Você, que me lê agora, se considera uma pessoa tolerante? Ou, ao contrário, intolerante? Eis uma questão central quando o debate filosófico busca achar racionalidade em situações que acabam definindo os destinos de alguém. Ou de uma nação! Muito já se discutiu e escreveu a respeito através dos tempos. Benedetto Croce, filósofo italiano do século XIX( 1866- 1952), autor entre outras obras da Filosifia do Espírito, alegava que " no rol dos tolerantes nem sempre estiveram os espíritos mais nobres e heróicos". Ser tolerante, de antemão (é o que se deduz), não significa e nem traduz uma virtude a ser comemorada. Vejam bem! Como pode ser virtuoso o que tolera, se conforma ou sequer manifesta indignação contra a corrupção e os desmandos sendo perpetrados, diariamente, no tecido social brasileiro, por exemplo? Ou contra a mentira e a avassaladora máquina de destruir reputações usada contra gente que unicamente discorda de um ponto de vista ou expressa opinião sobre o que for? Não é esse o quadro escancarado posto diante de nós, que ao fim e ao cabo fizeram este país mergulhar no atual caos institucional que se encontra? Croce, na obra referida, bem distingue essa tolerância negativa e altamente " corrosiva", daquela que denomina "positiva", em geral quando, segundo ele, se relaciona à raça, religião, escolhas pessoais. Somos pois, por essa análise, tolerantes demais quando deveríamos, isto sim, adotar a postura implacavelmente intolerante. Esse é o drama que hoje vivemos e que nos encaminhou para a atual encruzilhada civilizatória que tanto nos perturba como nos desafia. Somos uma sociedade frágil intelectualmente, destituída de qualquer sentido de ordem institucional e seduzida, ingenuamente, por qualquer aceno que nos aponte o "resguardo" de nossa consciência. Uma sociedade, no fundo, que se presta muito bem a terceirizar os destinos de sua própria alma. Por pura leniência e falta de amor próprio.
- Sílvio Lopes, jornalista, economista e palestrante sobre Economia Comportamental.
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