Ao ver na estante de uma livraria o livro “O Lado B dos
Candidatos” ao posto da Presidência da República no pleito de 2014 em promoção,
brilhou-me os olhos. Não pensei duas vezes antes de levar ao caixa e comprá-lo.
Mesmo sendo uma obra que pretende mostrar fato dos bastidores políticos,
administrativos e da vida dos três principais postulantes naquele momento:
Dilma Rousseff – à reeleição –, Aécio Neves – objetivado a grudar no legado de
seu avô, Tancredo Neves –, e Marina Silva – candidata com boa votação na
eleição presidencial de 2010, pois tinha pouquíssima estrutura partidária pelo
PV, que substituiu o candidato do PSB, Eduardo Campos, depois de sua trágica
morte durante plena corrida eleitoral. Assim, uma obra defasada, porque era um
recorte momentâneo anterior que visou outubro de 2014, mas tem muito o que
dizer do passado dessas figuras públicas e nos leva a entender o que se sucedeu
após três anos. A Sra. Rousseff foi cassada, Aécio afastado do Senado
temporariamente e Marina é uma incógnita nos dias atuais. Li com grande gosto e
me surpreendi, achei que sabia mais, mas não desmiuçado e com maiores detalhes
do passado, suas figuras pardas, e o caminho percorrido por estes atores
políticos.
Porém, certeiramente, não é discutir a obra de Chico de
Gois e Simone Iglesias a minha finalidade. Mas sim, a passagem que narra a
trajetória de Rousseff como secretária da fazenda da prefeitura de Porto Alegre
na gestão de Alceu Collares (PDT), quando me deparei com o nome do jornalista
Políbio Braga. Ali narra que ele a substituiu em setembro de 1988 na Secretaria
da Fazenda, faltando apenas três meses para o fim do mandato, oriundo da
Secretária de Indústria e Comércio, quando a Sra. Rousseff estava sob pressão
de 20 mil servidores que batalhavam por reajustes, as fianças estavam
deterioradas, segundo o livro, pelos gastos sem controles da companheira e
posterior esposa de Collares, Neusa Canabarro, que comandava a Secretaria da
Educação sem freios. (pg. 19 e 20. Editora Leya 2014)
Então, deu-me um “insight” ou como muitos diriam, um
“click”. Como obtive facilmente o contato pessoal de Políbio, logo lhe
telefonei e pedi uma entrevista que foi aceita instantaneamente. Isso é que no
livro relata as dificuldades da personalidade da Sra. Rousseff, a ineficiência
administrativa, desorganização, centralização de poder, problemas de trabalho
em equipe, entre outras qualidades pejorativas, após ter sido Presidente da
República cassada e deixado um legado de crise que ainda enfrentamos. Dessa
forma, decidi perguntar ao ex-secretário da fazenda de Porto Alegre, por apenas
três meses, a verdade o que ele viu e o que ele herdou após a experiência
Dilma, que ocupou o posto por anos.
Assim lhe dirijo algumas perguntas que trarão história e
claridade de informações no tocante à figura controversa da ex-presidente no
início de sua trajetória política aqui no Rio Grande do Sul.
Senhor Políbio Braga, quando era secretário de Collares
na prefeitura de Porto Alegre na pasta de Indústria e Comércio, como você e os
demais secretários enxergavam Dilma além de ser dirigente do PDT e esposa do
finado ex-deputado estadual, Carlos Araújo?
- O relacionamento com ela sempre foi muito satisfatório.
Eu pertencia a uma corrente contrária à dela. Dilma era liderada por Carlos
Araújo, uma corrente neo-marxista, comunista, do PDT, e eu era
social-democrata, alinhado com esta corrente. Apesar disto, dentro do governo
tínhamos boas relações.
Você responsabiliza, igualmente ao livro citado, grande
parte da culpa pela deterioração financeira da gestão à Sra. Neusa ou, quando
assumiu a Secretaria da Fazenda, percebeu habilidade ou inabilidade
administrativa da Sra. Rousseff para o assunto?
- Na verdade, o rombo das finanças públicas praticado e
deixado por Dilma, que saiu três meses antes de concluído o governo, em 1988,
foi resultado mais da gestão desastrosa do prefeito Collares. O erro de Dilma
foi não ter resistido ao prefeito ou ido embora. Quando a coisa ficou
insustentável, ela pegou o boné e foi embora, pretextando ter que coordenar a
campanha do marido à prefeitura de Porto Aleagre.
Quando ela foi ministra e candidata para a sucessão do
ex-presidente Lula, você concordou com a fama de “gerentona” e gestora? Caso
positivo, o que viu de extraordinário. Se não, por qual experiência empírica
que teve ao sucedê-la na Secretaria da Fazenda?
- Nunca concordei. Veja o link com depoimento que prestei
durante a campanha de Serra, adversário de Dilma na primeira eleição -
(https://www.youtube.com/watch?v=gNL58hd63pI ).
Pelo contato que teve com Dilma, ela prima pelo Estado
Democrático de Direto capitalista idem vivenciamos, ou os boatos que ela
construía um modelo socialista/autoritário para o Brasil são verdadeiros?
- Ela nunca fez autocrítica da sua condição de comunista,
portanto nunca teve apreço pelo estado democrático de direito, que violou o
quanto pode quando foi ministra e presidente. Capitalismo, para ela, é
palavrão. Ela tentou levar o País para o comunismo, mas ela e seus companheiros
nunca acumularam força política para fazer isto.
Vocês, equipe de Collares na prefeitura de Porto Alegre,
achavam que um dia ela poderia ser candidata a um cargo executivo dos três
entes federativos e eleita presidente do Brasil?
- Nunca imaginamos isto, mas também nunca imaginamos que
isto não poderia acontecer. Na época, achávamos que ela era boa gestora, boa
pessoa e bem intencionada politicamente, dentro do PDT, sob a liderança de
Brizola.
Finalizando, para o senhor no seu ponto de vista, qual
foi a maior causa na personalidade (emocionais/psicológicas) de Dilma que a
levou ao impedimento de presidente do Brasil no seu segundo mandato?
- Ela sempre trabalhou sob a liderança e o comando
político de alguém mais preparado ou mais audacioso: Lamarca na VPR; Araújo na
VAR e depois no PDT e nos governos Collares: Olívio, no governo estadual; Lula,
como ministra. Quando ficou parcialmente sozinha, sem alguém acima dela,
demonstrou que não tinha liderança e capacidade próprias de líder político e
gestora pública de primeira grandeza, líder da Nação, cometendo os desastres
políticos e administrativos que cometeu e que a levaram ao expurgo.
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