Opinião, Observatório Brasil Soberano - A dosimetria é rendição disfarçada ou vitória: o que está comemorando ?

Quantas vezes já ouvimos isso? “Daqui a uma semana votamos a anistia”. “Nos próximos dias, a pauta entra”. “É prioridade absoluta após o recesso”. Desde o início de 2023, deputados da autointitulada oposição bolsonarista re petem o mantra: a anistia ampla, geral e irrestrita aos condenados pelos atos do 8 de janeiro está logo ali, a um passo, a uma sessão. Promessas feitas em coletivas, nas redes sociais, em reuniões com Bolsonaro – sempre com tom de urgência absoluta. “Não abriremos mão”, diziam líderes do PL em agosto, ao f im do recesso parlamentar. “Vamos insistir na semana que vem”, repetiam em setembro, outubro, novembro. Urgência aprovada... e nada. Adiamentos sucessivos, vistas regimentais, negociações nos bastidores que nunca chegavam ao plenário. E agora, em dezembro de 2025, após tantas pro messas e gritaria por justiça plena, tantos vídeos em redes sociais em busca de cliques, a mesma oposição comemora efusivamente a aprovação na Câmara do PL da Dosimetria – uma mera redução no cálculo de penas, sem anistia, sem perdão, sem liberação automática. Essa tal dosimetria permite redução de pena para quem agiu em multidão sem liderança ou financiamento. Migalhas negociadas nas sombras por Paulinho da Força, Michel Temer e Aécio Neves – figuras jurássicas da velha política. A oposição que posava de intransigente aceitou o “possível”, transformou rendi ção em “conquista heroica” e foi às redes celebrar: “Vitória! O povo preso passa o Natal em casa!”. Que ilusão cruel e irresponsável. Essa “vitória” ainda nem é lei. O projeto segue para o Senado, onde o relator Esperidião Amin apresenta parecer só na próxima semana, dia 17, na CCJ – com resistências já anunciadas e risco de emendas ou vistas que empurrem tudo para 2026. Se passar, vai à sanção de Lula, cujos aliados sinalizam veto total ou parcial. E mesmo se virar lei, nada de automático: advogados terão que pleitear revisão caso a caso no STF, que pode reinterpretar, demorar anos ou negar aplicação retroativa plena. Enquanto isso, o sofrimento real não cessa na espera da tramitação. Pessoas simples, que não usaram de violência, em um golpe sem armas, sem exército nas ruas, sem liderança, enquadradas em crimes absurdos, com penas despro porcionais, pelo mesmo sistema que ainda vai avaliar os descontos e vendê-los como “benevolência”. Comemorar isso é validar a injustiça original: aceitar que aquelas pessoas cometeram crimes gravíssimos e agradecer aos injustos por uma redução meia-boca. A pecha de criminosos ficaria eternizada. Essa oposição que posa de guerreira, é a mesma que ignorou ou ridicularizou o esforço de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos – o homem que articulou e expôs internacionalmente os abusos. A tal dosimetria também pode atrapalhar todo o trabalho feito por ele. Donald Trump deixou claro desde o início: cessem os abusos e perseguições e contem conosco. O que irão pensar após esse grande faz de conta celebrado como vitória? E tem mais: a “vitória” também não muda em nada o sofrimento das centenas de exilados no exterior. A autointitulada oposição bolsonarista, que parece mais preocupada em garan tir os votos em 2026, fala muito e entrega pouco – ou quase nada. Quem comemora rendição, não engana quem está prestando atenção no jogo. E quem está prestando atenção, não engole conversa fiada nem trai ção disfarçada

Nenhum comentário:

Postar um comentário