No fim da procissão dos pecadores, o chefe incorpora o
Bom Ladrão e perdoa os inimigos pelo que ele próprio fez
Por Augusto Nunes
Concebida para financiar a etapa mineira da caravana dos
pecadores sem remédio, a vaquinha em louvor de Lula foi um portentoso fiasco:
arrecadar pouco mais que 36 mil reais. É uma quantia
bisonha para quem há três anos embolsava meio milhão pelo que chamava de
“palestra”, codinome da discurseira que, durante uma hora, louvava o
palestrante por ter acabado com a pobreza que continua por aí.
Se a Lava Jato secou as cataratas de donativos
multimilionários alimentadas por empresários amigos, se nem os devotos
irredutíveis da seita da missa negra conseguem bancar uma procissão tão
mequetrefe, onde o corrupto condenado
arranjará verbas necessárias para a manutenção do Instituto Lula e dos
apartamentos que ganhou de presente?
Confrontado com as sombras do futuro, é compreensível que
o palanque ambulante saia zanzando pelo Brasil ao som da lira do delírio. Neste
fim de semana, por exemplo, o ex-presidente que já incorporou Juscelino
Kubitschek, Getúlio Vargas, Abraham Lincoln, Nelson Mandela, Tiradentes e Jesus
Cristo apresentou-se em Belo Horizonte como uma reencarnação piorada do Bom
Ladrão.
Num único palavrório, o orador perdoou o atual governo
pelos estragos feitos por Lula e Dilma, cobrou provas da existência do Petrolão
que chefiou, prometeu enquadrar a imprensa para restaurar a democracia já
restaurada e garantiu que tanto ele quanto Marisa Letícia não nasceram para
roubar. Dispensou-se de explicar se foi no dia do casamento ou na festa de
posse no Planalto que decidiram atirar ao lixo a virtuosa marca de nascença.
Se o dinheiro continuar sumido, se os surtos retóricos
continuarem flutuando na estratosfera, Lula ainda vai declarar-se muito
agradecido a Sérgio Moro por ter decidido hospedá-lo de graça em Curitiba. O
homem anda precisando de descanso.
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