O blog O Antagonista publicou hoje um longo texto do procurador Delton Dallagnbol, chefe dos procuradores federais da Lava Jato, no qual fala sobre a escolha do novo ministro do STF, introduzindo dados importantes sobre a decisão que será tomada por Michel Temer.
Vale a pena ler:
“Mesmo com a redistribuição da Lava Jato no STF para o
Ministro Edson Fachin, a escolha do novo Ministro terá forte impacto na Lava
Jato e nas demais investigações sobre corrupção. Isso especialmente em razão da
orientação do tribunal sobre a execução provisória da pena. Ano passado, o
tribunal entendeu que ela é possível, por 6 votos contra 5. O Ministro Teori
estava dentre os vencedores. O novo Ministro pode inverter o placar. Por que e
como isso afeta a Lava Jato?
O Brasil é virtualmente o único país em que um processo
criminal passa por 4 instâncias, sem falar dos infindáveis recursos – só no
caso de Luís Estevão, foram mais de 80 recursos, sem contar as dezenas de
habeas corpus. Isso faz com que o fim do processo contra um colarinho branco
demore mais de uma década ou até duas. A simples demora faz com que a pena
deixe de dissuadir novos potenciais corruptos. Contudo, esse quadro é bem mais
grave, porque o caso se torna um provável candidato à impunidade. De fato, a
demora enseja a prescrição, uma espécie de cancelamento do processo pelo
decurso do tempo. A ideia de que os casos de corrupção em geral acabam em
pizza, presente no imaginário popular, está correta – basta uma análise dos
escândalos pretéritos.
E onde entra a execução provisória nisso? Bom, a
orientação do tribunal nesse tema decide se o envio do réu à prisão deve
aguardar todos os recursos nas quatro instâncias, ou pode ser feita após o
tribunal de apelação confirmar a condenação. Ou seja, o que está em questão é
se o réu vai para a cadeia após ser julgado pela segunda instância ou pela
quarta. No mundo, os réus são presos após o julgamento na primeira ou segunda
instância. O entendimento do STF nesse tema é vital para a efetividade do
direito e processo penais. Se prevalecer a possibilidade da execução
provisória, isso significa que réus de colarinho branco serão presos após cerca
de 4 a 6 anos do início do processo, e não depois de década(s). Se o réu
estiver preso, o processo pode ser mais rápido e demorar apenas cerca de 2 anos
até ser julgado pela segunda instância. A você pode parecer muito tempo ainda,
mas, acredite, é uma imensa evolução quando se toma em conta como hoje as
coisas funcionam.
E o que isso tem a ver com a Lava Jato? Se a perspectiva é
de impunidade, o réu não tem interesse na colaboração premiada. Por que vai
entregar crimes, devolver valores e se submeter a uma pena se pode escapar da
Justiça? Por outro lado, quanto mais efetivo o direito e o processo penal, mais
interessante fica a alternativa de defesa por meio da colaboração premiada. A
colaboração é um instrumento permite a expansão das investigações e tem sido o
motor propulsor da Lava Jato. O criminoso investigado por um crime “A” entrega
os crimes B, C, D, E – um alfabeto inteiro – porque o benefício é proporcional
ao valor da colaboração. Importante ressalvarmos que ela é um ponto de partida,
jamais um ponto de chegada, da investigação, e que acordos objetivam trocar um
peixinho por um peixão ou um peixe por um cardume.
Em resumo, a execução provisória é o que pode garantir um
mínimo de efetividade da Justiça Penal contra corruptos, levando-os à prisão
dentro de um prazo mais razoável, e é importante para que a Lava Jato continue
a se expandir, chegando a todo o espectro da corrupção. Assim, a escolha do
novo Ministro, a depender de sua posição nesse tema, continua a ter um imenso
impacto na Lava Jato, ainda que ele não se torne relator da operação.”
ESTÁ DIFÍCIL ACOMPANHAR
Nenhum comentário:
Postar um comentário