está sendo apontado como um dos motivos de abalo psicológico de Plínio. Como você reage a isso?

Sinceramente, acho que a matéria de Zero Hora foi a mais sensacionalista, a que mais quis "linkar" uma coisa na outra. Acho que não tem a menor relação. Acho que sou muito pequeno para ter esse poder todo. Acho que vocês estão superestimando o meu poder, não tenho esse poder. Imagina. Isso não existe, uma pessoa se matar por causa de um vídeo. Isso não existe. Além do mais, estou achando esquisita essa história. Com certeza, acho que tem algum crime aí no meio. Mas isso vamos saber no futuro.

Não relacionei um fato ao outro, apenas disse que pessoas próximas a eles relataram que o vídeo o abalou muito, tanto que, no dia da publicação do vídeo, ele pediu exoneração da Assembleia.

Não fiquei sabendo disso. Isso é uma coisa que choca as pessoas. Quando recebi a notícia, pensei: "Não é possível o que está acontecendo". Você lê uma, duas, dez vezes e pensa: "Caramba, aconteceu mesmo". Tá louco, o negócio está complicado. Você fica com medo, triste, ansioso. Então, assim, estou muito ansioso para que haja investigação e para que realmente venha à tona o que realmente causou a morte dele. É uma tragédia. E muito mais ainda quando você tem uma nuvem de suspeitas no ar. Muito estranho mesmo. A gente fica ansioso para que haja investigação.

Em algum momento você acha que, no vídeo, passou do limite?

Não, acho que não. Fui lá e fiz uma pergunta. Perguntei. Foi só isso o que fiz.

Artigo, Tito Guarnieri - Chororô

Chega a ser divertido o chororô de comentaristas políticos identificados com o PT diante dos resultados da eleição municipal. Eles são muitos, e não há espaço para mencionar todos: tratarei de alguns mais conhecidos.

O notório Jânio de Freitas dá um salto triplo mortal carpado para afirmar que João Doria (PSDB), embora eleito em primeiro turno, na verdade alcançou apenas 32% dos votos – menos do que um terço do eleitorado. Como? Expurgou os votos nulos e brancos e as abstenções. Na contabilidade criativa de Freitas, portanto, Doria foi rejeitado por 68% dos eleitores paulistanos.

Pelo critério de Jânio –  ninguém escapa ileso de certos nomes – o Brasil simplesmente não teria governantes. Lula e Dilma,  para ficar só nesses dois, não teriam sido eleitos. Jânio poderia ser mais exato – quase disse mais honesto – se dissesse, por exemplo, que as abstenções, na esmagadora maioria dos casos, são de eleitores que mudaram de cidade, morreram ou completaram 70 anos. E há outro tanto deles que não comparecem às urnas porque têm para si – com razão – que votar não é um dever, mas um direito, que se exerce ou não: recado claro em favor do voto facultativo.

Ou seja, os votos nulos e brancos, e parte das abstenções, podem perfeitamente ser a expressão de uma vontade política legítima, tanto quanto votar na chapa inteira de um partido.

Além disso, o cômputo de votos brancos e nulos é da lei, e vale para todos. Mas JF, na sua maneira particular de investigar, parece se lembrar disso somente quando o vencedor não é do seu agrado.

Já Bernardo de Mello Franco, um colunista menos influente, porém aplicado e resoluto, sustentou que os perdedores da eleição foram Lula, Temer, Paes e Marina. Temer?  Se há alguém feliz com o resultado da eleição este é Michel Temer.  Quando parecia que o “fora Temer” ia pegar para valer, a derrota humilhante do PT botou água na fervura. O “fora Temer” é uma resposta (e um plágio vulgar) ao “fora Dilma” -  esta, uma campanha muito mais ruidosa e bem sucedida.

O ícone de esquerda, Vladimir Safatle, que leio sempre para saber de que ideias devo me afastar, abriu um artigo falando no “esgotamento do PT e do PSDB”.  Como? Esgotamento do PSDB? Você pode detestar os tucanos à vontade, mas é preciso torturar os fatos para negar que o PSDB foi um dos grandes vitoriosos da eleição de outubro. Bastaria contar a vitória em primeiro turno na maior cidade do país.

O jornalista Antônio Prata, apocalíptico, decretou o fim de São Paulo, com a eleição de Doria: “Era uma vez uma cidade”...

