Artigo, Pedro Lagomarcino - A psicodelia dos imbecis

- O autor é advogado, Porto Alegre.

Um estojo de canetinhas (com uma especial para apagar as cores) é o típico produto retrô que melhor traduz a psicodelia dos imbecis.
Ela funciona assim: é levada a efeito, não raras vezes, através de “chiliques” por quem externa uma certa “vocação” para não ter certezas; por que tem apreço por “colorir” mapas geográficos de uma cor e, da noite para o dia, decide que a cor recentemente “pintada”, embora ainda exale “o frescor da tinta”, deva ser “repintada”; ou de parte de quem ainda aceita, “com a valentia de um capacho”, que tal medida possa ser crível para impactar de forma positiva em algum cenário. A psicodelia dos imbecis é reticente; é titubeante; é cheia de melindres e suscetibilidades inconfundíveis; é externada com discursos que fazem volume, mas que na prática são dissolvidos, ora pelos fatos, ora pelo empirismo excessivo, ora pela inconsistência de conteúdo e, notadamente, flutua entre a oratória do faz de contas, a mixórdia, a inconsequência, a irresponsabilidade, ao despreparo, ao sarcasmo, a gaiatice, porque via de regra, é a constatação da inépcia.
Verdade seja dita, ela não afeta apenas aos imbecis que estão no poder e possuem mandato. Embora eles sejam muitos, fato é que há incontáveis imbecis sem mandato ou poder algum.
De um lado da moeda, no que concerne a ala dos políticos que “vivem” da política, ou seja, aqueles que fazem dela suas “profissões”, já de há muito se sabe que pouco ou nada se pode esperar.
Ora veja, aos(as) que ainda não acordaram, estamos no Brasil, senhores(as)!
A ala dos políticos tem “chiliques” quando é questionada ou cobrada. Diz respeitar as decepções de quem lhes questiona e, na mesma via, por incrível que pareça, tem o despeito de lamentar a ignorância de quem lhes contesta, como se tal lamentação viesse de quem pode lecionar sobre o assunto, com propriedade, a iniciar pelos seus próprios exemplos.
A ala de políticos “profissionais”, de há muito, e em tempos de pandemia ainda mais, se “dedica”, com expansividade e saliência, às “lives”, obviamente, ou para fazer mitagens, ou para fazer lacrações de toda ordem, com o intuito de viabilizar, através da reeleição, seus projetos pessoais de recondução ao poder e nada mais que isso. A equação é óbvia: o número de tietes ou bajuladores on-line pode ser proporcional ao número de votos que se espera ter nas urnas. E, exatamente, por isso, a “dedicação” dada as “lives”, sem as mínimas noções do que seja a impertinência, pode “gerar insalubridade” em quem tem o mais elementar discernimento. Aliás, quem tem algum discernimento, exatamente, a estas “lives” é que declina de assistir, uma vez que são excepcionalíssimas, se é que existiu, alguma realizada em que se tenha demonstrado ações consistentes, dignas da altivez, ou de proposições concretas e edificantes, em prol do bem comum. Infelizmente, a intensidade de “dedicação” para tais “lives” é inversamente proporcional os projetos de impacto elaborados e apresentados. Isso para não se falar que quando algo se produziu e se apresentou de fato, ao longo de um mandato inteiro, foi ou qualitativamente ou quantitativamente inexpressivo.
Impõe-se questionar:
- Qual será a próxima “a cor da canetinha” que este ou aquele governante escolherá para “pintar” a próxima “bandeirinha”, ou a próxima “plaquinha” do mapa do Estado ou da cidade que administra?
- Quem será o próximo Ministro, ou Secretário (seja de Estado, seja de município) a ocupar o cargo, pasmem, em plena pandemia, com alternância e volatilidade que ultrapassam o bizarro, para ser ungido como o Sassá Mutema Salvador da Pátria que seu superior revelou não conseguiu ser? E por quanto tempo resistirá?
- Houve efetiva construção de hospitais no país, em Estados e em municípios, para acolher e tratar os cidadãos que testaram positivo para o COVID-19? Essa construção teve a mesma “celeridade” que receberam as construções e as reformas de estádios para a Copa do Mundo?
- Houve, de fato, o aproveitamento efetivo de toda rede hospitalar, para acolher e tratar os cidadãos que testaram positivo ao COVID-19?
