André Luís Callegari: desrespeito à Justiça
Ninguém escolhe hora, lugar e como vai se entregar para cumprir
a pena a que foi condenado, afirma advogado criminalista e professor de Direito
Penal no IDP/Brasília
O bom exemplo deveria vir de uma pessoa que ocupou o mais
alto cargo da nação, porém, lamentavelmente,
o que se viu foi o estímulo ao desrespeito a um dos poderes da
República.
Após várias tentativas frustradas de elidir o início da
execução da pena a que foi condenado, o ex-presidente Lula debochou da Justiça,
como se estivesse acima do bem e do mal. Ultrapassado o prazo para se entregar,
não o fez. Se fosse qualquer cidadão, teria a sua casa invadida e seria preso
imediatamente. Não encontrei na lei onde há a prerrogativa de um ex-presidente
escolher hora e local para se entregar, ainda mais quando ultrapassado o que
lhe havia sido determinado.
Mas a festa e o deboche foram mais longe. O
ex-mandatário, ainda com a síndrome do poder, disse que só se entregaria após a
missa, o espetáculo, os discursos e o almoço com a família. Que maravilha! E o
país assiste inerte a esse espetáculo.
Num país em que já se viu de tudo, faltava essa cena para
manchar mais ainda a credibilidade das instituições.
Lula ignorou o juiz Sergio Moro, o TRF4, o STJ e o STF,
ou seja, todas as instâncias do Judiciário literalmente foram desrespeitadas,
porque em todas elas ele perdeu, mas nunca se curvou a nenhuma delas. Se não
estamos satisfeitos com as decisões, recorremos, mas não desobedecemos. Faltou
essa lição ao ex-presidente que agora se intitula mártir da justiça.
Este artigo não é contra o PT ou o ex-presidente, mas é
uma defesa de que o Direito e a lei valem para todos. Entristece-me saber que
esse fato mancha a história da Justiça, pois não tenho conhecimento de alguém
que desafiou o Judiciário dessa maneira. Ninguém escolhe hora, lugar e como vai
se entregar para cumprir a pena a que foi condenado. Mas, num país em que já se
viu de tudo, faltava essa cena para manchar mais ainda a credibilidade das
instituições.
Por fim, e voltando ao começo, foi justamente daquele de
quem se esperava o exemplo que ele não veio. O que vimos foi a pregação da
desobediência e dos discursos populistas, quiçá seja essa mensagem que devamos
passar a nossos filhos: quando há uma ordem com que não concordamos, o correto
é desobedecer mesmo. Bela lição de educação e civilidade nos deu o
ex-presidente. O país é suficientemente maduro para saber se é esse o modelo a
ser seguido. A lição foi certa ou errada? O caminho está dado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário