O fracasso da reforma da Previdência mostrou que
sindicatos, corporações do setor público, o PT e a velha esquerda ganharam a
batalha da opinião pública. “Povo na rua, governo recua”, comemorou a CUT nas
redes sociais. A ideia da proposta era salvar do desastre os regimes
previdenciários, tornados insustentáveis pelas inconsequências da Constituição
e pelo envelhecimento da população.
Sem a reforma, assistiremos ao colapso fiscal, à falência
de programas essenciais de saúde, educação, pesquisa científica e segurança
pública, e à alta da inflação. A maioria não se convenceu, todavia, dessa
ruína.
Verdades gritantes foram rejeitadas. Guardadas as devidas
proporções, a sandice chegou a lembrar o que aconteceu quando o pioneiro da
revolução científica, Galileu Galilei, fracassou em convencer a Igreja Católica
da procedência da teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, segundo a qual a
Terra girava em torno do Sol.
Na época, buscava-se a verdade na Bíblia, e não na
ciência. Como a Igreja dizia que o Sol girava em torno da Terra, a Inquisição
considerou herética a teoria de Copérnico. Seu livro e semelhantes foram
proibidos. Galileu negou sua descoberta para escapar da fogueira. Mais tarde, a
teoria triunfou.
Aqui, sob a influência de mentes tão obtusas como a dos
cardeais de Roma do século XVII, foram aceitas barbaridades sobre a reforma da
Previdência. Políticos e sindicalistas da Receita Federal emitiram documentos
negando o déficit. O rombo de 269 bilhões de reais, quase seis vezes o
investimento público federal em infraestrutura, foi visto como manipulação.
Mostrou-se o absurdo dos privilégios das aposentadorias
de servidores federais, a maior transferência de renda de pobres para ricos em
todo o mundo. Nos últimos vinte anos, o déficit desse regime superou em 50% os
gastos em educação. Falou-se, ao contrário, que a reforma era contra os pobres.
O Brasil é um dos raros países sem idade mínima de
aposentadoria, mas a proposta de fixá-la em 65 anos para homens e 62 para
mulheres foi comparada com a expectativa de vida ao nascer. Isso era falso, mas
muitos acreditaram que os brasileiros morreriam antes de aposentar-se. Na
verdade, vale a sobrevida pós-aposentadoria, que é superior a vinte anos,
semelhante à de países desenvolvidos. Não difere muito entre regiões do país.
Foi fácil, como se viu, amedrontar a população. Por isso,
será preciso, na renovação da proposta, vencer a batalha da opinião pública
antes de enfrentar a do Congresso.
O governo conseguiu persuadir parte da opinião pública de
que a proposta atinge uma casta de privilegiados do setor público, mas é
preciso desmoralizar as barbaridades ditas sobre a reforma. Há muitas formas de
fazer isso. Por exemplo, desenvolver uma estratégia de comunicação que envolva
os próprios autores das mentiras. Frente a frente, questionar suas teses e
evidenciar a improcedência das afirmações que propagam, por ignorância ou má-fé
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