- Como andam, por exemplo, as ações do poder público, para realizar barreiras efetivas de vigilância sanitária, por óbvio, a iniciar pelas vias de acessos de entrada e saída em todas as cidades do país, bem como em bairros menos abastados economicamente, uma vez que é a população economicamente desfavorecida que tem menores condições financeiras, para adquirir produtos como máscaras, álcool gel e luvas, dado o orçamento doméstico reduzidíssimo que possuem, ainda mais em tempos de pandemia, haja vista que em muitos Estados e cidades são impedidas direta ou indiretamente de trabalhar?
- Como andam, por exemplo, as ações do poder público, com a segurança dos agentes de saúde, que tem de sair a campo, de casa em casa, bem como em relação a contratação suficiente de mais agentes, para que possa ocorrer uma atuação em massa, diminuindo os riscos de parte de quem atua e com maior efetividade para quem será atendido?
- Como andam, por exemplo, as ações do poder público, com a segurança de todos profissionais, técnicos e trabalhadores diretos e indiretos na rede de saúde pública? Será que eles possuem condições, equipamentos básicos de proteção condizentes, para atuarem de forma segura, a bem de que possam salvar, sem colocar em risco as próprias vidas?
- Como andam os programas, os projetos, os planejamentos, os indicadores e os monitoramentos de tais indicadores, no que concerne a execução de ações efetivas na área de saúde, nesse contexto todo? Eles existem? E as contenções de circulações das áreas urbanas? Estas ações do poder público não são titubeantes, reticentes, pouco convincentes, alternando-se dia e noite, abruptamente, conforme o ânimo de quem quer “colorir” os mapas para “mostrar algum serviço”, ora flexibilizando suas próprias medidas, sem critérios minimamente aceitáveis, para este ou para aquele segmento, ou para esta ou para aquela atividade, a fim de não desgastar a própria imagem perante a opinião pública, mais do que já se encontra desgastada?
- Como anda a aplicação de recursos públicos em investimentos na área de saúde, para o bem geral da população nesse contexto? Esta aplicação está sendo realizada de forma efetiva, a iniciar pela compra de respiradores, da construção de alas ou de mais leitos para atender as demandas da pandemia, ou os recursos públicos estão sendo retirados dos fundos de saúde, para serem “alocados”, de forma proposital e abjeta, em compras de câmeras, vídeos e pagamento de agências de publicidades, para fazer marketing político já visando as eleições que se avizinham?
- Como fica, perante a tais questões, a falta de exemplo e de comportamento de autoridades constituídas, para não se imiscuir em multidões, para evitar aglomerações, para usar além de álcool gel, frequentemente, máscaras e luvas nestas ocasiões?
- Será que um cidadão, de pouca ou nenhuma instrução, não teria o poder de lançar um simples argumento, com a letalidade de uma hecatombe, e implodir qualquer medida que representantes eleitos queiram realizar, ao indagar por que deve usar máscaras, se muitas destas autoridades constituídas, quando aparecem em público, não as usam e ainda as tiram diante das câmeras em meio a toda imprensa ao darem entrevistas?
- A ala de “políticos profissionais” quer nos fazer crer que tudo está sendo feito diante destas simples interrogações?
Nesse contexto todo, algo é cartesiano, o que seja, os números de pessoas que testaram e vem testando positivo para o COVID-19 só aumenta, assim como só aumenta o número de óbitos em razão do próprio COVID-19.
A curva, nem de longe, acena para dar sinais que irá diminuir.
E o tal achatamento da curva, francamente, não passa, na atual realidade, de uma ilusão.
Por trás de tudo isso, um discurso ideológico e eleitoreiro, nitidamente perceptível e repugnante. Uma pauta surrada, desgastada e obsoleta para saber quem tem a razão, se a esquerda, se o centro, ou se a direita. Nesse contexto, há de ser dito, quem conhece, minimamente, um pouco de história geral, sabe muito bem, qual ideologia destruiu nações e de que forma, deixando tudo por onde passa reduzido às cinzas. Ponto. Todavia, há de se reposicionar o problema dentro de seu contexto, rechaçando-se o deslocamento dos holofotes, em plena pandemia, para a politicagem de 5ª classe, através de discursos estéreis que não levam a lugar algum.