Todos são comentaristas da Folha de São Paulo. E ele mesmo, o jornalão, não deixou barato. Em editorial, lamentou que não tenha havido segundo turno na eleição paulistana: seria uma oportunidade para a cidade discutir melhor os seus problemas e o seu futuro. Mas essa é a velha e boa Folha. Com alguma frequência o jornal se toma de uma posição altaneira e olha à sua volta com ar superior.  No caso, a falha foi do eleitor paulistano, que não soube entender o que seria bom para si. E o que é bom para o povo de São Paulo? Bem, isso só a Folha sabe.


titoguarniere@terra.com.br



Artigo, Marcelo Aiquel - Será um delírio do Tarso Genro ?

         Meus amigos. Recebi este texto ao final transcrito e custo a acreditar que seja realmente de autoria do doutor Tarso Genro.
         Ele, que além de ex-governador (do RS); ex-prefeito (de Porto Alegre); e ex-ministro de Estado (da Justiça; Educação; e Relações Institucionais), com certeza deve ter cursado um ou mais cursos de doutorado, pós-graduação, e mestrado, em razão da eloquência e conhecimento como aborda os mais variados temas nacionais, surge agora na figura de defensor da justiça, das leis, e do ex-presidente Lula da Silva, o “dono e chefe” do partido que o articulista pede a refundação imediata.
         E, também tenho severas dúvidas quanto à autoria do artigo (afinal, a internet aceita tudo), pois um doutor em direito da qualificação do Tarso Genro não cometeria a imprudência de criticar tão duramente um processo legal. Mesmo que este doutor tenha – num passado recente – pisoteado a Constituição para dar abrigo a um criminoso italiano, hoje hóspede da nação brasileira e gozando de regalias que os assassinos locais não obtiveram ainda, apesar das inúmeras tentativas dos comunistas travestidos de defensores dos direitos humanos.
         Igualmente, um doutor jamais trataria a um ex-dirigente da República como presidente, eis que sabidamente o sistema legal não admite a pluralidade de membros num mesmo cargo. E como temos um presidente no exercício legal (chancelado pelo próprio STF), qualquer ilação contrária seria uma ofensa ao judiciário, coisa que não creio possa ser declarada publicamente por alguém com o notável currículo do suposto autor do texto abaixo colado.
         Se bem que há algumas passagens do referido texto que apontam para o vocabulário usual do doutor Tarso Genro. Por exemplo: classes dominantes e escravocratas; presidenta (quando faz referência a Dilma Rousseff); estilo fascista de disputa política; centro programático e ideológico; pacto democrático e pluralista...
         Assim mesmo, eu hesito em reconhecer a autoria do texto, apenas me permitindo acrescentar ao seu final uma contestação em tom de questionamento:
         “quando o autor interpreta que os referenciais democráticos citados abalam os ideais da Carta de 88 e de uma nação compartilhada (seja lá o que signifique tal assertiva), pergunto se deveríamos substituir as pessoas nominadas por Luis Inácio Lula da Silva, Rosemary Póvoa de Noronha, Delcídio do Amaral, Paulo Okamotto, Delúbio Soares, Silvinho Pereira, entre outros notáveis representantes do PT?”

            Quem sabe se com tais nomes haveria a peremptória certeza da manutenção plena da democracia sonhada pelo autor, no Brasil...

Flávio Dutra - Plínio

PLINIO.

Confesso, sinceramente arrependido, que logo que o conheci não simpatizei com o Plinio Zalewski. Mas a convivência nos tornou amigos e, mais do que isso, fiquei fã dele, invejoso dos textos bem construídos, da argumentação consistente, das ideias que desafiavam o senso comum, enfim, da erudição que o diferenciava dos jaguanés da escrita, como eu. Sempre que podia pilhava ele e acho que ele gostava da minha tietagem. Nos últimos meses, em função da campanha política, nossas relações se estreitaram e a cada encontro eu me aproveitava, sem que ele se desse conta, e me encharcava das suas teses, dos seus posicionamentos e das suas sugestões, sempre expressas com a mansidão dos que não precisam berrar para se impor. Era incisivo só nos seus artigos. Mas eu falhei miseravelmente com o Plínio. Falhei quando não valorizei o artista sensível que ele, na verdade, era. E falhei mais ainda quando não percebi a intensidade da angustia que o consumia nas últimas semanas e nada fiz para impedir que ele se fosse de forma tão trágica. Nem a mais importante das campanhas políticas vale a vida de um companheiro.