CRACOLÂNDIAS – CHEGA DE HIPOCRISIA
Recebi
de um amigo médico (e ótimo profissional) o relato abaixo, que merece ser lido:
“Há algum tempo, atendi uma paciente que foi resgatada à
força pela família, da Cracolândia em SP. Estava pesando 34 kg, tendo 1m e 67
cm de altura. Estava com sífilis, AIDS e foi a tuberculose mais extensa que vi
na vida. Pra se ter ideia, nem em foto de livro vi nada igual. Contou-me que
vivia há 2 anos lá. Fazia sexo com até 20 desconhecidos por noite ao preço de 5
reais, para consumir tudo no mesmo dia, fumando pedra. Perdeu família, emprego,
dignidade e a razão.
A pessoa que abre mão de uma vida, pra se tornar um
escombro, um farrapo humano, uma fruta podre pisoteada na sarjeta, está doente
e essa realidade em que vive, não é uma escolha ou uma "forma de
protesto".
Quem é contra a internação compulsória dessas pessoas,
certamente nunca teve um familiar nessa situação e nunca viu a Cracolândia de
perto. A internação compulsória é, antes de qualquer coisa, um ato de caridade,
de amor ao ser humano, que nada tem de ser e nem de humano. É tentar
resgatar o último sopro de vida embalado em carne podre, lixo e violência.
Inacreditavelmente tenho visto até quem defenda a
existência da Cracolândia. Os que defendem a existência das Cracolândias da
vida são os maus e desonestos, que enxergam o ganho político no sistema
demagógico e os imbecis das claques de esquerda que apenas repetem a mesma
bobagem de sempre.
Por favor, mais amor e menos demagogia.”
Escrito por Adriana Lisboa, médica em Santa Catarina
E
usarei o triste e duro depoimento/desabafo desta médica catarinense para
embasar o meu artigo de hoje, que é quase um grito contra a hipocrisia daqueles
que se utilizam dos pobres doentes e drogados para ganharem mais espaço numa
mídia desleal, desonesta, parcial e MUITO tendenciosa.
Posso
elencar, entre “aqueles hipócritas de plantão”, além dos canalhas políticos que
buscam os holofotes a qualquer custo, a nossa principal emissora de TV, a Vênus
Platinada, como é conhecida a Globo.
E
começo com a hipocrisia grosseira da emissora, que – de repente – resolveu
comover a opinião pública noticiando fartamente em todos os seus jornais e
dando ênfase a este sério problema social.
Que
não é novo! Aliás, a própria Globo já o retratou – até com requintes de um
realismo impressionante – na sua minissérie Verdades Secretas, onde uma modelo
linda (interpretada pela atriz Grazi Mazzafera) sucumbe ao crack e se torna
moradora da Cracolândia de São Paulo.
Só
que, depois disso, ao invés de aproveitar a oportunidade para comandar uma
grande campanha nacional contra estes redutos do mal, a Rede Globo não utilizou
sua ampla audiência para tentar – ao menos – atacar e combater o gravíssimo
caos que vem se espalhando velozmente em todos os recantos do país.
Mas,
ao contrário, a dona da preferência de 80% dos telespectadores do Brasil nunca
mais moveu um dedo para buscar erradicar (ou ao menos diminuir) este verdadeiro
sumidouro humano a céu aberto. Quando muito, gastou alguns parcos minutos do
seu telejornalismo apenas para noticiar embates entre a polícia e os pobres
moribundos drogados.
Já a
classe política que – hoje – demonstra repentina preocupação com a Cracolândia
paulista, é ainda mais hipócrita e sem vergonha. Em primeiro lugar porque o
“problema” já é antigo. Não surgiu de uma hora para outra. E existe em 10 de 10
cidades do país!
Porém,
bastou que o prefeito de São Paulo, João Dória, resolvesse tomar medidas
concretas para tentar resolver o caos (coordenando o recolhimento compulsório
dos drogados para tratamento), a fim de que aparecessem dezenas de oportunistas
“se dizendo” donos de soluções mágicas. Soluções que até então nunca vieram ao
conhecimento público.
A
Dra. Adriana Lisboa (autora do texto/desabafo transcrito acima) teve a coragem
de apontar na direção destes hipócritas.
Que
insistem em buscar votos – ou audiência, no caso da Globo – pisoteando sobre a desgraça destes farrapos
humanos, doentes e tão dependentes de uma ajuda competente e séria.
Querem
mesmo ajudar?
Roubem
menos e façam mais.
E,
ao menos, não sejam tão hipócritas!