Esta é um fábula brasileira. Pura ficção.
Estava, em Foz de Iguaçu, ao pé da “Garganta do Diabo”, um pequeno cordeiro mitigando sua sede quando ouviu o reboar de um lancinante grito proveniente do topo da gigantesca queda d’água.
Forçando sua vista enevoada pela neblina criada pela turbulência formada pelas dezenas de milhões de litros de água que despencam a cada segundo desde 80 metros acima de sua cabeça, viu, nada surpreso, uma gigantesca alcateia que, com os olhos injetados pelo sangue que lhes fervilhava nas veias, um grito aterrorizador: “Por que você está sujando a água que queremos beber” (Cur turbulentam fecisti nobis aquam bibenti?)?
Surpreso, completamente confuso e desorientado, o pequeno cordeiro chegou a temer que talvez Lula tivesse realmente razão quando tentou explicar que, devido à forma esférica do planeta, poderíamos sufocar com a poluição produzida pelos japoneses quando passássemos “lá embaixo”, (https://www.youtube.com/watch?v=baqmC2Z2ITY), agarrou-se às rochas que o circundavam com medo de cair para cima da queda d’água, e gritou:
- Senhoras raposas, parece-me que a água flui de vocês para mim e não o contrário. Como posso estar sujando a água que as senhoras querem beber?
- Não somos raposas, cordeiro imbecil. Somos lobos e você está sujando a nossa água.
- Mas não existem lobos vermelhos, replicou o manso cordeiro!
- Somos lobos vermelhos (Canis rufus) sim e não raposas vermelhas (vulpes vulpes), e estamos aqui no lado argentino onde tudo praticamente já se tornou igualmente vermelho.
Aquietou-se o coração do cordeiro. Afinal, lobo vermelho tá mais pra coiote do que pra lobo de verdade além de se tratar de uma espécie praticamente em extinção. “Se me mantiver firme por mais algum tempo, estas desprezíveis criaturas acabarão sendo extintas e pararão de perturbar aqueles que simplesmente querem viver suas vidas em liberdade.
- Nós somos a autoridade e, portanto, você será condenado!
- Como assim, condenado? Não seria necessário antes ser julgado?
- Estás por fora, retardado borrego. Nós acusamos, julgamos, condenamos e executamos. Hoje tudo está mais ágil e modernizado.
- Mas quem foi que mudou a Constituição e o código de processo penal?
- Fomos nós mesmos apoiados pelos legisladores que se encontram aqui conosco igualmente alucinados para mitigar sua sede insaciável!
- Forçando mais um pouco a vista, o cordeiro vislumbrou em meio à alcateia, deputados, senadores, artistas prostrados em convulsões devido à síndrome de abstinência monetária, pseudo intelectuais, jornalistas papagaios de tudo o que seus sinhôs lhes mandam repetir ininterruptamente, representantes de ongs ambientalistas do subsolo amazônico e um sem-número de pigmeus morais lobotomizados.
Danei-me pensou o cordeiro. Ou eles caem sobre mim, ou eu caio para cima segundo a lei de Lula quando passarmos lá embaixo da terra, ou eles poluem a água e me envenenam ou, pior ainda, roubam a água transformando a fantástica cachoeira em um desértico paredão para competições de rapel.
Tentando salvar o parque ecológico e entrar em acordo com a matilha ensandecida, o cordeiro arriscou uma última proposta:
- Quem sabe eu deixo de beber água na corredeira e vou saciar minha sede no lago de Itaipu que é abastecido por outro rio de onde não poderei sujar a água de vocês?
- Negativo, mísero ser lanudo. Já decidimos que és culpado de genocídio e, portanto, tens que ser exterminado.
Lembrando do Ednaro que afirmou que eles são muitos, mas não podem voar, o cordeiro se viu obrigado a tomar a única e última ação ao seu alcance: enquanto eles não descem para me pegar, vou implodir as cataratas com todos eles juntos.
Só exterminando essa raça de canalhas poderei, em algum dia num futuro distante, voltar a pensar em poder beber água em paz e liberdade, concluiu
Enquanto estiverem soltas por aí esta cambada de raposas travestidas de lobos, ou lobos com hábitos vulpinos, ou bandidos disfarçados de marginais, sem chance.
Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial, Diretor da FJacques – Gestão através de Ideias Atratoras e autor do livro “Quando a empresa se torna azul – o poder das grandes ideias”.