A festa mal começou e o diabo já acendeu um charuto na
zona eleitoral brasileira. Na sala do seu estado-maior, em Curitiba, Lula da
Silva controla com maestria o processo político brasileiro comandando suas
tropas, simultaneamente, em várias frentes da exitosa campanha que conseguiu
promover no planeta dos cegos e surdos , mas surpreendentemente falantes e
fluentes na linguagem das ruas e das mídias sociais, alimentadas pelo
fundamentalismo ideológico de setores influentes da pretensa intelectualidade
nacional. Esperto, ainda não aprendeu que esperteza demais come o rabo do
esperto, e já deixou o suposto candidato Fernando Haddad fazendo papel de bobo
da corte e pendurado na brocha do PCdoB.
Aves estranhas pousaram nos galhos da floresta
judiciária, nos últimos tempos, e fazem de conta que não há nada de errado no
Reino da Dinamarca, nem mesmo o fato inusitado de que um líder submetido aos
ritos do devido processo legal, instituído pelo próprio sistema judiciário
brasileiro, dita, preso, a marcha das eleições nacionais, com propaganda
proibida intensa e desafiadora em todos os meios de comunicação. Quem não tem
competência não se abanca, e Lula está demonstrando, com a confusão
institucional estabelecida, que é o grande demiurgo da política profissional
brasileira: Saque da Petrobrás, lava jato, Telecom Portugal, tríplex, tudo isso
virou fumaça, em um passe de mágica, com o suposto apoio expresso que recebe ,
até no Judiciário, para sua nova recondução à presidência da República. Difícil
de explicar aqui dentro e lá fora, onde persistem fortes imagens da
desigualdade social, violência, corrupção, e desconfianças consolidadas sobre a
seriedade institucional brasileira. O ex-chanceler de Lula, filiado ao PT,
equipara o judiciário ao Talibã, mesmo sabendo que a opinião de dois membros da
Comissão de Direitos Humanos da ONU é política, apenas opinião política, e não
tem efeito vinculante em nossa ordem legal. Aqui dentro, a estratégia funciona
porque Lula sabe, mais do que qualquer outro candidato, que a maioria do
eleitorado brasileiro é formada por gente pobre e miserável, analfabetos
funcionais espalhados nas cidades e no campo, nas escolas e universidades,
fáceis de convencer, para quem sabe escrever roteiros, de ficção política. Lá
fora, o que se fixou na opinião pública é a informação, propagada no passado,
de que o líder popular conseguiu incluir uma massa significativa de pobres no
mercado de consumo, retirando muitos do patamar da fome . Com tropas e oficiais
em todos os quadrantes da sociedade e do estado, dentro do mato e no asfalto,
encarna, nas sociedades afluentes, o mito anglo-saxônico do Robin Hood da
floresta.
Por aqui, os corvos de arribação estão aproveitando a
festa dos bichos no céu azul anil do Brasil e se empoleiram nos galhos da selva
eleitoral, observando a ronda das raposas e a dança dos lobos, na manipulação –
usual nessa época de indefinições- do câmbio, da bolsa e das incertezas, para
talvez assustar e tentar manter no poder a mesma turma de sempre, de Belém a
Porto Alegre. Lula, claro, pretende desqualificar a legitimidade eleitoral, em
todos os quadrantes do globo, caso não consiga aprovação do STF para sua
candidatura. Exatamente o mesmo que pretende Bolsonaro com a antecipação de
suspeitas sobre as urnas eletrônicas do TSE, tão alardeadas por seu candidato
assistente, o Cabo Daciolo. Tudo faz parte de um roteiro muito preciso, escrito
no fogo do inferno, onde gargalham e acendem charutos os profissionais da
macumba política e judiciária nacional.
Miguel Gustavo de Paiva Torres é diplomata.