Artigo, Gilberto Jaspers - As marcas no centro de Porto Alegre

Jornalista/gilbertojasper@gmail.com_

        Ao contrário de muitos amigos, gosto do centro de Porto Alegre. Trabalhei por décadas - e ainda trabalho - no coração da Capital, mas a minha paixão não é do tipo “cega” porque permite vislumbrar problemas crônicos, cuja solução não depende apenas do poder público.


       Um exemplo da necessidade de trabalho coletivo envolve a limpeza de ruas e calçadas. Causa indignação assistir equipes do DMLU/Cotravipa dando duro para manter a Rua da Praia “nos trinques”. Mas minutos depois, o mesmo trecho, recém-limpo, torna-se uma lixeira a céu aberto. Por absolta falta de educação, conscientização e compromisso com a cidade de todos nós.


          Depois de pouco mais de um ano de ausência voltei a trabalhar nas imediações da Usina do Gasômetro, quase na esquina com a Avenida Mauá. Para minha locomoção uso lotação. Também costumo almoçar na zona central e, depois, tomar um cafezinho com os colegas. Isto significa que circulo bastante. Isto permite localizar falhas, flagrar avanços e detectar oportunidades de melhorias.


          Uma das “novidades” neste retorno ao centro se refere às marcas que a enchente deixou em inúmeros prédios. Na avenida Andradas, principalmente entre a Esquina Democrática até a Usina do Gasômetro, os impactos da cheia persistem. Esta paisagem motivou um civilizado debate com amigos numa mesa de bar. A polêmica envolvia a conveniência de apagar as manchas escuras dos imóveis. Deveriam permanecer, para eternizar a advertência sobre a necessidade de investir em prevenção ou serem limpas para minimizar o sofrimento de tanta gente.


          O imaginário popular consagrou a noção de que situações de dor ensinam mais que otimismo, bem aventurança e alegrias. Esta era uma das teses de parte dos amigos da confraria. Outros, porém, argumentavam com o trauma das chuvas que destruíram vidas e patrimônios.


          O centro de Porto Alegre está longe do ritmo que vicejava até abril. Há muitos prédios fechados, outros com placa de “aluga-se” ou funcionam com geradores ou estão sendo reformados. O retorno aos “bons tempos” depende de variáveis que incluem a conclusão das obras estruturais e paisagísticas, além do comprometimento da população na preservação da limpeza e do combate ferrenho às depredações.


          É cedo para afirmar o que vai acontecer. E se as manchas escurecidas da enchente serão apagadas por novos tempos. Mas com certeza permanecerão para sempre em nossas mentes e corações

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