De outro lado da moeda, se a ala dos “políticos profissionais” é de todo conhecida, o que me causa espécie ainda maior, é a ala dos que não estão no poder e não possuem mandato algum, mas que apenas reclamam, como se a vida fosse um muro de lamentações, para que logo “aqueles”, sim, pasmem, exatamente, “aqueles” que fazem da política uma “profissão”, venham a “fazer alguma coisa” e “nos salvar”. Em meio a estes que só reclamam, grande parte apenas aparece, de 4 em 4 anos, para votar e escolher seus representantes eleitos. No entanto, ao longo deste mesmo tempo, hibernam e deixam o exercício da cidadania dormindo em berço esplêndido, achando que o simples voto, sem caminhar par e passo com o exercício constante e vigilante da cidadania, mudará algo em suas vidas. Em meio aos ecos de um quadriênio ecoante de silêncio, não tenho dúvidas, muito veremos a cidadania ser dissolvida ainda mais, pelo exercício facebookiano, destes que apenas “se dedicam” a reclamar, revelando que “a coragem de leões” de redes sociais, se traduz pelo silêncio ensurdecedor da omissão, da apatia, da indiferença e da conivência, próprio de quem se nega a assinar o nome no mais simples abaixo-assinado e, com as mesmas certezas, rejeita realizar uma representação, ao ter informações e provas, para que as autoridades constituídas possam, de fato, tomar medidas cabíveis para coibir, com contundência e efetividade, ilegalidades e inconstitucionalidades imensuráveis em atos administrativos que ocorrem, Brasil afora, como a improbidade administrativa, o abuso de poder, o abuso de autoridade, os desvios de finalidades, o peculato, o tráfico de influência, a corrupção e a formação de Organizações Criminosas que se nutrem, através de seus integrantes, por achaques ao Erário. A estas práticas hão de ser (des)considerados os que já se acovardaram, mesmo possuindo saúde, quando decidiram não mais votar, querendo mudanças, sem exercer a possibilidade de mudar que o voto lhes dá.
Isso sem falar dos que tenham ou não mandato, sejam ou não representantes eleitos, seguem com apreço para descumprir cuidados básicos de proteção, amplamente divulgados por autoridades idôneas de saúde, e seguem, por força do bizarro, não fazendo uso de máscaras, circulando livremente, como se nada houvesse afetado a humanidade inteira, e ainda frequentam aglomerações, churrascos, festas, patuscadas, patacoadas e por aí vai. Não é de se duvidar que se a ocasião lhes convier, terão o despeito para falar sobre empatia.
A psicodelia dos imbecis constrange, é imensa e começo a ter fundadas certezas que corre o risco de ser invencível.
Temo apenas, que os imbecis se proliferem mais que o COVID-19, em especial, em relação ao número dos que querem, por força do inacreditável, transformar suas vidas em uma “profissão política” ao ascender ao poder “para se dar bem”, bem como dos que não tem a mínima capacitação, ou o mínimo preparo, para desenvolver e propor medidas para resolver e, tanto uns quanto outros,  quando “testados pelos ventos, pelas ondas e pelas tempestades”, já renderam homenagens a inexistência ou ao impossível.
Se meu temor estiver certo, as “fábricas que produzem canetinhas” esgotarão os estoques e a demanda será tanta, dado ao excesso de “pintores vocacionados” pelos traços da psicodelia dos imbecis, que este produto, tão necessário ao lúdico, entrará em falta.

3 comentários:

  1. Até com dois neurônios é possível.

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  2. Pois bem! Com a indevida vênia, modestamente e humildemente me prostro pedindo ao autor desse testículo, que perdoe-nos, os imbecis sem cargo político, isso porque, somos um povo cevado à la Paulo Freire, creio que isso define e explica tudo.

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