Fernando Henrique Cardoso foi um combatente destacado e
corajoso contra o regime militar e autoritário. Teve papel relevante na
Constituinte e na transição para a democracia. Foi o presidente que botou o
Brasil nos trilhos, curando-o da chaga inflacionária, que causava danos
devastadores ao país e na vida das populações mais pobres. Presidiu um
ambicioso programa de privatizações de empresas estatais, porque teve a percepção
correta de que o Estado brasileiro, já naquela época, há mais de 20 anos, não
teria recursos para arcar com novos e pesados investimentos, nas áreas de
energia, mineração e telefonia, de modo a mantê-las no estado da arte da
revolução produtiva e tecnológica.
FHC, por igual, nos permitiu “descobrir” que as receitas
do Estado devem ser capazes de suprir as despesas, e que dinheiro público não
dá em árvore - essa lição tantas vezes ignorada pelos nossos governantes e
políticos, até hoje. Vide a reforma da previdência.
Certo: não devemos esquecer que ele patrocinou uma emenda
constitucional que permitiu a sua própria reeleição. Ali, ele foi mal. Mas o
saldo é positivo, amplamente positivo. Entregou a Lula um país em situação de
equilíbrio no plano volátil das finanças públicas, em países da América Latina.
Portou-se de forma elevada e republicana na eleição de 2002: não moveu um só
instrumento de poder, não destinou um centavo de verba, de modo a beneficiar o
seu candidato José Serra, derrotado por Lula.
Fez uma travessia elegante ao longo dos anos do PT no
poder. Jamais exagerou na crítica, nunca levantou a voz, e suportou
estoicamente os desaforos que lhe atiraram à cara os petistas e seus aliados,
durante 13 longos anos.
À exceção de Aécio Neves, na eleição de 2014, não mereceu
de Serra e Alckmin, candidatos do PSDB em 2002, 2006 e 2010, uma defesa firme
do seu legado e das suas realizações. Não ficou bem para eles, que ainda
tiveram que pagar o vexame de três derrotas eleitorais para Lula e para Dilma.
Mas nada disso justificava os recentes movimentos de FHC,
ciscando para lá e para cá, na eleição deste ano. Ele flertou abertamente com
uma solução “nova”, onde pontificava o apresentador de tevê Luciano Huck. FHC
foi presidente da República pelo PSDB, um dos fundadores e é ativo militante e
filiado do partido, que tem um mérito indiscutível: não há governante tucano
que se meta em aventuras populistas, que no governo gaste mais do que arrecada
e que não tenha por norma o equilíbrio das contas públicas.
No Brasil, isto é o que se pode chamar de um bom
currículo. Por que, então, ir atrás de um apresentador de televisão, que não
tem partido, nunca disputou uma eleição, que nada sabe de Brasília, de tantos
partidos e tantos interesses conflitantes? Novo? Novo era Collor, em 1989,
Dilma em 2010. E deu no que deu.
A desistência de Huck salvou FHC do mico, da tietagem
fora de hora. Agora, se não incorrer em novo falsete, o ex-presidente pode
ajudar Alckmin, o candidato coroado do PSDB, a viabilizar a candidatura.
Alckmin patina nas pesquisas, mas ainda é cedo. E é um nome de peso e
respeitável para ocupar a presidência da República.
titoguarniere@terra.com.br
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