Quando o comando apoia a greve
A chefia de uma organização militar tem outras
prioridades. Uma delas é garantir segurança à população. E o Espírito Santo tem
hoje de tudo, menos policiamento nas ruas
Por: Humberto Trezzi
Acabo de ver um vídeo. Nele, um policial militar fardado
saúda como "legítimo e necessário" o movimento que deixou de joelhos
a segurança pública no Espírito Santo. Ele ressalta que os PMs estão há três
anos sem aumento, que cabos e soldados passam necessidades e chama de
"guerreiras" dignas de aplauso as mulheres dos policiais, que
bloqueiam os quartéis e impedem o patrulhamento das ruas. Seria natural ouvir isso de um grevista. Só que o homem
que justificou a greve é o tenente-coronel Alexandre Quintino, comandante da PM
no sul do Espírito Santo, sediado em Cachoeiro do Itapemirim, uma das mais
importantes cidades capixabas. Aquela que ficou famosa como berço do cantor
Roberto Carlos.
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de Segurança de Vitória sobre crise no Espírito Santo
Quando um integrante do alto escalão da Polícia Militar
justifica a greve e aplaude os que trancam quartéis é possível ter uma ideia da
dimensão que o movimento paredista alcançou. Ao invés de ordenar a prisão dos
subordinados que se recusam a trabalhar, ele apoia a paralisação. Pelo menos,
no discurso...
O repórter que aqui escreve até pode entender as razões
da paralisação dos PMs. Lá, como aqui, soam justas. Mas o comando de uma
organização militar tem outras prioridades. Uma delas é garantir segurança à
população. E o Espírito Santo tem hoje de tudo, menos policiamento nas ruas. O
crime campeia solto desde o início da greve.
A grande diferença em relação ao Espírito Santo é que,
mesmo em situação até mais grave que a dos capixabas, a Brigada Militar não
cruzou os braços durante protestos salariais (e isso que havia atraso de
salário).
Familiares dos policiais até bloquearam portas de
quartéis, mas os comandantes retiraram os PMs por saídas laterais e impediram
que a greve se alastrasse. Os batalhões de Operações Especiais e as patrulhas
especiais dos demais batalhões não aderiram à paralisação. Com isso, a
segurança ficou garantida.
Não é a toa que o comando da PM capixaba acaba de ser
trocado. Diálogo com os policiais é necessário. Tolerar balbúrdia e saques,
assistindo os bandidos assaltarem nas ruas, já é demais.
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