Testemunho de Marcelo Odebrecht ao TSE ajuda a acabar com
a ideia de que a ex-presidente nunca soube dos subterrâneos do financiamento de
sua campanha pela empreiteira
Nos testemunhos negociados pelo ainda senador Delcídio do
Amaral com a Lava-Jato, a presidente Dilma já sofreu sérias avarias. Ela, que
sempre procurou se manter distante dos subterrâneos de suas campanhas, em 2010
e 2014, e dos bastidores das falcatruas, depois comprovadas, na Petrobras, cujo
Conselho Administrativo presidia. Pois Delcídio denunciou proposta de Dilma de
nomear ministro do STJ em troca da concessão de habeas corpus a empreiteiros
presos pela Lava-Jato.
Houve, ainda, testemunhos do ex-diretor Internacional da
estatal, Nestor Cerveró, também à Lava-Jato, sobre responsabilidades reais de
Dilma, como presidente do conselho, na compra desastrosa, e suspeita, da
refinaria de Pasadena.
Depois, viria o grampo divulgado por Moro, em que Dilma
negocia com Lula blindá-lo contra a Lava-Jato, com a nomeação dele para
ministro da Casa Civil. Clara manobra de obstrução da Justiça. Dos dois.
A própria imagem de gerentona já havia sido danificada
pela grande barbeiragem na intervenção no setor elétrico, para reduzir as
tarifas em 20% e isso servir de peça de palanque em 2014. Esqueletos
bilionários sobraram para o Tesouro e a população, que paga pelo erro na conta
de luz de cada mês. Os efeitos deletérios da gestão de má-fé na Petrobras e o
congelamento eleitoreiro dos combustíveis são também creditados a ela.
E agora vem o depoimento demolidor de Marcelo Odebrecht
ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no processo que julga as finanças da
chapa Dilma-Temer em 2014. Marcelo, pelo que vazou do testemunho, sem
desmentidos, disse nunca ter falado diretamente sobre contribuições por caixa 2
com a presidente, até por uma questão de liturgia. Mas que Dilma tinha
conhecimento do que se passava. Por exemplo, dos recursos transferidos no
exterior, de forma ilegal, para pagar o marqueteiro João Santana, por serviços
prestados na campanha.
Na de 2010, em que ela, segundo Marcelo Odebrecht, não
tratou de finanças, foi informada sobre o dinheiro por fora da empreiteira pelo
“nosso amigo” — Lula.
O empreiteiro depôs, também, acerca dos contatos,
primeiro com Antonio Palocci, para tratar de dinheiro, e, depois que este saiu
da Casa Civil, no primeiro governo Dilma, com Guido Mantega, da Fazenda.
Mantega transmitia a Marcelo orientações de Dilma.
E em pelo menos dois casos há sérias evidências de
corrupção: transferências financeiras em troca de uma medida provisória de
interesse do braço petroquímico da Odebrecht, a Basken; e, com a participação
de Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, desembolsos, anteriores à eleição
de 2010, para que fosse criada uma linha de crédito para a empreiteira.
Fatos como estes começam a aparecer no momento em que
Dilma se mostra mais ativa, certamente voltada a 2018. Não é uma boa
coincidência para ela. Falta, também, a liberação das delações de 78 executivos
da empreiteira, encaminhadas ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no
Supremo. Devem trazer mais dissabores para a ex-presidente e outros
companheiros.