Por Renato Sant'Ana
Pode um partido político tomar conta de uma escola de
samba e utilizar o carnaval para fazer campanha? Será honesto usar o esforço da comunidade para
promover um candidato? E vale uma escola quebrar a tradição e desfilar sem
samba-enredo?
O carnaval porto-alegrense de 2020 já é destaque negativo
no Brasil: a Escola Império da Zona Norte entregou-se a uma ideologia. E, ao
que parece, a comunidade, que fundou e mantém a entidade, será usada para
promover um candidato. Em vez de carnaval, a escola vai fazer campanha
política. Em vez de samba-enredo, vai cantar um gingle de campanha.
Com o pretexto de homenagear o petista Olívio Dutra, a
Império da Zona Norte vai à passarela cantando versos como "O bolso não te
representa não, não!/ Ele não te representa não!" Haverá alguém tão
incapaz que não saiba a quem vai a farpa e não perceba a malandragem da letra?
E vem o principal: "A cada passo, a cada beco, rumo
ao Paço/ Reúne sonhos numa frente popular", diz o gingle, insuflando a
campanha para que a Frente Popular (leia-se PT) volte ao paço municipal, ou
seja, pegue outra vez a boquinha da prefeitura. Está lançando o candidato!
"No fio do bigode, Olívio é revolução", diz com
ufanismo o último verso, apresentando como herói um Olívio que, conhecendo a
roubalheira do PT, não caiu fora, não se rebelou. E, na empolgação do
samba-gingle, ele é chamado a fazer "do vermelho lança erguida".
Antecipação de campanha?
A lei proíbe, mas os vivaldinos antecipam a campanha
eleitoral com a desculpa esfarrapada de que o samba-gingle não fala no PT e
que, na letra, "frente popular" está em minúsculas. A escola só quer
- dizem - homenagear Olívio, desrespeitando o caráter plural da comunidade.
Daí, há pessoas com história na escola que estão muito
incomodadas: não queriam que a Império da Zona Norte virasse aparelho petista.
Sem falar daquelas que veem o PT como grife da corrupção e querem o vermelho
longe do paço municipal e fora do cenário brasileiro.
Cartas marcadas?
Com imenso sacrifício, todas as escolas buscam fazer o
melhor, sonhando com o título de campeã do carnaval. Ninguém quer ser só
figurante. É natural, pois, a desconfiança das demais quanto a um "jogo de
cartas marcadas". Quem pode garantir que o júri vai ser imparcial?
Algumas frases definem a ética da coisa. Em 2013, Dilma
falou: "Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição." Lula,
2014: "Eles não sabem do que nós seremos capazes de fazer (...).". E
Dilma, 2018: "A gente fará aliança até com o diabo para combatê-los."
Se o PT comprou até empreiteiros, como confiar que não
tentaria o mesmo agora para associar sua imagem à de uma escola campeã?
Nenhuma entidade carnavalesca deveria servir a um partido
político. A Império da Zona Norte erra, pois, ao fazê-lo. Podendo levar zero no
quesito samba-enredo. A menos que... Bem, o público está de olho...
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail: sentinela.rs@uol.com.br
quanto a escola vai ganhar?
ResponderExcluirquanto a escola vai ganhar?
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