Di Pietro

O UOL entrevistou o ex-promotor italiano Antonio Di Pietro, que virou herói na Itália dos anos 90 por ter colocado atrás das grades políticos e empresários ao conduzir a operação Mani Pulite ("Mãos Limpas"), inspiradora da Lava Jato.

O blog O Antagonista, comenta neste sábado que le deu uma aula ao portal, ao responder uma pergunta que toma a narrativa petista como se fosse a palavra dos "críticos" à sentença de Moro.
Leiam, por favor:

- A opção pela condenação foi polêmica, pois críticos dizem que não há evidências de crimes cometidos por Lula. O sr. acredita que isso poderia diminuir o papel da Justiça no Brasil? Ou poderia ter o efeito oposto?
Se Lula foi condenado, isso significa que o Judiciário concluiu que havia provas suficientes de que ele é culpado. Como sabemos, existe sempre a possibilidade de que ele apele da decisão.
O que é inaceitável, contudo, é a tentativa – que está acontecendo agora no Brasil e que aconteceu durante a operação Mãos Limpas na Itália – de inverter posições.
Existe uma tentativa deliberada de fazer a opinião pública acreditar que a culpa pelo que aconteceu não é de quem usou sua função pública para conseguir benefícios pessoais ilegalmente, mas de quem descobriu as ilegalidades cometidas.
Seria como dizer que, se o médico descobre que o paciente tem câncer, ele é culpado, enquanto a culpa deveria recair sobre o tumor que afeta a saúde do paciente – neste caso, o paciente é o país e seus cidadãos.

A atuação dos magistrados contra figuras políticas não tem fins políticos, como muitas vezes os políticos envolvidos em investigações querem acreditar. Existe sempre um critério técnico por trás de qualquer condenação. Cabe ao juiz julgar com imparcialidade, independentemente de quem seja o autor do crime. Não é sua culpa se o crime for cometido por um sem teto ou o presidente da República.

Artigo, Francisco Ferraz -A condenação de Lula

             A CONDENAÇÃO DE LULA

                Nada de surpreendente na condenação de Lula.
                As primeiras reações indicam que se tratava de um fato esperado.
                O juiz Sérgio Moro fez questão de proceder como é habitual em decisões judiciais: tornou público os termos da decisão e desapareceu do cenário. Lula, diz-se, que reagiu com serenidade. A mídia repercutiu sem sensacionalismo. Líderes do PT se pronunciaram reiterando as explicações que vinham oferecendo: que foi uma decisão parcial do juiz Sérgio Moro, que condenou Lula sem provas e, que deverá ser reformada pelo Tribunal da 4ª. Região.
                Reações moderadas, repercussão previsível, explicações conhecidas.
                Ao que tudo indica, a pauta política deve voltar a se ocupar das dificuldades do governo Temer, das votações sobre admissibilidade para processar o presidente e sobre a Previdência Social.
                Não creio, entretanto, que este estado de espírito de moderação e de expectativa para o próximo “round” da batalha judicial no Tribunal, vá se manter. Tudo leva a crer que todas as partes envolvidas: Lula, PT, CUT e a esquerda em geral esperavam e contavam com este desfecho para desencadear a próxima fase: a campanha presidencial de 2018.
                Se a decisão judicial de condenação em primeira instância era uma decisão contra um ex-presidente, a decisão judicial de segunda instância (Tribunal) deverá ser tomada em relação a um possível próximo presidente.