Entrevista, Felipe Muller - O lado “B” - O início de Dilma Rousseff. E reflexões de quem esteve lá.

- Felipe Eduardo Müller é Cientista Social, RS.

Ao ver na estante de uma livraria o livro “O Lado B dos Candidatos” ao posto da Presidência da República no pleito de 2014 em promoção, brilhou-me os olhos. Não pensei duas vezes antes de levar ao caixa e comprá-lo. Mesmo sendo uma obra que pretende mostrar fato dos bastidores políticos, administrativos e da vida dos três principais postulantes naquele momento: Dilma Rousseff – à reeleição –, Aécio Neves – objetivado a grudar no legado de seu avô, Tancredo Neves –, e Marina Silva – candidata com boa votação na eleição presidencial de 2010, pois tinha pouquíssima estrutura partidária pelo PV, que substituiu o candidato do PSB, Eduardo Campos, depois de sua trágica morte durante plena corrida eleitoral. Assim, uma obra defasada, porque era um recorte momentâneo anterior que visou outubro de 2014, mas tem muito o que dizer do passado dessas figuras públicas e nos leva a entender o que se sucedeu após três anos. A Sra. Rousseff foi cassada, Aécio afastado do Senado temporariamente e Marina é uma incógnita nos dias atuais. Li com grande gosto e me surpreendi, achei que sabia mais, mas não desmiuçado e com maiores detalhes do passado, suas figuras pardas, e o caminho percorrido por estes atores políticos.
Porém, certeiramente, não é discutir a obra de Chico de Gois e Simone Iglesias a minha finalidade. Mas sim, a passagem que narra a trajetória de Rousseff como secretária da fazenda da prefeitura de Porto Alegre na gestão de Alceu Collares (PDT), quando me deparei com o nome do jornalista Políbio Braga. Ali narra que ele a substituiu em setembro de 1988 na Secretaria da Fazenda, faltando apenas três meses para o fim do mandato, oriundo da Secretária de Indústria e Comércio, quando a Sra. Rousseff estava sob pressão de 20 mil servidores que batalhavam por reajustes, as fianças estavam deterioradas, segundo o livro, pelos gastos sem controles da companheira e posterior esposa de Collares, Neusa Canabarro, que comandava a Secretaria da Educação sem freios. (pg. 19 e 20. Editora Leya 2014)
Então, deu-me um “insight” ou como muitos diriam, um “click”. Como obtive facilmente o contato pessoal de Políbio, logo lhe telefonei e pedi uma entrevista que foi aceita instantaneamente. Isso é que no livro relata as dificuldades da personalidade da Sra. Rousseff, a ineficiência administrativa, desorganização, centralização de poder, problemas de trabalho em equipe, entre outras qualidades pejorativas, após ter sido Presidente da República cassada e deixado um legado de crise que ainda enfrentamos. Dessa forma, decidi perguntar ao ex-secretário da fazenda de Porto Alegre, por apenas três meses, a verdade o que ele viu e o que ele herdou após a experiência Dilma, que ocupou o posto por anos.
Assim lhe dirijo algumas perguntas que trarão história e claridade de informações no tocante à figura controversa da ex-presidente no início de sua trajetória política aqui no Rio Grande do Sul.


Senhor Políbio Braga, quando era secretário de Collares na prefeitura de Porto Alegre na pasta de Indústria e Comércio, como você e os demais secretários enxergavam Dilma além de ser dirigente do PDT e esposa do finado ex-deputado estadual, Carlos Araújo?
- O relacionamento com ela sempre foi muito satisfatório. Eu pertencia a uma corrente contrária à dela. Dilma era liderada por Carlos Araújo, uma corrente neo-marxista, comunista, do PDT, e eu era social-democrata, alinhado com esta corrente. Apesar disto, dentro do governo tínhamos boas relações.
Você responsabiliza, igualmente ao livro citado, grande parte da culpa pela deterioração financeira da gestão à Sra. Neusa ou, quando assumiu a Secretaria da Fazenda, percebeu habilidade ou inabilidade administrativa da Sra. Rousseff para o assunto?
- Na verdade, o rombo das finanças públicas praticado e deixado por Dilma, que saiu três meses antes de concluído o governo, em 1988, foi resultado mais da gestão desastrosa do prefeito Collares. O erro de Dilma foi não ter resistido ao prefeito ou ido embora. Quando a coisa ficou insustentável, ela pegou o boné e foi embora, pretextando ter que coordenar a campanha do marido à prefeitura de Porto Aleagre.
Quando ela foi ministra e candidata para a sucessão do ex-presidente Lula, você concordou com a fama de “gerentona” e gestora? Caso positivo, o que viu de extraordinário. Se não, por qual experiência empírica que teve ao sucedê-la na Secretaria da Fazenda?
- Nunca concordei. Veja o link com depoimento que prestei durante a campanha de Serra, adversário de Dilma na primeira eleição - (https://www.youtube.com/watch?v=gNL58hd63pI ).
Pelo contato que teve com Dilma, ela prima pelo Estado Democrático de Direto capitalista idem vivenciamos, ou os boatos que ela construía um modelo socialista/autoritário para o Brasil são verdadeiros?
- Ela nunca fez autocrítica da sua condição de comunista, portanto nunca teve apreço pelo estado democrático de direito, que violou o quanto pode quando foi ministra e presidente. Capitalismo, para ela, é palavrão. Ela tentou levar o País para o comunismo, mas ela e seus companheiros nunca acumularam força política para fazer isto.
Vocês, equipe de Collares na prefeitura de Porto Alegre, achavam que um dia ela poderia ser candidata a um cargo executivo dos três entes federativos e eleita presidente do Brasil?
- Nunca imaginamos isto, mas também nunca imaginamos que isto não poderia acontecer. Na época, achávamos que ela era boa gestora, boa pessoa e bem intencionada politicamente, dentro do PDT, sob a liderança de Brizola.
Finalizando, para o senhor no seu ponto de vista, qual foi a maior causa na personalidade (emocionais/psicológicas) de Dilma que a levou ao impedimento de presidente do Brasil no seu segundo mandato?
- Ela sempre trabalhou sob a liderança e o comando político de alguém mais preparado ou mais audacioso: Lamarca na VPR; Araújo na VAR e depois no PDT e nos governos Collares: Olívio, no governo estadual; Lula, como ministra. Quando ficou parcialmente sozinha, sem alguém acima dela, demonstrou que não tinha liderança e capacidade próprias de líder político e gestora pública de primeira grandeza, líder da Nação, cometendo os desastres políticos e administrativos que cometeu e que a levaram ao expurgo.

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